Transposição do Velho Chico encarece custo da água
Agronegócio do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte descobriu que bombeamento do canal pode ser mais caro que dessalinizar água do mar
Agronegócio do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte descobriu que bombeamento do canal pode ser mais caro que dessalinizar água do mar
Por: Altair Santos
Integrantes da cadeia produtiva do agronegócio dos estados do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte estão preocupados com a elevação do custo da água quando o sistema de captação gerado pela transposição do Rio São Francisco começar a operar. Segundo estudos, o bombeamento para áreas de cultivo pode gerar um valor anual de R$ 400 milhões para ser dividido entre os três estados.
A vazão necessária para que a água chegue às fazendas é de 26,4 m³/seg. Como o projeto não contemplou o uso da gravidade para ajudar nesta vazão, será necessário investir em bombeamento, o que inclui custo com energia elétrica ou uso de combustível. Isso é o que encarece o uso da água. Segundo uma análise apresentada às federações das indústrias dos estados envolvidos na questão, dessalinizar a água do mar pode custar mais barato.
Os presidentes dos conselhos temáticos de cadeias produtivas e agronegócio, Bessa Júnior, e de Infraestrutura, Heitor Studart – ambos ligados à Federação das Indústrias do Ceará (FIEC) -, estiveram em abril de 2016 visitando as obras da transposição. “O objetivo foi monitorar as obras, de fundamental importância para o setor industrial cearense, e articular ações no sentido da execução das obras complementares. O Ceará, por exemplo, vai precisar interligar a transposição com o Cinturão das Águas (outra obra de irrigação do estado)”, diz Studart.
Já Bessa Júnior alertou que será necessário criar um modelo de cobrança e valores do insumo. Para isso, está marcado para os dias 7 e 8 de julho um seminário organizado pela FIEC e Assembleia Legislativa do Ceará para discutir a administração da água da transposição. Além dos custos, outra preocupação é com o roubo da água. Em recente inspeção, o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba constatou vários desvios ilegais para retirar água do canal da transposição, ao longo de um trecho de 37 quilômetros entre os municípios de Coremas e Sousa.
Obra irreversível
O leito natural do Velho Chico – como é chamado o Rio São Francisco pelos que dependem de suas águas – passa por Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. A transposição estenderá o curso para Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Para o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), Anivaldo de Miranda Pinto, a retirada da água reduzirá a vazão do rio e tende a afetar a geração de energia elétrica de todo o Nordeste. “O rio tinha uma lógica voltada para a geração de energia. A transposição reverteu esse cenário, priorizando o abastecimento. Isso, obviamente, influencia em sua vazão”, diz.
O próprio Anivaldo de Miranda defende que a construção de adutoras para fins de abastecimento teria sido mais barato e cumpriria com mais eficiência o propósito de levar água a regiões do semiárido. No entanto, atualmente o projeto de transposição do Rio São Francisco já está com mais de 90% da execução finalizada, e é irreversível.
A obra tem extensão de 477 quilômetros, organizados em dois eixos de transferência de água – Norte e Leste. O empreendimento engloba a construção de 9 estações de bombeamento, 27 reservatórios, 4 túneis, 14 aquedutos, 9 subestações de energia e 270 quilômetros de linhas de transmissão em alta tensão. O projeto, inicialmente orçado em R$ 4,5 bilhões, já extrapola R$ 8,2 bilhões. Nos canteiros de obras atuam 10.340 trabalhadores. A conclusão deve ocorrer no segundo semestre de 2017.
Entrevistados
– Federações das Indústrias do Ceará (FIEC) (via assessorias de imprensa)
– Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF) (via assessorias de imprensa)
Contatos
presidencia@cbhsaofrancisco.org.br
agencia@al.ce.gov.br
Crédito Foto: Júnior Pio/Assembleia Legislativa do Ceará
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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