Independentemente do tipo de obra – residencial, comercial ou de infraestrutura -, o projeto estrutural, e sua execução, é que irá definir o sucesso do empreendimento. O alerta é do professor-doutor da Poli-USP, Paulo Helene, que recentemente participou do 4º Simpósio Paranaense de Patologia das Construções, evento que a Universidade Federal do Paraná (UFPR) promove anualmente. Em sua palestra, Helene deixa claro que a estrutura representa 30% do custo total de uma obra e 100% de sua segurança. “Quando isso não ocorre, marquises caem, prédios caem, viadutos e pontes caem”, destaca.
Em sua participação no simpósio, Paulo Helene listou uma série de obras que tiveram problemas no Brasil e no exterior, por causa de falhas de projeto ou de execução das estruturas. Sobre marquises, o professor-doutor destacou que, na maioria das vezes, elas dão problemas por erros de execução. “Se a armadura é montada na posição errada, ela não terá a ancoragem necessária, apresentará deformação, fissura e ruptura frágil até romper de uma vez. Por isso, as boas leis municipais sobre inspeção de marquises determinam que elas sejam verificadas a cada dois anos”, alerta.
Paulo Helene destaca que problemas de projeto e de execução acontecem em todo o mundo. “O Brasil tem uma engenharia de concreto de primeira linha. Compete mundialmente. E esses erros acontecem até em países de primeiro mundo. Nos Estados Unidos, um edifício em Las Vegas precisou ser demolido quando já estava na fase de acabamento. Motivo: descobriram um erro grosseiro de projeto. Então, eu volto a destacar que engenharia civil é responsabilidade, é conhecimento, é liderança, é visão e é ética”, frisa o professor-doutor, que completa: “Em uma obra tem que ocorrer um matrimônio entre o projetista e o engenheiro-construtor.”
Exercer a engenharia civil é seguir as normas técnicas
Em sua palestra, Paulo Helene lembra que também é papel da engenharia andar ao passo de seu tempo para viabilizar obras. Um caso emblemático citado pelo professor-doutor foi o do Palácio de Convenções do Parque da Gameleira, que em 1971 desabou na fase de construção em Belo Horizonte-MG. Para ele, tratava-se de um projeto muito ousado para a tecnologia da época. “Oscar Niemeyer estava uns 30 anos à frente da engenharia de materiais e da engenharia de concreto. Não havia tecnologia do concreto na época para esse tipo de construção. Mesmo assim, a engenharia atuou perante a arquitetura da mesma forma que um operário da construção civil quando recebe uma missão: eu vou fazer, eu vou fazer. O resultado dessa ousadia resultou em uma tragédia”, diz.
Falando para uma plateia formada em sua maioria por estudantes de engenharia civil, Paulo Helene ressaltou que exercer a engenharia é seguir as normas técnicas. “Qual o papel do engenheiro civil? É encontrar a realidade do projeto, compatibilizar sonhos, realizar expectativas, liderar operários, dar exemplo, saber fazer. Para atingir esses objetivos, a atividade profissional é regida por normas técnicas de projeto, de materiais, de controle e de manutenção. Sempre que ver uma obra fora da norma, o engenheiro precisa intervir para evitar que erros se transformem em danos, acidentes e tragédias”, finaliza.
Entrevistado
Reportagem com base na palestra “Aprendendo com acidentes”, do professor-doutor da Poli-USP Paulo Helene, dentro do 4º Simpósio Paranaense de Patologia das Construções
Contatos
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330