Ultrassom acelera resistência e reduz emissões de CO2 no concreto

Tecnologia estudada em parceria com startup alemã antecipa hidratação e torna o concreto mais sustentável

A busca por concretos mais sustentáveis e aumento de produtividade tem levado pesquisadores a explorar novas fronteiras tecnológicas — e uma das mais promissoras vem das ondas sonoras. A aplicação da tecnologia ultrassônica na produção do concreto vem mostrando resultados surpreendentes ao acelerar o ganho de resistência e reduzir a emissão de CO2. É o que mostra o estudo conduzido por Ricardo Couceiro Bento, professor da PUC Minas, que acaba de concluir seu doutorado sobre o tema em parceria com uma startup alemã especializada, a Sonocrete.

Pesquisadores alemães fazem teste de abatimento com concreto ultrassônico. 
Crédito: Sonocrete

“O ultrassom é utilizado para gerar cavitação — a formação e o colapso de microbolhas em uma suspensão líquida. Quando essas bolhas implodem, elas liberam energia suficiente para alterar a microestrutura do cimento”, explica o professor. “Isso cria novas superfícies ativas, favorecendo a hidratação e, consequentemente, o ganho de resistência nas primeiras horas do concreto”, completa Bento.

Pesquisa na Alemanha

A pesquisa começou de forma curiosa. “Vi uma publicação alemã sobre o tema, fui ler e me encantei. Entrei em contato com uma pesquisadora de lá, comecei a estudar por conta própria e, algum tempo depois, fui convidado para participar das pesquisas presenciais”, conta Bento. O projeto envolveu enviar amostras de cimento CP V produzido no Brasil para a Alemanha, onde foram realizados ensaios comparativos entre concretos convencionais, tratados termicamente e tratados com ultrassom.

Como funciona a tecnologia?

O princípio físico é simples, mas os efeitos são intensos. O ultrassom, ao ser aplicado em uma suspensão de cimento e água, provoca microimplosões que geram altas temperaturas e pressões localizadas, produzindo ondas de choque e jatos líquidos. Esse processo fragmenta partículas, ativa superfícies reativas e aumenta os pontos de nucleação, onde se formam os produtos de hidratação responsáveis pela resistência do concreto — principalmente o silicato de cálcio hidratado (CSH).

“O que observamos é que o ultrassom adianta a reação química, sem alterar seu curso. O pico de calor de hidratação acontece mais cedo, e a resistência inicial cresce rapidamente. Isso é essencial para a indústria de pré-fabricados, que depende da desforma rápida das peças”, explica o pesquisador.

 A formação de C-S-H após a mistura com o sistema Sonocrete pode ser claramente observada em comparação a uma amostra não tratada — aqui, duas horas após o início do processo de hidratação.
Crédito: Sonocrete

Resultados: 75% mais resistência em 8 horas

Nos ensaios realizados na Alemanha, o concreto tratado com ultrassom apresentou resistência à compressão 75% maior nas primeiras oito horas, em comparação ao convencional. Após dez horas, o ganho ainda era de 27%. “Isso significa poder desformar mais rápido ou, alternativamente, reduzir o consumo de cimento mantendo o mesmo tempo de produção”, diz Bento.

Aos 28 dias, a resistência final caiu levemente — cerca de 6% inferior à do concreto de referência. “A hipótese é que a hidratação acelerada recobre mais rapidamente as partículas de cimento, o que pode limitar reações posteriores. Mas isso não compromete o desempenho final, considerando que o objetivo é o ganho rápido nas idades iniciais”, explica.

Aplicação industrial e ganhos ambientais

A tecnologia pode ser integrada às plantas de pré-fabricação sem grandes alterações. “É um sistema bypass: parte da água e do cimento é separada e tratada com ultrassom, depois reintegrada à mistura. O equipamento ocupa cerca de 6 m² e tem 5 metros de altura”, detalha o professor. O processo consome de 1,5 a 2 kWh por metro cúbico de concreto — um custo considerado baixo.

Na Alemanha, onde 70% da produção de concreto é pré-fabricada, os resultados já são expressivos. Segundo dados da Sonocrete, é possível alcançar redução de até 30% no consumo de cimento e, consequentemente, nas emissões de CO₂ incorporadas ao produto final. “Em uma planta que produz 35 mil m³ de concreto por ano, isso representa até 3,2 mil toneladas a menos de clínquer consumido”, destaca Bento.

Perspectivas para o Brasil

Embora o custo inicial da tecnologia ainda seja elevado — cerca de duas vezes o valor de uma planta convencional —, o professor acredita que a tendência é de redução conforme o avanço da adoção. “Como toda inovação, começa cara. Mas o potencial de economia de cimento, aumento de produtividade e ganhos ambientais justificam o investimento”, afirma.

O pesquisador também ressalta que a adoção no Brasil deve começar pelo setor de pré-fabricados, mais sensível a ganhos de produtividade. “É perfeitamente viável aqui. A tecnologia está madura e o país tem um potencial enorme de aplicação”, conclui Bento.

Fonte
Ricardo Couceiro Bento é engenheiro civil, projetista de estruturas de concreto armado e fundações, doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, Mestrado Profissional em Habitação: Planejamento e Tecnologia pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), e professor da PUC Minas.

Contato
rcbento@engenheiro@gmail.com

Jornalista responsável: 
Marina Pastore – DRT 48378/SP 
Vogg Experience 



Massa Cinzenta

Cooperação na forma de informação. Toda semana conteúdos novos para você ficar por dentro do mundo da construção civil.

Veja todos os Conteúdos

Cimento Certo

Conheça os 4 tipos de cimento Itambé e a melhor indicação de uso para argamassa e concreto.
Use nosso aplicativo para comparar e escolher o cimento certo para sua obra ou produto.

Cimento Portland pozolânico resistente a sulfatos – CP IV-32 RS

Baixo calor de hidratação, bastante utilizado com agregados reativos e tem ótima resistência a meios agressivos.

Cimento Portland composto com fíler – CP II-F-32

Com diversas possibilidades de aplicações, o Cimento Portland composto com fíler é um dos mais utilizados no Brasil.

Cimento Portland composto com fíler – CP II-F-40

Desempenho superior em diversas aplicações, com adição de fíler calcário. Disponível somente a granel.

Cimento Portland de alta resistência inicial – CP V-ARI

O Cimento Portland de alta resistência inicial tem alto grau de finura e menor teor de fíler em sua composição.

descubra o cimento certo

Cimento Certo

Conheça os 4 tipos de cimento Itambé e a melhor indicação de uso para argamassa e concreto.
Use nosso aplicativo para comparar e escolher o cimento certo para sua obra ou produto.

descubra o cimento certo