Sustentabilidade na construção: novos caminhos para a descarbonização e soluções para reduzir as emissões sem elevar custos

Durante o 66º Congresso Brasileiro do Concreto, pesquisadores e instituições do Brasil e do mundo discutem estratégias para diminuir a pegada de carbono.

A construção civil vive um ponto de inflexão. Responsável por cerca de 40% das emissões globais de CO₂, o setor é desafiado a se reinventar diante da crise climática e da pressão por eficiência. Foi esse o ponto de partida de uma série de debates sobre sustentabilidade e descarbonização, que ocorreu durante o 66º Congresso Brasileiro do Concreto, realizado em Curitiba de 28 a 31 de outubro, reunindo grandes pesquisadores da área.

De acordo com o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Vanderley John, os efeitos extremos do clima, tais como enchentes, secas e ondas de calor, já impõem custos sociais e econômicos crescentes. “O planeta está desorganizado, crescendo em média um grau e meio, e as consequências estão à vista. As seguradoras já mostram que os prejuízos com desastres naturais explodiram. É um custo que a sociedade paga, ainda que não perceba”, alerta.

Para ele, a precificação do carbono é um ponto de virada inevitável. “Quem emitir CO₂ vai pagar. Isso já é realidade na Europa e deve chegar em breve ao Brasil, impactando diretamente o preço do cimento e dos materiais de construção”, aponta.

Segundo John, não existe mais baixo custo sem baixo carbono. A equação econômica da construção mudou, e as empresas que não incorporarem práticas sustentáveis pagarão mais caro. “Construção de baixo custo só será possível se for de baixo carbono. O passado não volta mais. É preciso pensar no futuro”, defende.

Descarbonizar é medir, comparar e agir

Um dos gargalos do setor, explica Vanderley John, está na ausência de métricas consolidadas sobre a pegada de carbono dos edifícios brasileiros. “Não dá para reduzir o que não se mede. Precisamos de uma linha de base confiável, com dados reais por metro quadrado construído”.

Vanderley John, da Universidade de São Paulo (USP), trouxe soluções sobre construção que alia baixo carbono e custo. Crédito: Ana Carvalho

John integra a coordenação do projeto BIPc (Benchmark Interativo para Projetos de Baixo Carbono), desenvolvido entre diversas instituições de ensino em parceria com a Caixa Econômica Federal. A ferramenta desenvolvida no projeto tem como objetivo mensurar as emissões de carbono e apresentar um benchmark – isto é, uma referência de desempenho para projetos similares – permitindo comparar se um empreendimento está acima ou abaixo da média em termos de emissões. Dessa forma, o BIPc contribui para a criação de um sistema nacional de monitoramento e classificação em empreendimentos, estabelecendo parâmetros progressivos de mitigação das emissões de carbono.

“A ideia é que a Caixa incorpore o índice nos financiamentos imobiliários, premiando quem adota projetos de baixo carbono com juros menores”, explica. Na prática, o banco se tornará um agente indutor da sustentabilidade no setor, estimulando construtoras e fornecedores a revisar materiais, processos e escolhas estruturais.

Além disso, John enfatiza a importância da desmaterialização, ou seja, usar menos insumos sem comprometer o desempenho. “Projetos mais enxutos economizam materiais e reduzem emissões. Não precisamos saber a pegada exata de cada bloco de concreto para começar a reduzir a pegada total”, orienta.

O desafio global: inovação com realismo

No cenário internacional, a pesquisadora Karen Scrivener, chefe do Laboratório de Materiais de Construção da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL) na Suíça, tem sido uma das vozes mais influentes na busca por concretos de baixa emissão. Ela lembra que há um potencial de redução de até 50% no CO₂ dos materiais apenas com a otimização de processos e melhor uso dos recursos disponíveis.

“O melhor concreto tem três ou quatro vezes menos CO₂ do que o pior. Já temos a tecnologia, mas o que falta é escala e integração”, afirma. Segundo Karen, a transição exige superar resistências culturais e industriais. “Há uma inércia enorme no setor. As grandes empresas representam só 30% do mercado, enquanto o restante são produtores menores, que tendem a manter práticas antigas por hábito ou por custo”, assinala.

A pesquisadora destaca também que a solução não está em tecnologias milagrosas, mas em física e química aplicadas com eficiência. “Muitas ideias não são escaláveis. Precisamos focar em estratégias realistas, baseadas em dados e colaboração entre toda a cadeia produtiva”.

Karen Scrivener, pesquisadora da Suíça, defende novas estratégias para descarbonização da construção civil. Crédito: Ana Carvalho

Karen lidera a Global Consensus Initiative, que une instituições em um esforço para padronizar métricas e criar um protocolo global de dados de construção. “Todos precisam medir da mesma forma. É o único caminho para comparar resultados e acelerar a descarbonização”, reforça.

Baixo carbono e baixo custo: o equilíbrio possível

Os pesquisadores convergem em suas propostas, demonstrando que sustentabilidade e viabilidade econômicanão são mais conceitos opostos. Com o apoio de ferramentas digitais, novos compostos cimentícios, uso de argilas calcinadas e controle reológico avançado, torna-se possível produzir concretos mais duráveis e de menor impacto ambiental – tudo isso sem comprometer o cronograma nem o orçamento das obras.

“A indústria já entende que reduzir carbono é reduzir risco. Quem começar agora, estará pronto para o que vem aí”, aconselha. A estratégia está na integração: dados confiáveis, precificação justa e inovação tecnológica. E, como concluiu Scrivener: “a busca pela perfeição não deve ser um obstáculo. Precisamos fazer agora o que é possível fazer”.

No horizonte da construção civil, o baixo carbono deixou de ser um diferencial e torna-se cada vez mais uma condição de sobrevivência.

Fontes

66º Congresso Brasileiro do Concreto 2025 – IBRACON

Cobertura da equipe do Massa Cinzenta – Cimento Itambé

Contato:
fabio@ibracon.org.br (Assessoria de Imprensa)

Jornalista responsável
Ana Carvalho
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