Japão faz concreto substituindo areia por cinza vulcânica
Pesquisa da Universidade de Tóquio foi colocada em prática por construtora especializada em projetos de casas
Com o auxílio de pesquisadores da Universidade de Tóquio, uma construtora japonesa especializada em projetos residenciais passou a substituir o concreto armado convencional por um concreto alternativo. O material usa cinzas vulcânicas da ilha de Kyushu, no sul do Japão – um recurso natural disponível em grandes volumes na região -, em vez de areia como agregado fino.
Antes de testar o concreto em obras, os pesquisadores realizaram vários ensaios em laboratório, durante 1 ano. O que inspirou o estudo foram as experiências romanas de 2.000 anos atrás. “Os construtores do Império Romano usaram cinzas de fluxos piroclásticos em estruturas de concreto como o Panteão, há 2.000 anos, o que nos inspirou a criar uma versão japonesa”, diz Yasuhiro Yamashita, arquiteto-chefe da construtora Atelier Tekuto.
Na ilha de Kyushu, as erupções têm um fenômeno chamado de fluxo piroclástico, que mistura gás quente, matéria vulcânica, cinzas e fragmentos de rocha. Isso gera um agregado mais consistente que a areia, dizem os pesquisadores. “Conseguimos um concreto de alta densidade, além de grande capacidade de absorção e reação pozolânica natural. Isso o torna particularmente forte e durável”, explica o engenheiro.
Outra razão para o uso do concreto alternativo é que a areia de rio está cada vez mais escassa no Japão e a importação também é restrita. Além disso, o país estuda banir o uso de areia de origem marítima nas construções. Por isso, tanto a construtora que incentivou a pesquisa quanto a Universidade de Tóquio retiraram o sigilo do estudo para que outros construtores possam utilizar o concreto alternativo.
Casal de médicos estimulou a reativação da pesquisa e o uso prático do concreto inovador
Os dados estão na plataforma digital Rede Regional de Utilização de Material (RMUN). “Estamos convictos de que o concreto Shirasu (nome com que o material foi batizado no Japão) pode trazer grandes benefícios econômicos para a região”, avalia Yasuhiro Yamashita, que ao procurar a Universidade de Tóquio desengavetou uma pesquisa que havia iniciado nos anos 1990, mas não avançou. Na época, o principal objetivo do estudo era encontrar um substituto para o uso de areia do mar em obras.
Em 2006, a prefeitura de Kagoshima lançou o “Manual para projeto e construção do concreto Shirasu com agregado fino vulcânico”. Porém, não houve avanços. A pesquisa foi reativada em 2016, quando um casal de médicos bioquímicos procurou a construtora Atelier Tekuto e propôs um projeto de casa em concreto aparente, mas com baixa emissão de CO2. “Eles queriam uma peça desafiadora de arquitetura que não agredisse o meio ambiente. Com a ajuda de engenheiros e arquitetos recuperamos o estudo e conseguimos viabilizá-lo”, responde Yasuhiro Yamashita.
Ao mostrar a viabilidade de um concreto mais sustentável, o arquiteto e sua equipe ganharam três prêmios internacionais: o WAN Concrete, concedido pelo Japan Concrete Institute; o excelência em construção, do American Concrete Institute, e o concretos especiais, da fib (Federação Internacional do Concreto). Por causa de sua resistência (em torno de 20 MPa) o concreto desenvolvido no Japão tem sido usado apenas na construção de casas com até dois pavimentos. Desde a sua aplicação prática, o material já foi usado em mais de 20 projetos de residências em Tóquio e região.
Entrevistado
Construtora Atelier Tekuto (via área de comunicação)
Contato
info@tekuto.com
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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