Reutilização de materiais na construção
A reutilização de materiais na construção civil trata de transformar resíduos das obras, normalmente encarados como entulhos e caliça, em produtos comerciais.
Oportunidades de reuso e reciclagem de materiais da construção podem se mostrar como soluções sustentáveis
Por: Michel Mello
A reutilização de materiais na construção civil trata de transformar os resíduos das obras, normalmente encarados como entulhos e caliça, em produtos comerciais que possam ser novamente utilizados. Com isso, criar oportunidades de reuso e reciclagem que se traduzam em sustentabilidade social e ambiental.
Quase todas as atividades desenvolvidas pelo setor da construção civil geram resíduos como caliça e entulhos. Isto se deve aos altos índices de perdas durante o processo construtivo e à falta de uma cultura de reutilização e reciclagem no país.
No Brasil, em média 50% de todo o material desperdiçado, o que representa por volta de 850 mil toneladas de entulho por mês, é depositado sem critério em lixões ou aterros sanitários. O Reino Unido produz cerca de 53 mil toneladas/ano e o Japão pode ser considerado uma referência em reaproveitamento, com apenas 6 mil toneladas/ano.
A prática de reuso e reciclagem pode ser encarada do ponto de vista da viabilidade econômica para revenda desses materiais. Outra destinação é servir de sub-base para pavimentos de vias de menor tráfego e em aterros sanitários para a conservação das estradas. Já existem iniciativas de usinas de reciclagem desses materiais nos estados de São Paulo e Minas Gerais.
Resultados do reaproveitamento
As vantagens ambientais do reaproveitamento estão em reduzir as matérias-primas bases dos materiais de construção, abater a quantidade de lixo em aterros sanitários e diminuir o volume de detritos e resíduos da construção. Estas ações, com certeza, diminuirão a poluição das cidades.
Conceitos
• Reuso – significa reprocessar e reinstalar materiais sem remanufatura;
• Reciclagem – é a completa remanufaturação onde se produz outro elemento construtivo a partir de uma peça já existente; e
• Downcycling – é o reprocessamento completo de outro produto diferente da origem e que possui menor qualidade.
Problemas
Um dos problemas enfrentados quando se fala em reuso de materiais de construção reside no fato de que esses produtos não foram concebidos para serem desmontados. Considerando que desconstruir leva de duas a dez vezes mais tempo que demolir, isso reflete a falta de técnicas para essa prática no país.
A demolição seletiva ainda não é praticada comercialmente no Brasil, isso significa que temos que incentivar a reciclagem de forma sustentável a partir de uma nova cultura de sustentabilidade, de mão de obra especializada e da armazenagem correta dos materiais.
Para o professor, Wilson Jesus da Cunha Silveira, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutor em engenharia de materiais, “a reutilização de materiais é, na verdade, aproveitar materiais de demolição em edificações novas. Isso pode dar um bom aspecto à construção”. Confira a seguir entrevista completa com o especialista.
>> A resolução 307 do CONAMA vem de fato sendo cumprida?
Wilson Jesus da Cunha Silveira: As normas técnicas e resoluções de órgãos ambientais sempre sofrem certa resistência na sua aplicação por parte dos usuários bem como toda inovação. Normalmente, somente indústrias exportadoras as respeitam devido às exigências dos importadores, de acordo com as Normas ISO 9000 e ISO 14000. Empresas que não respeitam os códigos e normas não conseguem exportar.
>> Como transformar resíduos das obras em produtos comerciais?
Wilson: Essa produção pode ser feita com pequenas máquinas, principalmente as trituradoras que transformam o resíduo em pó. Depois é só misturar com um pouco de aglomerante, que transforma o material resultante em uma argamassa utilizada para diversos usos.
>> A que se deve os altos índices de perdas de materiais nas obras?
Wilson: Principalmente aos projetos, que não são concebidos de forma racionalizada, ou seja, para aproveitamento otimizado dos materiais. Essa utilização se faz nos projetos executivos, específicos para a obra, feitos depois da aprovação do desenho nos órgãos públicos. Os desenhos executivos sobrepõem os projetos de instalações, planos estruturais e plantas da edificação, com as vedações que podem ser alvenarias, painéis ou chapas. O que tem resolvido bastante a redução de desperdício em obras é a industrialização, que retira os serviços do canteiro, transferindo-os às indústrias e agregando qualidade pelo uso de mão de obra especializada.
>> É possível reutilizar materiais nos canteiros de obras e evitar a produção de caliça e entulhos?
Wilson: O canteiro de obras reproduz os planejamentos de obra feitos nos projetos executivos. Hoje se pode empreitar esses serviços com material e mão de obra mais baratos que executados no canteiro.
>> Por que a técnica da desconstrução ainda não é utilizada no país?
Wilson: Desconstrução é um conceito de projeto e é usado por muitos profissionais. Somente agora os construtores, engenheiros e arquitetos estão se conscientizando da necessidade de uma formação complementada com mestrados e doutorados para aprofundar conhecimentos. Parece-me que o termo desconstrução está sendo usado de maneira equivocada. Reaproveitar é esquecer os conceitos antigos de simetria, proporção e elaborar um projeto sem preocupações de alinhamento, esquadro e prumo.
Entrevistado
Wilson Jesus da Cunha Silveira
>> Currículo
– Arquiteto Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
– Mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
– Doutorado em Engenharia de Produção pela UFSC.
>> Contato: wilson@arq.ufsc.br
Jornalista responsável: Silvia Elmor – MTB 4417/18/57 – Vogg Branded Content
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