Benefícios do coprocessamento são irrefutáveis
Para indústria de cimento, queima de resíduos não representa apenas a substituição de combustíveis fósseis, mas uma ferramenta de gestão de passivos ambientais.
Para o setor de cimento, queima de resíduos não representa apenas a substituição de combustíveis fósseis, mas uma ferramenta de gestão de passivos ambientais
Por: Altair Santos
No Brasil, o coprocessamento de resíduos em fornos da indústria de cimento tende a atingir em 2013 a marca de 1,5 milhão de toneladas. A taxa de crescimento, em relação a 2012, será de 10%, como prevê o geólogo Yushiro Kihara, gerente de tecnologia da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). “Ao longo dos últimos anos, notamos o crescimento da utilização de resíduos em fornos de cimento, como combustível alternativo ou substituto de matéria prima. Mantendo-se a taxa histórica, estima-se para 2013 uma evolução do coprocessamento próxima a 10%”, diz.
Desde a década de 1980 a indústria nacional de cimento atua com coprocessamento de resíduos. Hoje, o setor é referência internacional, por seu excelente desempenho em termos de emissão específica de CO₂ – equiparável a países como Estados Unidos, União Europeia e Japão. “Essa posição é fruto de um grande esforço das indústrias que realizam, há anos, ações pela redução das emissões, dentre as quais o coprocessamento é a principal ferramenta”, destaca Yushiro Kihara.
Isso se deve ao fato de o coprocessamento ter agregado competitividade às cimenteiras. “Ele gera economia de recursos naturais não renováveis, tais como combustíveis convencionais e matérias primas, causando redução significativa dos custos de produção e, como consequência, tornando a empresa mais competitiva”, explica o engenheiro Ronaldo Ferrari, gerente de coprocessamento da Cia. de Cimento Itambé, que tornou-se parceira da ABCP num projeto que se propõe a explicar as vantagens ambientais do coprocessamento.
Segundo Yushiro Kihara, entre as alternativas de destinação de resíduos e passivos ambientais, o coprocessamento é o que reúne os melhores benefícios econômicos e ambientais, pois elimina definitivamente os resíduos, preservando jazidas e reduzindo a pegada ambiental das atividades extrativas. Um exemplo emblemático é o que a indústria de cimento faz com os pneus inservíveis – hoje o principal resíduo coprocessado no Brasil. Somente no ano de 2011 registrou-se a recuperação térmica de mais de 45 milhões de pneus utilizados como combustível alternativo para a produção de cimento. “Com isso, presta-se um serviço de saúde pública ao país, ajudando no combate à dengue”, alerta.
Atualmente, a indústria brasileira de cimento é composta por 15 grupos, que, juntos, reúnem 81 unidades de produção espalhadas pelo país. Destas fábricas, 52 são dotadas de fornos que possuem tecnologia para coprocessar resíduos e 36 estão licenciadas para operar o coprocessamento. Há a tendência deste número aumentar, haja vista que o setor vem se modernizando e adquirindo fornos dotados de equipamentos específicos, como pré-aquecedores e pré-calcinadores – essenciais para que possam utilizar diferentes tipos de resíduos sem afetar a qualidade do cimento produzido. “Uma das premissas básicas do coprocessamento é não influenciar na qualidade do cimento produzido, além de não causar impactos ambientais significativos, não afetar as condições de saúde e segurança e não causar danos aos equipamentos utilizados na fabricação”, frisa Ronaldo Ferrari.
Parceira ambiental
A partir da lei 12.305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos – aprovada em 2010 e que prevê a extinção dos lixões até 2014 -, a indústria cimenteira tende a se tornar uma grande parceira ambiental do país, como ressalta Yushiro Kihara. “O coprocessamento nos fornos de cimento é uma das alternativas mais eficazes para a destinação ambientalmente correta e segura de grandes volumes de resíduos. A contribuição da indústria tende a se tornar mais significativa após 2014, pois o que se verifica atualmente é que no Brasil se descartam, por dia, 200 mil toneladas de resíduos urbanos e menos de 2% desse volume é reciclado. E mais agravante: quase 40% são lançados no ambiente”, cita.
De acordo com Ronaldo Ferrari, a indústria de cimento está preparada para absorver os resíduos passíveis através da tecnologia de coprocessamento. “Trata-se de uma destinação definitiva e mais nobre do que aterros ou lixões”, destaca. Já Yushiro Kihara complementa que coprocessar o lixo urbano será o novo estágio do coprocessamento. “Segundo o artigo 1.º da Resolução 264 do CONAMA, é proibido o coprocessamento de resíduos domiciliares brutos, ou seja, não classificados. Mas o coprocessamento de resíduos domiciliares tratados poderá constituir, após a extinção dos lixões, numa excelente opção para amenizar o problema da saturação de aterros municipais. No que depender da indústria cimenteira, ela está pronta para cumprir essa função”, finaliza.
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Entrevistados
Yushiro Kihara, gerente de tecnologia da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e Ronaldo Ferrari, gerente de coprocessamento da Cia. de Cimento Itambé
Currículos
– Yushiro Kihara é geólogo graduado pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP (1969), mestre em mineralogia pelo Instituto de Geociências da USP (1973) e doutor em mineralogia e petrologia pelo Instituto de Geociências da USP (1982).
– Atualmente é professor doutor do Instituto de Geociências da USP e gerente de tecnologia da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).
– Autor e coautor de 100 trabalhos técnico-científicos publicados em revistas e anais de congressos nacionais e internacionais.
– Ronaldo Ferrari é engenheiro químico, com especialização em gestão em engenharia ambiental
– Ocupa o cargo de gerente de coprocessamento da Cia. de Cimento Itambé.
Contatos: yushiro.kihara@abcp.org.br / ronaldo@cimentoitambe.com.br
Créditos foto: Divulgação/Itambé
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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