João Filgueiras Lima, o Lelé, deixa um dos maiores legados à construção civil do país. Contemporâneo de Niemeyer, ele também se dedicou ao concreto
Por: Altair Santos
Lúcio Costa – responsável por projetar Brasília – definia Oscar Niemeyer como o “criador” e João da Gama Filgueiras Lima, o Lelé, como o “construtor”. Foi essa tríade de arquitetos que tornou possível o sonho de erguer a capital federal no centro do Brasil. Pois no dia 21 de maio de 2014, o único dos três que ainda estava vivo veio a falecer – vítima de câncer. João Filgueiras, 82 anos, foi pioneiro no país na adoção de sistemas construtivos industrializados. Não é à toa que o definiam como o “pai do pré-fabricado de concreto“.
Lelé entendia que o pré-fabricado aceleraria o progresso do país e atenderia as altas demandas que o Brasil ainda tem em construções de escolas, hospitais, habitações e outros equipamentos comunitários. Porém, tinha consciência de que seu ideal estava longe de ser alcançado. “O Brasil ainda deve muito à industrialização na construção. O que ocorre é o seguinte: embora haja uma demanda grande em termos de obras habitacionais, escolas e prédios na área de saúde, o investimento é muito pequeno em processos industriais”, disse em entrevista concedida ao Massa Cinzenta, em abril de 2012.
O arquiteto desenvolveu sua tecnicalidade com pré-moldados em cursos que realizou no Leste Europeu nos anos 1960. Foi quando estava construindo a Universidade de Brasília (UnB) sua primeira experiência com a industrialização da construção civil. Já nos anos 1970, iniciou a série de projetos para a Rede Sarah de hospitais, que até hoje é uma de suas obras mais marcantes.
Também neste período, João Filgueiras criou em Salvador-BA a Fábrica de Equipamentos Comunitários (FAEC). O objetivo era oferecer soluções inovadoras para as cidades, atendendo, principalmente, construção de creches, escolas e postos de saúde. A tecnologia desenvolvida por ele prometia erguer um equipamento desses em até 15 dias. Sem demanda do poder público, a FAEC durou apenas três anos.
Referência à arquitetura
Para Haroldo Pinheiro, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), Lelé era um profissional comprometido com a dimensão ética da arquitetura e colocou sua arte de projetar e construir a serviço, sobretudo, de obras públicas em programas sociais. “Por falta de uma cultura arquitetônica maior, o país talvez não tenha conhecimento exato dos méritos dele, do quanto ficamos empobrecidos culturalmente nesse momento. É uma perda que ocorre justamente quando a sociedade exige cidades com espaços e equipamentos coletivos de boa qualidade, que era o que João Filgueiras propunha”, afirmou.
De acordo com Thiago de Andrade, presidente da regional do Distrito Federal do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) a morte de Lelé deixa uma lacuna na área de soluções arquitetônicas, principalmente para a saúde.”Os hospitais da Rede Sarah são faces do Brasil das quais nos orgulhamos. A beleza, a dignidade e o amplo aspecto de soluções integradas, a humanização dos espaços sem concessões ao luxo, torna-os, por isso mesmo, objetos ímpares e um necessário estudo de caso para hospitais do mundo inteiro”, comentou, finalizando: “Lelé foi uma escola.”
Confira aqui entrevista concedida por João Figueiras Lima ao Massa Cinzenta
Entrevistados
Presidentes do Conselho de Arquitetura e Urbanismo e do Instituto de Arquitetos do Brasil, regional DF, Haroldo Pinheiro e Thiago de Andrade
Contatos
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Créditos Fotos: Divulgação/Joana França