Sensores dizem medir tempo de cura do concreto. Será?

14 de setembro de 2017

Sensores dizem medir tempo de cura do concreto. Será?

Sensores dizem medir tempo de cura do concreto. Será? 600 390 Cimento Itambé

UFJF desenvolveu estudo sobre equipamentos e concluiu que eles ajudam, mas precisam ser acompanhados de cálculos matemáticos

Por: Altair Santos

O mercado de equipamentos para a indústria do concreto os batizou de “sensores inteligentes”. São aparelhos portáteis, alguns deles equipados com câmeras fotográficas, que prometem medir o tempo exato da cura do concreto, assim como a temperatura e a resistência do material. Além disso, de acordo com os fabricantes, as informações são coletadas por softwares que analisam as propriedades do concreto e compartilham os dados com a obra em tempo real.

Sensores para monitorar o processo de cura do concreto funcionam, mas em conjunto com cálculos matemáticos

Sensores para monitorar o processo de cura do concreto funcionam, mas em conjunto com cálculos matemáticos

A pergunta é: esses equipamentos cumprem o que prometem? A eficácia desses aparelhos já foi até argumento para uma tese desenvolvida no departamento de engenharia civil da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG. Coordenador do estudo, o professor-doutor Antônio Eduardo Polisseni responde se os sensores para concretagem realmente funcionam. Confira:

O senhor esteve à frente do estudo “Utilização de Sensores Destinados a Prever a Taxa de Evaporação da Água do Concreto, no Estado Fresco, com a Finalidade de Controlar sua Fissuração Superficial”. A pergunta é: os sensores realmente cumprem esse papel de determinar o tempo exato de cura do concreto?
Neste trabalho, os sensores foram utilizados para prever a necessidade de se iniciar o processo de cura em uma superfície de concreto recém-lançado. Especificamente, uma laje de transição que receberia cinco pavimentos em alvenaria estrutural em blocos cerâmicos. A laje foi concebida com a tecnologia de concreto protendido, utilizando-se protensão leve. No meio técnico, é quando a taxa de evaporação de água de uma superfície de concreto atinge valores maiores que 1,5 litro/m²/h. Por isso, a probabilidade de uma laje com essas características fissurar é muito grande. Para monitorar a quantidade de água que evaporava da superfície do concreto foram utilizados sensores. Eles ajudaram a medir as condições ambientais de temperatura do concreto, temperatura do ar, velocidade de vento e umidade relativa do ar.

Atualmente, o mercado oferece uma variedade desses equipamentos. Alguns prometem fazer a medição por infravermelho, a laser, além de softwares que asseguram analisar a propriedade do concreto e compartilhá-los com a obra em tempo real. Essas ferramentas ajudam a tornar os concretos mais eficientes?
Os sensores utilizados na obra que citei não visavam medir o aumento de temperatura na massa do concreto simplesmente, como é o caso do que ocorre quando se estuda “concreto massa”. Os sensores que medem velocidade de vento, umidade relativa do ar e sua temperatura, além dos termômetros de vareta ou infravermelho, são eficazes para detectar estes parâmetros físicos, que, junto com fórmulas matemáticas, permitem determinar a taxa de evaporação de água do concreto.

Antônio Eduardo Polisseni: equipamentos auxiliam na busca da qualidade do concreto, mas ainda são pouco usados no Brasil

Antônio Eduardo Polisseni: equipamentos auxiliam na busca da qualidade do concreto, mas ainda são pouco usados no Brasil

O tempo de cura é muito subjetivo, pois depende de vários fatores – climáticos, inclusive. Será que esses equipamentos não medem, de fato, o tempo de pega inicial do concreto, em vez da cura?
Estamos falando de taxa de evaporação de água que, de certa forma, está ligada à pega do concreto. Quando do lançamento do concreto, a norma brasileira NBR 7212 (ABNT NBR 7212 – Execução de Concreto Dosado em Central) estabelece que a temperatura do ar no ambiente seja de no mínimo 5 °C e no máximo de 30 °C. Porém, as diferenças climáticas no Brasil são imensas e variam de região para região. Da mesma forma, a temperatura do concreto em determinadas regiões brasileiras pode atingir 34 °C, 38 °C, o que não é conveniente. Nestes casos, deverão existir estudos específicos para, de alguma forma, arrefecer a massa de concreto. Utiliza-se, por exemplo, gelo em escama, pois uma massa de concreto com alta temperatura é sinônimo de aparecimento de trincas de retração que vão ocorrer nas primeiras horas e não poderão ser combatidas nem com armadura de pele ou mesmo com a utilização de fibras sintéticas ou metálicas. O arrefecimento desta massa de concreto tem que ser estudado e operacionalizado no campo.

Qual o principal benefício desses sensores que medem o concreto antes de seu estado endurecido?
Medir a taxa de evaporação de água para que se monitore em tempo real quando deve ser iniciada a cura. Chamo a atenção que não vamos fazer aspersão de jatos de água diretamente sobre o concreto com 60 minutos ou menos de lançamento, porém podemos criar um microclima através da aspersão de uma névoa de água ou mesmo a aspersão de agentes químicos de cura. Desta forma, não causaremos abrasão na superfície do concreto.

É possível esses equipamentos também definirem uma melhor reologia do concreto?
De uma forma resumida, a reologia do concreto está relacionada com as suas características de deformação e de mobilidade. Atualmente, nas obras procura-se especificar concretos que tenham propriedades reológicas, por exemplo, facilidade de lançamento. Estes concretos, em função das condições ambientais, poderão ser monitorados por meio de sensores com o objetivo de se prever o início de sua cura no canteiro de obra.

Está bem difundido o uso desses equipamentos na construção civil?
Não. Mas é uma grande oportunidade do meio técnico pensar nesta oportunidade de tecnologia. Quem executa obras, tais como barragens, pavimentos rígidos, pisos industriais, sapatas em centros urbanos, tem preocupação com a possibilidade do aparecimento de trincas nas estruturas de concreto. Esses equipamentos podem ajudar a minimizar ou mesmo evitar que estas trincas ocorram.

O senhor sabe dizer se o Brasil já dispõe de tecnologia para produzir sensores ou boa parte destes equipamentos são importados?
Sim. Existem empresas brasileiras que fornecem estes equipamentos. Porém é de suma importância que o engenheiro que for fazer uso destes equipamentos saiba utilizá-los em conjunto com as equações matemáticas que modelam o fenômeno.

O estudo que o senhor esteve à frente usou um tipo específico de sensor ou foram usados diversos equipamentos?
Foram vários sensores, juntamente com os cálculos matemáticos.

Entrevistado
Antônio Eduardo Polisseni, engenheiro civil e professor-doutor da Universidade Federal de Juiz de Fora, com experiência em projetos, materiais, componentes de construção e sistemas construtivos

Contato
aepolisseni@gmail.com

Crédito Fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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