Uso de vidro moído como agregado limita o concreto
Pesquisa realizada por universidades gaúchas conclui que substituição da areia não deve superar 20%, sob risco de desencadear patologias
Pesquisa realizada por universidades gaúchas conclui que substituição da areia não deve superar 20%, sob risco de desencadear patologias
Por: Altair Santos
A Austrália é o país que mais utiliza vidro moído proveniente de reciclagem como agregado para produzir concreto. O material chega a ser usado em taxas de 10% a 20%, como substituto da areia, para a construção de vigas, pilares e lajes, além de elementos não-estruturantes – neste caso, em taxas que podem substituir a areia em até 50%.
No Brasil, o vidro moído é usado na composição de asfalto, mas raramente no concreto. Para romper esse paradigma, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Universidade Federal do Pampa (UniPampa) atuaram conjuntamente em uma pesquisa iniciada em 2012, cujo objetivo era observar a degradação térmica de concretos que agregavam vidro moído e passavam por situação de incêndio.
O trabalho foi apresentado em setembro de 2012, na cidade do Rio de Janeiro-RJ, durante a Jornada Sul-americana de Engenharia Estrutural. Um dos coordenadores foi o professor da UFSM, Rogério Cattelan Antocheves de Lima, que mostrou o teor da pesquisa: “O concreto utilizado no programa experimental contemplou a substituição de parte do agregado miúdo natural (areia) por vidro moído, nas proporções de 0%, 5%, 10%, 15%, 20% e 100%. O vidro utilizado nos ensaios foi proveniente da coleta seletiva de 220 garrafas do tipo long-neck.”
Pesquisa descontinuada
O trabalho em laboratório seguiu as normas técnicas para produção de concreto, além das especificações granulométricas de agregados. Em sua conclusão, a pesquisa diz: “As resistências dos diferentes traços analisados à temperatura ambiente foram compatíveis com as resistências de dosagem usualmente especificadas na produção de concretos, sendo possível afirmar que o teor de substituição mais adequado nesta pesquisa foi de 20%, pois atingiu-se um patamar de resistência equivalente ao concreto sem substituição. No caso da substituição de 100% da areia por vidro, apesar de atingir-se uma resistência superior, a trabalhabilidade foi altamente prejudicada, inviabilizando a moldagem manual dos corpos-de-prova”.
Segue a conclusão: “Por outro lado, analisando-se o efeito da exposição dos concretos a elevadas temperaturas, observa-se que a exposição a 600 °C, em diferentes intervalos de tempo, ocasionou uma redução gradual na resistência à compressão e esta, na maioria dos casos, foi diretamente proporcional ao incremento do tempo de exposição. Em particular, no teor de 20% constata-se um comportamento similar ao concreto sem substituição em todos os tempos de exposição, indicando novamente que este teor seria o mais indicado para os resultados desta pesquisa”.
Segundo o professor Rogério Cattelan Antocheves de Lima, outras análises levaram à descontinuidade da pesquisa. “No decorrer da revisão bibliográfica se constatou que a adição de vidro ao concreto poderia desencadear uma reação álcali-sílica, reação esta que se acontecer é expansiva e extremamente prejudicial ao concreto, podendo levar a colapso estrutural”, finaliza.
Clique aqui para conferir a íntegra da pesquisa.
Entrevistado
Engenheiro civil Rogério Cattelan Antocheves de Lima, professor-pesquisador nos cursos de engenharia civil e arquitetura da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e pesquisador colaborador na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Contato: rogerio@ufsm.br
Créditos fotos: Divulgação/UFSM
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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