Queda acentuada no funding para produção e custo de capital em alta dificultam atuação da construção civil
Entidades do setor negociam liberação do depósito compulsório da poupança, alternativa que pode injetar cerca de R$ 150 bilhões
A construção civil brasileira vive um momento de atenção em relação ao acesso a recursos para financiar a produção. Embora o crédito para pessoa física, destinado à compra de imóveis, siga em ritmo razoável, o financiamento voltado para as incorporadoras e construtoras tem sofrido forte retração, obrigando as empresas a recorrerem a capital de mercado, com custo significativamente mais alto.
De acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o volume de recursos da poupança direcionado pelos bancos para financiar a construção recuou 48,6% nos primeiros quatro meses desse ano em relação ao mesmo período de 2024.
“Os agentes financeiros estão canalizando recursos para pessoa física, mas a produção registrou uma queda muito grande. As empresas estão sendo financiadas com recursos de capital com custo mais elevado, e isso se reflete no preço final do imóvel”, afirma Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre.
Odair Senra, vice-presidente de Imobiliário do SindusCon-SP, explica que a dificuldade é estrutural. Segundo ele, a produção e comercialização de imóveis para habitação, por ser uma atividade que demanda muito capital, precisa contar com financiamentos à produção e à comercialização. “Quando existe a escassez de um desses financiamentos, o mercado tende a adiar lançamentos ou até não produzir essas habitações. O Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que conta com recursos das Cadernetas de Poupança, é um meio importante para esse mercado”, assinala.
Pressão no crédito e no preço
O cenário atinge especialmente empreendimentos voltados à média e alta renda, segmentos que já vinham enfrentando desafios com o encarecimento do crédito. Segundo Ana Maria, o custo mais alto do financiamento se soma a outro gargalo: a escassez de mão de obra qualificada. “São duas limitações importantes no momento: financiamento mais caro e falta de trabalhadores especializados. Isso afeta diretamente a confiança empresarial e as perspectivas de crescimento”, explica.
Apesar das dificuldades, o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) segue como principal sustentação para o mercado. Em abril desse ano, o governo criou uma nova faixa para atender parte da classe média, com financiamento de imóveis de até R$ 500 mil e taxas mais baixas que as praticadas pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). “Essa mudança deve contribuir, mas não resolve o problema do funding da produção”, pondera a economista.
Alternativas em discussão
Entre as propostas do setor para aliviar a escassez de crédito, está a liberação dos depósitos compulsórios da poupança — atualmente 20% do total fica imobilizado. A proposta, liderada pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) e pelo Sindicato da Habitação (Secovi-SP), é que os recursos sejam liberados para abastecer os financiamentos imobiliários. Isso representaria uma injeção na ordem de R$ 150 bilhões no setor.
As regras vigentes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) determinam que 65% dos depósitos da poupança devem ir para os financiamentos imobiliários, enquanto 15% são usados livremente pelos bancos e 20% são guardados como depósitos compulsórios para assegurar a liquidez do sistema. “Isso pode ajudar no curto prazo, aumentando a disponibilidade de recursos para o financiamento”, observa Ana Maria.

Crédito: Envato
No diálogo com o poder público, Senra reforça uma preocupação central do setor. “Face às propostas que estão surgindo através do Banco Central, pleiteamos que as atuais regras do SBPE não sejam alteradas sem um período importante de transição, necessário para a adaptação do mercado”, aponta. Segundo ele, isso é fundamental para não estancar a produção de habitações e não prejudicar os potenciais adquirentes de casa própria.
Ele também ressalta que o mercado já vem encontrando alternativas. “Já há alguns anos, vem crescendo a utilização de recursos do mercado de capitais, que podem suprir a eventual falta dos recursos das Cadernetas de Poupança. São os CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LGIs, que são gerados e geridos por FIIs (Fundos de Investimentos Imobiliários)”, complementa.
Perspectivas para 2025
A expectativa para 2025 é de crescimento, mas em ritmo menor que o observado no ano passado. Ana Maria projeta que a expansão da construção fique próxima à do PIB, estimada em cerca de 2%. “O boom do mercado imobiliário e os investimentos em infraestrutura devem continuar impulsionando a atividade, mas o ritmo será mais moderado”, analisa.
Mesmo em um cenário mais restritivo, a presença de recursos no orçamento do Minha Casa Minha Vida é vista como fator importante para sustentar o desempenho do setor. “O programa continuará sendo uma força importante e pode ganhar mais protagonismo diante dessa conjuntura mais desafiadora”, conclui.
Entrevistados
Ana Maria Castelo é coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre.
Odair Senra é vice-presidente de Imobiliário do SindusCon-SP
Contatos
ana.castelo@fgv.br
rmontagnini@sindusconsp.com.br (Assessoria de Imprensa)
Jornalista responsável
Ana Carvalho
Vogg Experience
Cadastre-se no Massa Cinzenta e fique por dentro do mundo da construção civil.
Cimento Certo
Conheça os 4 tipos de cimento Itambé e a melhor indicação de uso para argamassa e concreto.

Massa Cinzenta
Cooperação na forma de informação. Toda semana conteúdos novos para você ficar por dentro do mundo da construção civil.
15/05/2024
MASP realiza o maior projeto de restauro desde a sua inauguração
MASP passa por obras de restauro em suas estruturas. Crédito: Assessoria de Imprensa / MASP Quem passa pela Avenida Paulista vem notando uma diferença significativa na…
13/08/2025
Condomínios apostam em facilidades como escolas e restaurantes
O mercado imobiliário de alto padrão em São Paulo teve crescimento de 238,9% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao mesmo período do ano anterior. Na região Sudeste, os…
13/08/2025
Concreto que fixa carbono: inovação pode transformar resíduos da construção em aliados contra mudanças climáticas
Transformar resíduos de concreto em materiais de alto desempenho, enquanto se captura e armazena carbono, deixou de ser apenas uma possibilidade teórica. Uma pesquisa conduzida…
13/08/2025
Como reter talentos na construção civil?
A falta de profissionais continua sendo um obstáculo para a construção civil no Brasil: 82% das empresas afirmam enfrentar dificuldades para contratar novos trabalhadores, de…
Cimento Certo
Conheça os 4 tipos de cimento Itambé e a melhor indicação de uso para argamassa e concreto.
Use nosso aplicativo para comparar e escolher o cimento certo para sua obra ou produto.
Cimento Portland pozolânico resistente a sulfatos – CP IV-32 RS
Baixo calor de hidratação, bastante utilizado com agregados reativos e tem ótima resistência a meios agressivos.
Cimento Portland composto com fíler – CP II-F-32
Com diversas possibilidades de aplicações, o Cimento Portland composto com fíler é um dos mais utilizados no Brasil.
Cimento Portland composto com fíler – CP II-F-40
Desempenho superior em diversas aplicações, com adição de fíler calcário. Disponível somente a granel.
Cimento Portland de alta resistência inicial – CP V-ARI
O Cimento Portland de alta resistência inicial tem alto grau de finura e menor teor de fíler em sua composição.
Cimento Certo
Conheça os 4 tipos de cimento Itambé e a melhor indicação de uso para argamassa e concreto.
Use nosso aplicativo para comparar e escolher o cimento certo para sua obra ou produto.
