Uso de fibras ganha destaque no Concrete Show

Fibras no concreto prometem obras mais fortes e duráveis, com menos rachaduras, segundo especialistas


Para Carlos Bassamino, o uso de macrofibras traz ganho em resistência à tração e, principalmente, em resistência pós-fissuração.
Créditos: Marina Pastore

O uso de fibras no concreto foi um dos principais temas do Concrete Show 2025, evento que reuniu especialistas em construção civil e tecnologia de concretos. Durante diversas palestras, os profissionais destacaram como esses filamentos plásticos sintéticos, incorporados à mistura, aumentam a resistência à tração e a pós-fissuração, além de permitir redução de espessura das placas de pavimento e otimização de custos. 

Carlos Bassamino, diretor na R9Pro Engenharia e Consultoria, na palestra “Inovação e Projetos de Pavimentos Rígidos com Fibras”, explicou que se trata de milhares de filamentos plásticos dispersos no concreto, que, sob carga, promovem a distribuição interna dos esforços. O resultado é um ganho em resistência à tração e, principalmente, em resistência pós-fissuração – o mesmo efeito buscado no uso do aço.

“Essas fibras são filamentos plásticos sintéticos à base de polipropileno (PP). O material é escolhido por oferecer boa resistência mecânica e excelente desempenho frente à alcalinidade elevada do concreto. Outros plásticos tenderiam a se deteriorar, dissolvendo ou perdendo massa, enquanto o PP apresenta baixa perda de massa e já conta com respaldo normativo”, destaca Bassamino.

De acordo com Prof. Dr. Carlos Marmorato, livre-docente da Unicamp e presidente da ABIFIBRA, na construção civil, as fibras podem atuar de diferentes formas: como reforço contínuo ou descontínuo, reforço interno ou externo. “As macrofibras, em específico, enquadram-se como um reforço descontínuo interno, onde eu armo o concreto a partir das macrofibras”, explica.

Propriedades

As macrofibras são elementos de reforço estrutural do concreto, cuja eficiência depende principalmente do volume incorporado à mistura, e não apenas do tipo de fibra. Segundo Marmorato, “quando pensamos em fibras, o que realmente importa é a quantidade adicionada por metro cúbico de concreto, pois é isso que define seu desempenho estrutural”.

Com a publicação das novas normas em 2021, projetos de pavimentação rígida reforçada com fibras passaram a ser apoiados em ensaios de controle tecnológico, especialmente o Crack Mouth Opening Displacement (CMOD). Esse teste avalia o comportamento pós-fissuração do concreto, distinguindo entre hardening – quando a fibra aumenta a resistência após a fissuração – e softening, quando há perda gradual de resistência. “O comportamento softening é o mais comum em pavimentos e representa uma mudança importante no entendimento da engenharia de materiais”, explica Marmorato.

Carlos Marmorato destaca que as fibras precisam ser inertes ao ambiente alcalino do concreto para não sofrer degradação.
Créditos: Marina Pastore

Além do aspecto mecânico, o desempenho das fibras também envolve a durabilidade química. Segundo Marmorato, elas precisam ser inertes ao ambiente alcalino do concreto, caso contrário, sofrem degradação. “Uma macrofibra sintética estrutural de qualidade otimiza a transferência de tensões e mantém a resistência residual do concreto, mesmo após a fissuração”, afirma o especialista. De acordo com a NBR 16940:2021, fibras estruturais devem atingir pelo menos FR1 = 1,3 MPa e FR4 = 1,0 MPa, mas em projetos práticos os valores podem ser até duas vezes superiores, evidenciando diferenças significativas de desempenho mesmo com a mesma dosagem.

Macrofibras para pavimento de concreto

Em sua palestra, Bassamino pontua que no conceito tradicional, conhecido como sistema PCA, tem só concreto simples fazendo reforço estrutural, sem armaduras estruturais. “Mas estamos introduzindo a macrofibras estruturais. Isso traz um benefício significativo no que diz respeito à espessura – vamos ter espessuras menores e placas menores. No sistema PCA, as placas têm 3,60 m de largura por 5 a 6 metros de comprimento. Quando uma carga é aplicada, gera-se um momento fletor. Com uma placa maior, é preciso vencer um esforço maior. Ao trabalhar com placas menores, de 1,80 m por 2 m, o momento fletor acaba sendo menor. Consequentemente, é possível baixar a espessura. Isso representa uma melhoria com relação a custo e durabilidade. A macrofibra vai atuar na pós-fissuração do concreto. E eu posso aplicar em formas deslizantes ou em pavimentadoras de asfalto”, expõe Bassamino. 

Quando a fibra não é utilizada, o esforço se propaga e o concreto acaba rompendo, já que não há nenhum elemento estrutural responsável por transferir a carga entre as placas. “Com a fibra, a situação muda: ela atua como uma espécie de costura interna. Ao receber a carga, cada filamento plástico contribui para redistribuir a energia, permitindo a transferência de esforços entre uma placa e outra”, destaca Bassamino.

De acordo com Bassamino, a vantagem é significativa, sobretudo nas juntas serradas, onde o custo de instalar barras seria elevado. Já nas juntas de parada – pontos de interrupção da concretagem – ou em ligações longitudinais, o sistema tradicional ainda exige barras.

No CCRF aplicado em áreas vicinais, conseguimos eliminar até mesmo essas barras de transferência, garantindo maior agilidade construtiva e viabilidade técnica comprovada.

No pavimento flexível, a carga é muito pontual: quando a roda passa, gera-se um bulbo de tensão que se propaga intensamente para as camadas inferiores. “Já no pavimento rígido, esse bulbo é bem menor. O comportamento é semelhante ao de uma laje ou radiê: a carga se distribui uniformemente por uma área maior, o que permite reduzir espessuras de base e, consequentemente, obter economia no dimensionamento”, conclui Bassamino.

Uso de fibras no concreto projetado

Paulo Fernando aponta que as macrofibras sintéticas atuam na pós-fissuração.
Créditos: Marina Pastore

Na palestra “Tendências da Aplicação de Fibras em Concreto Projetado”, o professor e doutor Paulo Fernando Araújo da Silva, abordou o concreto projetado, muito usado em túneis e obras de grande porte. Segundo ele, este material apresenta retração maior que o concreto convencional, aumentando o risco de fissuras se não houver cuidados específicos. Segundo o professor, “enquanto o concreto bombeado convencional registra retrações de cerca de 500 µm/m, o projetado pode chegar a 700 µm/m na via seca e 850 µm/m na via úmida, exigindo atenção redobrada na cura e no controle da quantidade de água”.

Para minimizar esses efeitos, o especialista destaca o uso de fibras no concreto. “As microfibras de polipropileno ajudam a controlar fissuras por retração plástica e aumentam a resistência ao fogo, enquanto as macrofibras sintéticas atuam na pós-fissuração, mantendo as fissuras estreitas e protegendo a armadura da corrosão”, explica Araújo da Silva. Ele acrescenta que, apesar de eficazes, as fibras de aço podem aumentar o desgaste das máquinas de projeção, o que limita seu uso em alguns projetos.

O professor também reforça a importância de medir a tenacidade do concreto, que indica sua capacidade de continuar resistindo após a fissuração. “Ensaios avançados, como o da placa francesa, fornecem uma avaliação mais realista do desempenho do concreto com fibras. Além disso, o uso de microfibras ajuda a prevenir o spalling, o desprendimento de pedaços de concreto em situações de altas temperaturas”, afirma. Para Araújo da Silva, a combinação dessas técnicas garante revestimentos mais duráveis e seguros, sobretudo em túneis e obras críticas de infraestrutura.

Fontes

Carlos Bassamino é diretor na R9Pro Engenharia e Consultoria.
Carlos Marmorato é livre-docente da Unicamp e presidente da ABIFIBRA.
Paulo Fernando Araújo da Silva é mestre em Engenharia de Construção Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e Doutor em Infraestrutura pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). 

Contatos
Carlos Bassamino: contato@r9pro.com.br
Carlos Marmorato: cemgomes@unicamp.br 
Paulo Fernando: darciliapaulo@uol.com.br

Jornalista responsável: 
Marina Pastore – DRT 48378/SP 
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