Startup criada na Universidade Mackenzie se especializou em recuperar moradias insalubres na periferia da cidade de São Paulo
Por: Altair Santos
Uma startup criada dentro da Universidade Mackenzie, em 2015, foi o embrião para que o engenheiro civil Matheus Cardoso criasse a Moradigna. Ele juntou sua expertise à da arquiteta Vivian Sória e à do contabilista Rafael Veiga para apontar sua construtora na direção do empreendedorismo social. “Não somos uma ONG (Organização Não-Governamental)”, dizem, afirmando que o objetivo da empresa é reformar casas insalubres.
O campo de ação da Moradigna é a Vila Pantanal, na região leste da cidade de São Paulo. Desde a criação da empresa, 220 famílias já foram atendidas. Atualmente, em média, são realizadas 25 reformas por mês. A maior demanda, explica Vivian Sória, está na recuperação de banheiros. “Eles são construídos sem nenhum revestimento, as paredes escurecem e o mofo costuma tomar conta do ambiente”, afirma. Após as reformas, as famílias beneficiadas dizem ter reduzido o número de doenças respiratórias, como gripe, resfriado, renite, bronquite e asma.
A Moradigna não realiza intervenções nas estruturas das casas, que, em quase sua totalidade, são obras de autoconstrução. O objetivo é seguir a missão da empresa, que é dar dignidade às casas em condições insalubres. “Se tivesse que reformar estruturalmente as residências, seria mais fácil colocá-las abaixo e construir casas novas. O que o Moradigna faz é avaliar se a casa comporta reformas. Existem muitas casas com problemas estruturais, mas em estrutura a gente não mexe”, revelam os sócios da startup.
Para baratear os custos, a equipe do Moradigna treina a mão de obra local, gerando emprego dentro da própria Vila Pantanal. Assim, cada reforma custa R$ 4 mil, em média. Os moradores podem pagar em 12 vezes, sem acréscimo de juros. A única exigência é que a família comprove ter renda mensal de R$ 1.500,00. Os recursos para o Moradigna vêm de duas fontes: a própria parceria com as famílias ou através do Instituto PHI (Filantropia Inteligente) que subsidia as reformas para famílias das classes D e E que não têm condições de pagar.
Cartão Reforma da Caixa
Existe a expectativa de que o Moradigna passe a receber investimento do programa Inova Capital – Programa de Apoio a Empreendedores Afro-Brasileiros -, e que possui uma linha de crédito do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mas isso ainda não ocorreu. Para aumentar o potencial de financiamento de suas reformas, o Moradigna também espera que o Cartão Reforma Caixa possa ser usado pelas famílias nas reformas. “Estamos estudando esta possiblidade, mas por enquanto não temos a opção da Caixa”, comenta Vivian Sória.
Em vigor desde maio de 2017, o Cartão Reforma da Caixa é voltado para famílias de baixa renda que recebem até três salários mínimos – o equivalente a R$ 2,8 mil. Elas têm acesso ao crédito para reforma, ampliação, promoção da acessibilidade ou conclusão de obras. O programa tem orçamento de R$ 1 bilhão e espera beneficiar 100 mil famílias. O limite de crédito para a aquisição do material de construção é de R$ 5 mil.
O fato de boa parte das casas atendidas pelo Moradigna estar em áreas de ocupação e em terrenos irregulares dificulta o acesso a financiamentos oficiais e também a chegada do programa Minha Casa Minha Vida em localidades como a Vila Pantanal. “Por essas questões, o Minha Casa Minha Vida não pode construir lá”, afirmam os idealizadores do Moradigna, que diante deste empecilho só vêem crescer a demanda por reformas em casas insalubres.
Entrevistado
Engenheiro civil Matheus Cardoso, arquiteta Vivian Sória e contabilista Rafael Veiga, sócios da Moradigna
Contatos
contato@moradigna.com.br
www.moradigna.com.br
Crédito Fotos: Moradigna