Déficit no saneamento básico fomenta epidemias

17 de março de 2016

Déficit no saneamento básico fomenta epidemias

Déficit no saneamento básico fomenta epidemias 978 615 Cimento Itambé

Brasil tem cerca de 40 milhões de habitantes que não possuem acesso à água tratada e nem a banheiros com encanamento e fossa séptica

Por: Altair Santos

Dados do Ministério das Cidades, através do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), revelam que mais da metade da população brasileira (51,4%) ainda não possui acesso às redes de coleta de esgotos e que somente 39% dos resíduos são tratados. Há ainda 35 milhões de brasileiros que não recebem água tratada e mais de 5 milhões que não possuem banheiros em suas casas. Além disso, 37% da água potável se perde em vazamentos, “gatos” ou problemas de medição. O déficit em saneamento básico fomenta também as epidemias. Entre elas, as que afligem o Brasil atualmente e são causadas pelo mosquito aedes aegypti, como dengue, febre chikungunya e vírus Zika.

Vila Athenis, Porto Alegre-RS: um caso de precariedade no saneamento básico do país

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O déficit de saneamento básico é tão gritante no Brasil que a campanha da fraternidade de 2016 está focada no tema. A opção da CNBB (Confederação nacional dos Bispos do Brasil) se deu pelo fato de o saneamento ser um direito humano e uma infraestrutura essencial ao meio ambiente e à saúde das pessoas, em especial aos mais vulneráveis. Além disso, essa é uma problemática com pouca visibilidade no país, apesar da correlação com doenças gerar dados alarmantes. Segundo o Instituto Trata Brasil, sete crianças morrem todo dia no país – vítimas de diarréia – e outras 700 mil pessoas são internadas a cada ano nos hospitais públicos devido à falta de tratamento de esgoto. Nas zonas rurais, a coleta atinge apenas 4% da população.

Entre 2011 e 2015, o investimento em saneamento básico foi de 0,22% do PIB, quando deveria ser, no mínimo, de 0,63%. A análise que especialistas fazem é a de que em cada real investido em saneamento se economizam quatro reais em gastos com saúde. Outro benefício é que, se houvesse investimento para a universalização do saneamento, isso geraria 550 mil novos empregos por ano, principalmente nos setores ligados à construção civil, como empreiteiras especializadas nesse tipo de obra e fabricantes de tubos de concreto. Esse segmento, especificamente, experimentou seu auge entre 2010 e 2012, quando o país chegou a ter cinco mil fábricas em funcionamento – de acordo com dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tubos de Concreto (ABTC).

Internações em vez de saneamento
A atual redução no volume de produção de tubos de concreto não é por falta de demanda, mas por ausência de uma política realmente interessada em expandir o saneamento básico no país. A meta do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) de universalizar os serviços de coleta e tratamento de esgoto, além de abastecimento de água, deveria ser cumprida em 2033, mas vai atrasar 21 anos. É o que aponta estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), denominado Burocracia e Entraves no Setor de Saneamento. No ritmo atual, a população só será plenamente atendida com água encanada em 2043 e com acesso à rede de esgoto em 2054. Para universalizar os serviços em 2033, seriam necessários R$ 15,2 bilhões por ano. Hoje, metade disso é investido (R$ 7,6 bilhões).

Para o gerente de infraestrutura da CNI, Wagner Cardoso, que coordenou o estudo Burocracia e Entraves no Setor de Saneamento, há um “círculo vicioso” que perpetua o déficit de saneamento básico no país. “A gente tem burocracia, tem falta de recursos, tem perdas, tem roubo de água, tem um planejamento muito ruim e tem baixa eficiência das empresas de saneamento”, listou. Diante desse contexto, Wagner Cardoso avalia que o Brasil fez a opção errada de não ter saneamento básico universalizado, trocando-o por internações hospitalares. Os casos de dengue, febre chikungunya e vírus Zika estão aí para comprovar a tese.

Confira aqui o estudo Burocracia e Entraves no Setor de Saneamento.

Entrevistado
Ministério das Cidades, Instituto Trata Brasil, Associação Brasileira dos Fabricantes de Tubos de Concreto (ABTC) e Confederação Nacional da Indústria (CNI) (via assessorias de imprensa)

Contatos
ascom@cidades.gov.br
atendimento.abtc@abtc.com.br
infra@cni.org.br
tratabrasil@tratabrasil.org.br

Crédito Foto: Divulgação/Instituto Trata Brasil

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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