Sistemas construtivos vão definir o sucesso do Minha Casa, Minha Vida
Programa habitacional do governo federal estimulou a realização de um seminário sobre as melhores formas de erguer casas boas, duráveis e baratas
Programa habitacional do governo federal estimulou a realização de um seminário sobre as melhores formas de erguer casas boas, duráveis e baratas
O pacote habitacional Minha Casa, Minha Vida estimulou a realização de um seminário intitulado Tecnologias e Sistemas Construtivos para Obras Econômicas. A questão central do debate foi: como executar condomínios com grande número de unidades, pouca variação de tipologia e margem de lucro apertada?
Incorporadoras, construtoras, órgãos públicos e fornecedores buscavam essa resposta e ela veio através de um dos palestrantes do simpósio: o pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) Cláudio Vicente Mitidieri Filho.
Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP, doutor em engenharia de construção civil e urbana pela mesma escola e coordenador e professor da área de Tecnologia em Construção de Edifícios do Programa de Mestrado Profissional em Habitação do IPT, Cláudio revela as novas tendências da engenharia para habitações na entrevista a seguir. Confira:
O seminário do qual o senhor fez parte debateu os sistemas construtivos que podem ser aplicados no pacote Minha Casa, Minha Vida. Já há consenso sobre qual o melhor sistema para erguer casas populares?
O seminário não tratou exclusivamente do programa federal, mas apresentou um conjunto de alternativas que existem no mercado de sistemas e que podem ser aplicados em construções de habitações. Da minha parte, tratei dos aspectos tecnológicos, da necessidade de avaliar os produtos antes de empregá-los em uma obra e quais os principais aspectos técnicos envolvidos em sistemas construtivos.
Até que ponto as diferenças regionais devem ser levadas em consideração na opção dos sistemas construtivos a serem adotados em construções habitacionais?
De forma geral os aspectos ligados à segurança já estão hoje padronizados em todo o país. Mas os aspectos de conforto, esses sim estão mais regionalizados. Um aspecto que é bastante influenciado pelas diferenças regionais é o do conforto térmico. Outro item é o da durabilidade. Por exemplo: se a construção for numa região urbana terá um certo comportamento, se for numa área litorânea terá outro comportamento. Então, esse debate também é importante para se definir os sistemas construtivos a serem adotados.
Casas de fôrma, casas 1.0, casas em pré-moldado… o senhor acha que o Minha Casa, Minha Vida seguirá esses projetos ou poderá adotar sistemas construtivos alternativos?
Tem uma grande quantidade de sistemas no mercado que poderão ser utilizados neste programa. Entre eles, sistemas com paredes de concreto feitos com fôrmas metálicas na obra, casas feitas em painéis pré-fabricados, painéis de concreto, painéis com elementos cerâmicos, casas em sistemas leves de construção. Enfim, tem vários sistemas leves de construção sendo debatidos. Há até casas que empregam produtos em PVC junto com concreto. Mas na realidade o que se busca hoje são os sistemas construtivos mais industrializados. A tendência é de industrialização da construção de sistemas que possam ser feitos de uma maneira mais rápida e que consigam, num espaço menor de tempo, uma produção maior. Isso sem esquecer, obviamente, a qualidade, o desempenho e a sustentabilidade.
Hoje, a questão da sustentabilidade influencia quanto nos sistemas construtivos?
A tendência é influenciar não só o sistema construtivo, mas todo o ambiente construído, todo o entorno. Então, programar um conjunto habitacional hoje exige que se preocupe não apenas com a sustentabilidade da unidade em si, mas com a questão da sustentabilidade da edificação como um todo e do conjunto habitacional como um todo, e de toda a sua interface com a questão urbana. Esse é um aspecto extremamente importante para ser considerado.
A escolha de um sistema construtivo ideal terá de levar em consideração também a questão da mão-de-obra, correto?
Eu diria que precisa levar em consideração, além da mão de obra, a qualificação desta mão de obra. Tem de estar embutido na questão do sistema construtivo com qualidade, desempenho e rapidez o fator qualidade da mão de obra. Ela precisa ser treinada e capacitada para encarar um programa habitacional de envergadura como é, por exemplo, o Minha Casa, Minha Vida.
Um sistema construtivo precisa também se preocupar com o desperdício. Neste quesito, os pré-moldados seriam a melhor opção?
Não tenha dúvida de que tem de haver a preocupação com o desperdício, tanto no que se refere ao pré-fabricado quanto nos ditos convencionais. Qualquer sistema que se proponha hoje pela racionalização precisa evitar o desperdício. Daí, lógico, a tendência é que os pré-fabricados saiam na frente neste quesito.
Hoje a tecnologia do cimento no Brasil está bem evoluída. Sob esse aspecto, no que ela pode ajudar a baratear os sistemas construtivos no país?
Eu acho que tem que começar a desenvolver, a aprimorar e a difundir mais a tecnologia do concreto. A indústria de cimento pode auxiliar as empresas a desenvolverem produtos com as tecnologias adequadas de concreto. Hoje o concreto na construção tem várias figuras. Temos o concreto comum com mais resistência, o concreto de corporação de ar, o concreto com agregado leve. Enfim, a tecnologia do concreto permite tipos diferentes através dos mesmos materiais. Ele pode variar através de aditivos usados, tempo de mistura, relação água e cimento. Então, precisa haver um investimento das empresas na questão da tecnologia de concreto para torná-lo um material cada vez mais confiável e, por que não, barato.
Para finalizar, qual o futuro dos sistemas construtivos diante do apanhado de ideias que o senhor expôs nesta entrevista?
Acho que eles vão ter de se preocupar cada vez mais com a questão da industrialização, com a questão da racionalização dos sistemas, da qualidade e do desempenho desses sistemas. Quando a gente fala em sustentabilidade temos que estar preocupados com a durabilidade. No caso do programa Minha Casa, Minha Vida, tratam-se de unidades que vão ser financiadas em longo prazo. Então, um aspecto relevante é a durabilidade. Outro detalhe importante é a sustentabilidade da construção. Vai ser essa combinação que vai aprimorar os sistemas construtivos das obras.
Email do entrevistado: Cláudio Vicente Mitidieri Filho: claumit@ipt.br
Jornalista responsável Altair Santos MTB 2330 Tempestade Comunicação
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