Falhas estruturais: impactos ocultos dos desabamentos e a contribuição da engenharia preventiva

Corrosão das armaduras, fissuras internas, recalques diferenciais e falhas em pilares estão entre as principais ameaças às estruturas

Quando uma construção desaba, um teto cede ou uma ponte entra em colapso, o foco recai sobre os impactos humanos e os prejuízos financeiros imediatos. No entanto, existe uma dimensão menos visível, frequentemente mais complexa e duradoura. São os custos invisíveis ou indiretos, constituídos por perdas ambientais, danos ao patrimônio cultural, riscos à segurança de moradores, transeuntes e trabalhadores, além da perda da confiança pública na engenharia e nas instituições responsáveis pela fiscalização e garantia da integridade estrutural das construções. 

Segundo o engenheiro civil Gilberto Luiz, especialista em patologia das obras civis e diretor técnico da Ad Fiducia Avaliações e Perícias de Engenharia, escondido atrás dessa primeira impressão, pode existir um custo silencioso, que às vezes é muito maior e passa despercebido. “Cada metro cúbico de concreto ou quilo de aço perdido carrega a energia gasta na extração, transporte, fabricação e descarte. O impacto ambiental é enorme e raramente é considerado”, afirma.

Esses efeitos se multiplicam quando o acidente envolve edificações históricas. “Quando a tragédia atinge um patrimônio histórico, somam-se perdas culturais irreparáveis e danos à memória coletiva”, completa o engenheiro.

Prejuízos que vão além do visível

Casos emblemáticos ajudam a dimensionar o problema. Luiz cita, por exemplo, o colapso de um galpão industrial de 5 mil m², em 2010, que interrompeu a produção de 18 centros de usinagem e causou perdas acima de US$ 30 milhões. “Esse valor ainda não inclui o impacto ambiental, as perdas culturais nem a perda de confiança pública na engenharia”, diz.

Segundo o especialista, um desabamento, mesmo de pequena escala, afeta a economia local, pode interromper o comércio e abala a segurança da população. “Desabamentos de casas e edifícios resultam no comprometimento de investimentos de vidas inteiras, além de danos psicológicos e sociais difíceis de mensurar”, explica.

Lições de tragédias que mudaram leis

Os grandes acidentes, no Brasil e no mundo, frequentemente se tornam marcos regulatórios. “Foi assim em Nova Iorque, em 1979, quando a morte de uma jovem atingida por fragmentos de fachada levou à criação do primeiro programa de inspeções periódicas de fachadas”, relembra Luiz. Mais recentemente, em 2021, o desabamento de um edifício em Miami impulsionou regras mais rígidas para prédios na Flórida.

Já no Brasil, a queda da marquise de uma loja em Porto Alegre, em 1988, motivou a criação da primeira lei de inspeção obrigatória de marquises. Já o colapso do teto da Igreja do Ouro, em Salvador, no início de 2025, reacendeu o debate sobre a preservação de templos históricos. “Cada episódio cobrou um preço alto e mostrou que a prevenção é menos custosa do que a reconstrução após a tragédia”, reforça o engenheiro.

Diagnóstico e manutenção: pilares da segurança

Ultrassonografia, georadar, termografia, análises químicas e microscopia são tecnologias de diagnóstico avançado
Crédito: Envato

Para Gilberto Luiz, evitar falhas e desabamentos não depende apenas da execução robusta de uma obra. “Tudo começa antes mesmo do concreto ser lançado nas fundações. É preciso projeto bem concebido, dimensionamento correto, materiais de qualidade e controle tecnológico rigoroso durante a execução”, enumera.

Mas o ciclo de segurança não termina na entrega. A manutenção planejada e as inspeções periódicas são indispensáveis para acompanhar a degradação natural dos materiais e impedir que pequenas fissuras evoluam para colapsos. “Conversar com as estruturas é uma atividade indispensável. Essas conversas acontecem nas inspeções, nas revisões de projeto e nas perícias, que ajudam a entender o que as edificações estão tentando nos dizer”, orienta.

Ameaças e sinais

As ameaças, muitas vezes, se escondem dentro das estruturas. “Corrosão silenciosa das armaduras, fissuras internas, recalques diferenciais ou falhas de pilares podem comprometer a segurança sem qualquer sinal visível aos usuários”, explica.

Nesses casos, entram em cena tecnologias de diagnóstico avançado, como ultrassonografia, georadar, termografia, vídeoscopia, análises químicas e microscopia. Esses recursos permitem identificar problemas ocultos, estimar a vida útil residual da estrutura e realizar intervenções antes que as falhas se transformem em tragédias.

A mensagem central, segundo o engenheiro, é simples: a prevenção não é custo, é investimento essencial. “O planejamento correto nas fases de projeto, a execução controlada, o diagnóstico e a manutenção preventiva não são despesas que podem ser descartadas”, destaca. São investimentos em segurança, durabilidade e sustentabilidade.

Essas práticas reduzem riscos, preservam o meio ambiente e protegem vidas. “A engenharia e a arquitetura precisam deixar de reagir apenas às emergências. Devem assumir o papel de proteção à vida e à preservação do patrimônio construído e natural”, conclui.

Entrevistado
Gilberto Luiz é graduado em Engenharia Civil pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), especialista em Patologia nas Obras Civis e Engenharia de Estruturas, diretor técnico da empresa Ad Fiducia Avaliações e Perícias de Engenharia, professor de cursos de pós-graduação e extensão na área de ensaios tecnológicos, inspeção de estruturas e perícias de engenharia, membro do Instituto Catarinense de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape/SC).

Contato
contato@adfiducia.com.br 

Jornalista responsável

Ana Carvalho
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