Uso de concreto em piscina de ondas: como fazer?
Case da piscina de ondas BSC Aretê Búzios evidencia os desafios de fazer uma estrutura de grandes dimensões
A construção de uma piscina de ondas apresenta desafios muito maiores do que uma piscina convencional. Trata-se de uma estrutura complexa, com grande área de piso em contato direto com o solo, submetida a variações intensas de carga, movimentação da água e ciclos de impacto. Por isso, o projeto exige rigor no controle tecnológico, uso de aditivos específicos e execução cuidadosa em todas as etapas — da dosagem em laboratório à cura durante a concretagem. Durante o evento Concrete Show, Carlos Britez, sócio-diretor na Britez Consultoria, e Alexandre Britez, sócio-diretor técnico na GP&D Holding, apresentaram o case da piscina de ondas de Búzios (RJ).
Com o nome de BSC Aretê Búzios, o empreendimento trata-se de um clube para surfistas e suas famílias. Localizado em Búzios (RJ), além da piscina com ondas, terá também uma grande área de vivência com restaurante, coworking, bar, massagem e piscina indoor.
BSC Aretê Búzios: Tecnologia Endless Surf
Durante a palestra no Concrete Show, Carlos Britez falou sobre a construção da BSC (Brasil Surfe Clube) Aretê Búzios. Nessa piscina de ondas, será utilizada a tecnologia Endless Surf. “Ela é a que tem a duração de ondas mais prolongada – em torno de 21 a 25 segundos. Além disso, ela oferece flexibilidade e precisão para ajustar a diferentes tipos de ondas. Ela personaliza cada sessão para atender às preferências e níveis de habilidade. No caso da BSC Aretê Búzios, ela deverá gerar entre 400 e 700 ondas por hora, podendo atingir até 2,1 metros de altura”, explica.
Construção
A área total do empreendimento é de 140.000 m² (com preservação), sendo que a área da piscina é de 12.000 m². Veja algumas outras especificações:
- A espessura base da piscina varia entre 22 a 30 cm.
- O volume da piscina (base) é de 3.300 m³ a 4.000 m³.
- O volume de pré-fabricados é de 1.500 m³ (elementos variados).
- Fck ≥ 40 MPa/4,2 MPa de tração/24 GPa (concreto especial).
O projeto conta com um bloco de fundação de grandes proporções. Haverá também uma parte de estrutura pré-fabricada, que é onde fica todo o maquinário para fazer as ondas.
Piso de concreto

Crédito: Brasil Surfe Clube
Ao receber os documentos do exterior, a equipe responsável percebeu que a parte da base, estava tratando de um concreto de piso. “Para eles, não necessariamente era uma laje apoiada no solo. Mas tinha todos os ingredientes para tratar de um concreto de piso – lá, a construção tem que ser primorosa, não pode ter problema por conta do fluxo de ondas. Nesse caso, começamos a tratar como um concreto de piso”, comenta Carlos Britez.
Quando se trabalha com concreto apoiado diretamente sobre o solo, como no caso de pisos, é fundamental garantir uma pega controlada ao longo de toda a espessura. “Se isso não acontecer, pode ocorrer delaminação, descolamento ou falhas no tratamento superficial. Em situações críticas, como em uma piscina, as consequências seriam graves. Por isso, pensamos em utilizar um aditivo que proporcionasse hidratação uniforme em toda a espessura, evitando problemas de desplacamento e outros inconvenientes. Foi o que aplicamos, por exemplo, no piso do Shopping Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, uma obra realizada entre 2020 e 2021, com cerca de 30 mil m² de área”, afirma Carlos Britez.
Na piscina de ondas, a primeira etapa foi o estudo de dosagem e, posteriormente, uma carta de parâmetros. “Incorporamos cristalizante, compensador de retração, sílica e estabilizador, para reduzir ao máximo as chances de não conformidades. O traço utilizado, chamado de S100, variava entre 10 e 16 cm de abatimento. Ele apresentou teor de argamassa adequado para o acabamento e limite de brilho do piso fixado em 25%, fator importante para evitar desplacamento”, pontua Carlos Britez.
As medições de massa e ar mostraram cerca de 2% de ar aprisionado, um valor muito bom para pisos. “Especialmente considerando que no Rio de Janeiro normalmente os materiais resultam em 4 a 5%”, revela Carlos Britez. O fator água/cimento foi fixado em 0,45, garantindo segurança adicional, já que não se admite falha na estrutura da piscina.
“No laboratório, com esse traço, obtivemos quase 60 MPa aos 28 dias. Foram utilizados cerca de 200 L de água por m³ de concreto, valor compatível com as condições locais”, esclarece Carlos Britez.
Também foi aplicada uma camada de cal como material separador, reduzindo o atrito e prevenindo fissuras por retração. “Esse procedimento consumiu dezenas de sacos de cal, mas garantiu o desempenho desejado”, relata Carlos Britez.
O processo contou com acompanhamento rigoroso: dosagem em balança, aplicação de aditivos, uso de régua vibratória (em vez de vibrador de imersão, já que a espessura era de 20 cm) e cura primária imediata com VAP durante a concretagem, procedimento muitas vezes negligenciado, mas que evitou fissuração precoce.
A obra foi executada com plano de concretagem definido, incluindo juntas de retração — que, como ressaltado em palestra, deveriam ser chamadas de “juntas de separação”, pois separam, e não apenas unem.
Fontes
Carlos Britez é sócio-diretor na Britez Consultoria, que atua nas áreas de tecnologia, patologia, inspeções, retrofits, acompanhamento de obras, palestras, cursos e treinamentos com foco em estruturas de concreto armado e sistemas correlatos.
Alexandre Britez é sócio-diretor técnico na GP&D Holding. É mestre em engenharia civil e professor de pós-graduação na área de tecnologia e gestão na produção de edifícios. Atualmente é projetista e consultor de empresas que atuam em construção civil.
Contato:
alexandre@gped.eng.br
Jornalista responsável:
Marina Pastore – DRT 48378/SP
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