Uma cidade com notas musicais
A Cidade da Música Roberto Marinho, no Rio de Janeiro, será palco de grandes apresentações musicais. O engenheiro Bruno Contarini fala sobre a construção da obra
A Cidade da Música Roberto Marinho, no Rio de Janeiro, será palco de grandes apresentações musicais. O engenheiro Bruno Contarini fala sobre a construção da obra
A partir de 2009, a Cidade da Música Roberto Marinho será o mais novo espaço para difusão cultural na capital do Rio de Janeiro. É o que informa o consultor de estrutura da construção, o engenheiro Bruno Contarini. O prédio, um grande complexo para espetáculos musicais, conta com salas de concerto, cinemas, sede da Orquestra Sinfônica Brasileira e muito mais. O projeto é assinado pelo arquiteto francês Christian de Portzamparc para a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.
Contarini tem experiência em grandes obras. Foi o responsável pela execução dos projetos da Ponte Presidente Costa e Silva, conhecida como Rio-Niterói, e do Museu de Arte Contemporânea, em Niterói (RJ). De acordo com ele, foram utilizados 65mil m³ de concreto de alto desempenho para a realização do projeto. Nesta entrevista, o engenheiro fala sobre as especificidades, desafios e polêmicas da construção e comenta sobre os segredos de um trabalho desse porte.
Quais as particularidades do projeto em relação a espaços internacionais como esse?
A grande diferença da Cidade da Música Roberto Marinho é que a obra é muito mais complicada do que a dos demais halls sinfônicos internacionais. O projeto prevê um ambiente livre que permite a passagem do ar por todo o espaço. A obra tem 220m de comprimento por 85m de largura e altura de 31m (que corresponde a um prédio de 10 andares). É uma estrutura muito complexa, uma das obras mais complicadas que participei.
O que há de mais especial nesse projeto?
Conversei com profissionais em sonorização e a constatação é de que a acústica é espetacular. Não há nenhuma interferência de ruídos externos. A acústica é realmente muito especial. Já o teatro maior foi projetado para apresentações de orquestras sinfônicas, mas também pode receber outros espetáculos, como óperas. Ao redor do espaço há 10 torres com camarote para o público. As quatro estruturas em torno do palco são móveis, adaptando assim para apresentações de óperas. São estruturas movidas na base de ar comprimido.
Quais os principais desafios do projeto?
Antigamente não seria possível executá-lo. A imprecisão em um projeto dessa complexidade é muito grande. Contamos com um programa de computador muito eficiente. Qualquer modificação que fosse necessária durante a obra era lançada nessa ferramenta, que informava como deveríamos executar. Concretizávamos as mudanças com base nessas respostas do programa.
De quanto foi o custo necessário para arcar com a obra?
Foi divulgado em muitos lugares que a obra custaria 80 milhões de reais, mas ficou entre 400 e 500. Essa informação não procede. Houve uma primeira concorrência para a estrutura e fundações, que ficou em R$107 milhões. Depois foram realizadas diversas outras concorrências para cobertura, acabamento, etc. Foram investidos R$107 milhões em estrutura, valor que corresponde a mais ou menos 20% do custo total. Essa porcentagem é normal em qualquer obra. Além disso, o custo, quando comparado ao das demais cidades da música, é um dos mais baratos, ficando atrás apenas do projeto da China, que custou R$760 milhões, mas é uma área muito maior.
Numa obra como essa, o que o uso de materiais inadequados pode provocar?
Nesse tipo de projeto, errar na escolha do material não permite uma boa acústica. Em se tratando de música, a principal preocupação é com a qualidade do som. Temos salas de ensaio para orquestra, coro, instrumentos de percussão e dança. O ensaio na sala de percussão não pode comprometer o som da sala ao lado, por exemplo. Por isso o material tem que ser de primeira. Caso contrário, dará interferência no som desses ambientes.
Como garantir o êxito em uma construção desse porte?
Posso dizer que o segredo do sucesso de uma obra grande é ter gente competente e que trabalhe de verdade.
Sugestão de vídeo: Clique aqui para assistir palestra de Bruno Contarini no Instituto de Engenharia.
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