Confiando no Brasil, Itambé projeta mais crescimento
Entrevista com diretor-superintendente da Cimento Itambé, Paulo Procopiak de Aguiar, revela tendências da indústria cimenteira para 2011 e os planos da empresa para os próximos anos.
Entrevista com diretor-superintendente da companhia, Paulo Procopiak de Aguiar, revela tendências da indústria cimenteira para 2011
Por: Altair Santos
A indústria cimenteira do Brasil continuará crescendo em 2011 e enfrentando novos desafios para manter sustentável esse crescimento. A avaliação é do diretor-superintendente da Cia. de Cimento Itambé, Paulo Procopiak de Aguiar. Ele revela que a empresa tem metas ambiciosas para este ano, como acelerar a finalização do Forno 3, que entrará em operação no início de 2012, e atingir a produção de 1,550 milhões de toneladas.
Segundo Paulo Aguiar, mais do que nunca a Itambé fará valer seu lema, que é “Itambé com você, construindo o Futuro”. O diretor-superintendente também analisa que o setor da indústria cimenteira estará ainda mais competitivo e aponta que, para enfrentar a concorrência, a empresa vai investir cada vez mais na qualificação de seus colaboradores. Essas e outras revelações, Paulo Aguiar faz na entrevista a seguir. Confira:
Em sua opinião, quais as perspectivas para o mercado da construção civil e, em particular, para o de cimento nos próximos anos?
Nos próximos dois anos, o mercado é promissor. Fazer previsões mais longas é prematuro, por que depende de como a economia irá se comportar. Há alguns meses, a incerteza era maior, por causa da expectativa em torno das diretrizes de governo e em relação à situação econômica mundial. Tudo isso, obviamente, impacta no setor da construção civil. No entanto, dados trazidos por uma consultoria que presta serviço ao setor, mostraram um cenário animador. Sobretudo, pelo aumento da confiança em relação às ações de governo. Então, caso se confirme esse cenário, a produção de cimento neste ano pode crescer algo em torno de 10%. O Brasil fechou 2010 com a produção na ordem de 59 milhões de toneladas. Numa projeção, significa que dá para imaginar alguma coisa na ordem de 65 milhões para 2011.
O gargalo da infraestrutura é um dos problemas comumente citados por vários setores da economia, como inibidor de um crescimento consistente do país. O que precisa ser feito para resolver essa questão e no que isso impacta no setor da construção civil?
Como minha origem é a engenharia, sinto-me à vontade para dizer que o Brasil vem descuidando há anos de sua infraestrutura. Tem sido lamentável o quadro de investimento público nesta área, e refiro-me aos três níveis de governo (federal, estadual e municipal). Há raras exceções, como o município de Curitiba, que tem feito a sua parte. Onde não se sente uma ação compatível com a necessidade do país é nas esferas estadual e federal. Agora, com os novos empossados, acredita-se numa mudança neste cenário. Eles já reconheceram esse gargalo e estão assumindo compromissos neste sentido. É bom que se frise que não é só uma questão de Copa do Mundo, de Olimpíadas ou de usina Belo Monte. O país precisa repensar seu planejamento a médio e longo prazo. A situação é tão crítica, que se imagina que não há nenhuma possibilidade de o governo não ser reativo a essa questão. Sem isso, o país está perdendo a competitividade em vários setores e pode pagar muito caro a médio prazo. O efeito multiplicador do investimento em infraestrutura é comprovado por estudos há décadas. Portanto, é preciso fazê-lo.
Nessa análise que o senhor fez, como se insere o desempenho do Sul do país. Recentemente, relatórios do SNIC (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento) mostram que a região ocupa o terceiro lugar em consumo de cimento. Há perspectivas de que ela possa crescer e melhorar sua posição neste ranking em comparação às outras regiões brasileiras?
Vale para a região, parcialmente pelo menos, a análise sobre a falta de empenho dos governos em investir em infraestrutura. Ao mesmo tempo, não podemos esquecer que o governo do presidente Lula investiu fortemente no Nordeste. Agora, cabe aos governos da região Sul serem mais atuantes do que os que os antecederam. Ainda assim, não dá para comparar o nível de desenvolvimento da região Sul com Norte e Nordeste. Essas regiões precisam crescer a taxas mais elevadas para diminuir a desigualdade regional. Então, o desempenho do Sul precisa ser analisado em si. Neste aspecto, o crescimento tem sido razoável. Nas crises, a região sofre menos e nos momentos de pujança não se destaca tremendamente. A região avança a um ritmo de crescimento constante, o que é saudável. É preciso avaliar ainda que os programas habitacionais implementados pelo governo passado, e voltados para as classes C, D e E, seguirão em ritmo acelerado, o que também vai ajudar a região Sul, como as demais, a manter seu ritmo de crescimento.
Neste contexto, quais as perspectivas e os planos de crescimento da Cimento Itambé nos próximos anos?
Estamos construindo nosso terceiro forno e estamos com nosso moinho 4 em operação, desde setembro de 2010. A expectativa é de que o forno entre em operação no início de 2012. De modo que, este ano, a nossa meta de produção de cimento é de 1,550 milhões de toneladas. Isso representa praticamente 100% de nossa capacidade instalada, que, a partir do ano que vem, com o novo forno, crescerá cerca de 80%. Além disso, estamos investindo na linha de produção de ponta a ponta. Na mineração, na nossa instalação de britagem, enfim, em toda a área fabril: desde o recebimento do calcário até a expedição. A Itambé está se preparando para um período de crescimento.
Ou seja, a confiança de que o Brasil manterá uma linha contínua de crescimento é total na empresa?
Sim, porque aos poucos o país está deixando de acreditar em milagres e passando a acreditar em organização e trabalho. É isso que traz resultados. Hoje, o Brasil está menos suscetível à especulação econômica e sinaliza que pode sair da condição de emergente para a de país desenvolvido em uma ou duas décadas. Mas para isso vamos ter de nos estruturar. Neste aspecto, fazendo uma análise política, seria interessante observar o que fizeram os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos, e de Minas Gerais, Aécio Neves. Eles impuseram metas ao seu núcleo de comando e valorizaram a meritocracia e a gestão. Aqui no Paraná, o governador Beto Richa também disse que vai trabalhar com metas e gestão. É uma nova geração de políticos que surge para oxigenar a administração pública e, enfim, mostrar resultados à população.
Inovação e sustentabilidade passaram a ser prioridade para alguns setores da economia. Como a indústria cimenteira se coloca diante destes dois conceitos?
No caso da inovação ela não é tão visível, apesar de buscarmos a melhoria contínua, pelo fato de a indústria cimenteira seguir um processo de produção de quase dois séculos. Já no quesito sustentabilidade, ela tornou-se muito importante para a indústria cimenteira. Por dois motivos: a mineração e a emissão de gases poluentes. Não há como se extrair a base do cimento, que é o calcário, sem se fazer uma cava. Portanto, a indústria precisa reparar esse dano, até pelo compromisso que tem com a sociedade. Na questão das emissões, a indústria cimenteira do Brasil é a mais limpa do mundo. Isso tem a ver com a matriz energética brasileira e também a preocupação do setor com essa questão da sustentabilidade. Hoje se investe muito em monitoramento e controle das emissões. No caso da Itambé, especificamente, estamos além do que exige a legislação. Nosso forno agrega o que há de mais moderno no que diz respeito a sustentabilidade e respeito ao meio ambiente.
Comparando a indústria cimenteira brasileira com a de outros países, como ela se posiciona na questão dos investimentos e quais tem sido as ações para suprir a alta demanda?
Comparativamente a outros países, a indústria cimenteira no Brasil tem um grande número de agentes atuando. Em função da forte demanda dos últimos anos, quase todos têm feito investimentos, além de o setor estar recebendo novos entrantes. Como exemplo, recentemente a Companhia Siderúrgica Nacional concluiu sua primeira fábrica. Vimos também o grupo Brennand, que tinha saído há alguns anos, voltar à área de cimento. Tivemos 10 anos em que a demanda praticamente não cresceu, e agora, dobrou nestes últimos 5 anos. Evidentemente que isso fez com que a indústria tivesse que se esforçar para conseguir estruturar sua capacidade de produção. Aqui na região Sul, além do nosso projeto, está em construção o projeto da Votorantim, em Vidal Ramos (SC) e existe outro anunciado em Adrianópolis (PR). Enfim, há vários projetos em andamento e em preparação, o que demonstra disposição e capacidade do setor em investir.
Uma área que dá sinais de grande expansão é a do concreto. A Itambé tem na Concrebras sua divisão voltada para esse produto. Quais as projeções para 2011?
Cada vez mais a construção civil trabalha com exigências de qualidade mais acentuadas. A resistência média do concreto que é utilizado hoje é sensivelmente mais alta do que era usado há cinco, seis anos. Isso demanda mais tecnologia e diminui o espaço para o improviso, o que tem aumentado a procura pelo concreto dosado em central. Para atender esse mercado, nossa divisão de concreto, a Concrebras, tem se estruturado bastante. No final do ano passado obtivemos certificados ISO 9001 para as todas centrais da Concrebras. Tenho a impressão que é a primeira concreteira do país a certificar todo o processo: desde a aquisição dos insumos até a entrega do concreto ao cliente. É a mesma proposta que temos com o cimento, que prioriza a qualidade, a confiabilidade e o relacionamento com o cliente.
O senhor foi eleito Engenheiro do Ano de 2010 pelo Instituto de Engenharia do Paraná, pelas obras desenvolvidas ao longo de sua carreira. O que este prêmio representa?
Mais importante do que o prêmio em si é a sua origem. O Instituto de Engenharia do Paraná é o nosso órgão máximo e para qualquer engenheiro esse reconhecimento é muito importante. Então, seria hipócrita se não dissesse que fiquei muito satisfeito.
A profissão de engenheiro voltou a despertar muito interesse. Só que se criou um hiato, sobretudo nas décadas passadas, e que hoje se reflete no mercado com a falta de engenheiros. Isso não pode gerar um atraso no desenvolvimento do país?
O que se perdeu não volta mais. Tivemos diversos engenheiros que abandonaram a profissão para, por uma questão de sobrevivência, ganhar sua vida em outros setores da economia. Hoje se percebe que não há nenhuma possibilidade de se promover o crescimento do país sem uma categoria de engenheiros qualificados e numerosos. Para recuperar isso, é preciso investir muito em educação e apoiar nossas universidades, não só para que elas formem novos engenheiros, mas para ajudar a qualificar os que já são engenheiros. A Itambé estabeleceu convênio com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 2007 e recentemente com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e tem visto que os resultados são muito gratificantes no sentido de formar engenheiros mais preparados e mais comprometidos com a qualidade de suas obras.
A Itambé, além destas parcerias, tem programas voltados para a qualificação da mão de obra. Como o senhor avalia esses programas e também o investimento da empresa na capacitação de seus recursos humanos?
Temos vários e um dos mais antigos é o Timão (Treinamento de Mão de Obra para Construção Civil) , que já é referência para os trabalhadores do setor. Além disso, internamente, a companhia tem estimulado nossos colaboradores a seguirem estudando e se especializando. Não dá para conceber o Brasil do futuro sem um forte investimento em educação. Então, além de programas de bolsa de estudo e outros estímulos, a Itambé promove também cursos de capacitação. Por isso, o recado que eu deixo para os nossos colaboradores é que aproveitem essas oportunidades e estudem.
A engenharia que se ensina hoje nas faculdades está de acordo com o que o mercado exige ou o senhor recomendaria mudanças, talvez para formar engenheiros mais empreendedores?
É preciso não generalizar. A impressão que eu tenho é que algumas universidades estão procurando isso, mas também é necessário ampliar a grade. Existem matérias correlatas à engenharia, no campo da administração, da economia, do empreendedorismo e do planejamento, que poderiam ser mais reforçadas. Haja vista que boa parte dos administradores de empresas são engenheiros, e que a categoria tem uma aptidão natural para assumir esse tipo de liderança. Então, as universidades precisam se abrir para isso.
Em 2011, a Itambé completa 35 anos de atividades. A que o senhor atribui a atuação de destaque da empresa na região sul do Brasil?
Algumas empresas não chegam aos 35 anos e outras chegam velhas aos 35 anos. Para se evitar isso é preciso ter os olhos no futuro, que é o que a Itambé faz. O objetivo é sempre fazer melhor. Por isso, 2011 será um ano instigante na companhia, por que projetamos produzir como nunca e vender como nunca. Ao mesmo tempo, a empresa fará o maior investimento de sua história para finalizar o Forno 3. Nossa tônica, mais do que nunca, é o lema que está no painel da entrada de nossa fábrica: “Itambé com você, construindo o Futuro”.
Entrevistado
Paulo Procopiak de Aguiar
Currículo
Paulo Procopiak de Aguiar é engenheiro civil formado pela UFPR, com especialização em Educação pela PUC-PR, Administração de Empresas e Economia Teórica e Aplicada pela FGV-RJ, e Hidrologia e Aproveitamentos Hidrelétricos pelo Centro Internacional de Estudos de Paris. Dedicou 20 anos de profissão ao setor público e 27 anos ao setor privado. Atuou como diretor-geral do DER, como presidente da Copel e como secretário nacional adjunto de Energia. É sócio-fundador da Ivaí Engenharia de Obras onde atuou como diretor. Foi também diretor-presidente e conselheiro da Itá Energética SA. É membro do Conselho Consultivo do SNIC e ABCP e desde 2001 é diretor-superintendente da Cia. de Cimento Itambé.
Jornalista responsável Altair Santos MTB 2330
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