Qualificar concreto exige união de esforços

Solução passa por combate a concreteiras de fundo de quintal, tributos, normas técnicas e uso de novas tecnologias
27 de setembro de 2018

Qualificar concreto exige união de esforços

Qualificar concreto exige união de esforços 1024 425 Cimento Itambé

O concreto foi o protagonista dos debates no 60º Congresso Brasileiro do Concreto, realizado na semana passada em Foz do Iguaçu-PR, pelo IBRACON. Em duas mesas-redondas, a qualidade do material esteve no centro das discussões. Não que o concreto produzido no Brasil não seja um dos melhores do mundo em termos de resistência e durabilidade, como defende o professor-doutor Paulo Helene, mas ainda há metas a serem atingidas para que o material alcance um nível de industrialização capaz de impulsionar a construção civil nacional a patamares ainda melhores.

Entre os obstáculos a serem superados estão os números trazidos pelo presidente da ABESC (Associação Brasileira das Empresas de Serviço de Concretagem), Jairo Abud. Ele relatou que existe uma estimativa de que mais da metade das concreteiras em operação no país (650) não possui engenheiro-responsável, não emite ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) e não tem laboratório que comprove as características do material, de acordo com as especificadas em projeto. No entanto, disse Abud, são essas “concreteiras de fundo de quintal” que ditam o mercado, fazendo com que seus preços se tornem referência, o que gera concorrência desleal contra as empresas certificadas.

A crise que atinge a construção civil brasileira desde 2014 também alimenta a proliferação de concreteiras sem critérios técnicos, apesar de que, neste período, o volume de material vendido pelas empresas tenha caído. Hoje, as concreteiras respondem por 17% do concreto que chega aos canteiros de obra contra 21% de quatro anos atrás. “Em tempos de crise, a autoconstrução cresce, o que faz aumentar o concreto feito na própria obra”, afirmou Jairo Abud, citando que o preço do concreto nunca esteve tão barato. “Um litro de concreto custa 25 centavos atualmente. O concreto hoje representa 4% do custo total de uma obra. A despeito disso, perdemos mercado”, reforça.

Jairo Abud, da ABESC

Jairo Abud, da ABESC, apresentou números relevantes para as
mesas-redondas que debateram a qualidade do concreto. Crédito: Cia. de Cimento Itambé

Ações buscam ajuste fiscal para a construção industrializada do concreto

Por quê? Um dos motivos é o baixo estímulo à construção industrializada do concreto. Impostos como IPI e ICMS incidem sobre peças produzidas na indústria de pré-fabricados, e que chegam prontas no canteiro de obras. É um cenário de desigualdade fiscal que o setor tenta reverter na justiça, mas não consegue. Uma das ações que tramitam nos tribunais encontra-se parada há 30 anos no Supremo Tribunal Federal (STF). São obstáculos que vêm do século passado, ainda que haja empresas comprometidas com a inovação, como a Concresul, citada nas mesas-redondas como um exemplo de quem quer se diferenciar no mercado.

Os debates convergiram para o consenso de que existe a necessidade de uma união de esforços para que o mercado desperte para as boas práticas. Entre elas, destacam-se três: 1. Exigência de certificação para que a concreteira possa operar; 2. Normas técnicas rigorosas quanto à comprovação da qualidade do concreto; 3. Mecanismos que possam responsabilizar judicialmente quem produz concreto sem controle técnico. “O maior desafio é criar uma fórmula para diferenciar as boas empresas das de fundo de quintal, onde algumas sequer possuem caminhões-betoneira com facas adequadas para bater o concreto durante o transporte”, finalizou o presidente da ABESC.

Homenagem

O 60º Congresso Brasileiro do Concreto homenageou o engenheiro civil Arcindo Vaquero y Maior, que morreu na semana anterior ao evento. Ex-presidente da ABESC e membro do IBRACON, Arcindo teve atuação destacada em ações voltadas às melhores práticas para a produção de concreto. Sempre presente em seminários, congressos e comissões da ABNT que atualizam ou criam normas técnicas, Arcindo Vaquero y Maior faria uma palestra no 60º CBC, intitulada “Por que temos poucas centrais dosadoras no Brasil?”. O presidente da ABESC, Jairo Abud, o substituiu, mas resumiu a importância do engenheiro em uma frase: “O Arcindo fará muita falta ao meio técnico da construção civil.”

Entrevistado
Reportagem com base em mesas-redondas ocorridas no 60º Congresso Brasileiro do Concreto, promovido pelo IBRACON, com foco na qualidade do concreto. Os debates reuniram representantes da ABESC, da ABECE, do IBRACON, da ABCP, dos SindusCons, da ABNT, dos laboratórios e das universidades

Contato: abesc@abesc.org.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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