Concreto biológico faz “simbiose” com paredes vivas
Material criado na Universidade Politécnica da Catalunha absorve CO2, acelera fotossíntese das plantas e minimiza patologias no revestimento
Material criado na Universidade Politécnica da Catalunha absorve CO2, acelera fotossíntese das plantas e minimiza patologias no revestimento
Por: Altair Santos
A Universidade Politécnica da Catalunha, na Espanha, divulgou no final de 2016 os resultados de uma pesquisa que tende a mudar o conceito de paredes verdes – aquelas que recebem vegetação. Convencionalmente, essas fachadas precisam de estruturas de suporte, que acabam criando tensões extras na edificação, além de exigir manutenção constante. Não raramente, as paredes vivas desencadeiam patologias causadas pelo acúmulo de umidade. Com o material inventado na universidade catalã, batizado de concreto biológico, organismos como líquenes, musgos e algas podem se desenvolver diretamente na fachada.
Os pesquisadores chegaram ao concreto biológico usando dois tipos de cimento: Cimento Portland ligeiramente modificado para atingir o pH 8 e cimento de fosfato de magnésio. “A inovação deste concreto é que ele se comporta como um suporte biológico natural para o crescimento e desenvolvimento de certos organismos vivos, como microalgas, fungos, líquenes e musgos. Constatamos também que ele acelera a fotossíntese das plantas, aprisionando o CO2 e promovendo uma simbiose com as paredes vivas”, relata a equipe de engenheiros e biólogos, formada por Antonio Aguado, Ignacio Segura e Sandra Manso.
Uma empresa espanhola associou-se aos pesquisadores para produzir painéis arquitetônicos para uso em fachadas de edifícios ou no mobiliário urbano. O produto, que deve chegar ao mercado em 2017, tem superfície porosa e rugosa. Além disso, é composto por três camadas. A mais interna atua como um selante, impedindo a passagem da umidade para as estruturas da edificação. A do meio é onde o concreto biológico age, permitindo o desenvolvimento das raízes das plantas. Já a camada mais externa funciona como impermeabilizante e isolante térmico, devido à “simbiose” com os organismos vivos.
Pintura viva
Segundo a bióloga Sandra Manso, as fachadas fabricadas com concreto biológico se comportam como pinturas vivas. “Nas estações mais quentes (verão e primavera) os organismos deixam as paredes mais verdes. Já nos períodos mais frios (outono e inverno) as fachadas ganham um tom amarelado”, diz. A pesquisadora lembra ainda que o bom desempenho do concreto biológico está diretamente relacionado com temperaturas mais amenas. Em regiões onde o inverno é extremamente rigoroso, seu uso não é recomendado. “Os organismos vivos que se adaptam ao concreto biológico não suportam baixas temperaturas por muito tempo”, completa.
O concreto biológico não pode ser usado para a construção de estruturas. Sua primeira aplicação prática será no centro cultural aeronáutico El Prat de Llobregat, em Barcelona, cujos painéis arquitetônicos convencionais serão trocados por painéis à base do material desenvolvido na Universidade Politécnica da Catalunha. Além disso, recentemente a Universidade de Ghent, na Bélgica, se associou à pesquisa para ver se plantas mais resistentes ao frio se adaptam às fachadas fabricadas com concreto biológico. Os estudos para o desenvolvimento do produto começaram em 2012.
Entrevistados
Antonio Aguado, Ignacio Segura e Sandra Manso, pesquisadores do departamento de engenharia da construção da Universidade Politécnica da Catalunha (via departamento de imprensa)
Contatos
antonio.aguado@upc.edu
ignacio.segura@upc.edu
sandra.manso@upc.edu
Crédito Fotos: Divulgação/UPC
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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