Por que o edifício Wilton Paes de Almeida desabou?

Estrutura mista de concreto e aço, ausência de manutenção e segurança zero contra o fogo levaram à queda do prédio incendiado em São Paulo-SP
9 de maio de 2018

Por que o edifício Wilton Paes de Almeida desabou?

Por que o edifício Wilton Paes de Almeida desabou? 1024 683 Cimento Itambé
Roberto Dalledone Machado: queda do prédio que colapsou na cidade de São Paulo lembrou as Torres Gêmeas de Nova York
. Crédito: Cia de Cimento Itambé

Roberto Dalledone Machado: queda do prédio que colapsou na cidade de São Paulo lembrou as Torres Gêmeas de Nova York
. Crédito: Cia de Cimento Itambé

Quando as imagens de televisão mostraram o edifício Wilton Paes de Almeida desabando verticalmente, após arder em chamadas por cerca de uma hora e meia, os engenheiros civis especialistas em patologias de estruturas sujeitas ao fogo desconfiaram tratar-se de um prédio construído em aço e concreto. Preliminarmente, o professor da USP, diretor-técnico do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto) e membro da Associação Latino-americana de Patologias das Construções (ALCONPAT), Paulo Helene, chegou a atribuir à estrutura mista a causa da queda do prédio.

No entanto, visitando os escombros da edificação nos dias 8 e 9 de maio, Paulo Helene divulgou comunicado na imprensa revendo sua opinião. Agora, ele afirma que o edifício Wilton Paes de Almeida, construído nos anos 1960, no centro da cidade de São Paulo-SP, era 100% construído em concreto armado. O professor, então, atribui o desabamento a duas combinações: a falta de manutenção, já que o prédio estava abandonado há 17 anos, e o fato de o fosso do elevador ter servido como chaminé para a propagação do incêndio, o que elevou substancialmente a temperatura das estruturas, levando ao colapso.

No 3º Simpósio Paranaense de Patologias das Construções, promovido pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) na primeira semana de maio de 2018, o professor-doutor Roberto Dalledone Machado – titular do departamento de engenharia civil da UFPR -, e que palestrou sobre patologia de estruturas sujeitas ao fogo, também abordou o desabamento do edífício. “Ainda não há laudos sobre as causas do incêndio nem dados oficiais sobre o projeto estrutural, mas a forma como o edifício desabou lembrou muito o ocorrido com as Torres Gêmeas, em Nova York, em 2001, pois o prédio colapsou e caiu verticalmente”, disse, frisando que sua opinião foi baseada em informações divulgadas na imprensa e não em laudos técnicos.

Escombros do edifício Wilton Paes de Almeida, após incêndio de 1º de maio de 2018: falta de manutenção tornou estruturas de concreto armado vulneráveis ao fogo. Crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil

Escombros do edifício Wilton Paes de Almeida, após incêndio de 1º de maio de 2018: falta de manutenção tornou estruturas de concreto armado vulneráveis ao fogo. Crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil

A prefeitura de São Paulo informa que a conclusão do inquérito sobre o acidente só deve sair em 60 dias. As primeiras opiniões técnicas sobre o caso – incluindo a de Paulo Helene – se basearam em tese de doutorado do arquiteto Roberto Novelli Fialho, publicada em 2007 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a qual sugeria que o projeto arquitetônico do prédio indicava a existência de metal nas vigas.

Em sua palestra, Dalledone explica que o aço, a 600 °C, perde 80% de sua resistência e entra em colapso. Já o concreto tem resistência ao fogo maior e é capaz de suportar temperaturas acima de 900 °C, no caso dos concretos de alta resistência. Por se tratar de uma edificação com 50 anos de construção, inadequada à ABNT NBR 15200:2004 – Projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio – Procedimento, que nem existia na época, as estruturas do Wilton Paes de Almeida ficaram mais expostas ao fogo e colapsaram muito rapidamente. “O prédio de São Paulo não estava preparado para suportar exigências da norma, até porque ele foi construído antes do surgimento da norma”, ressaltou.

Margem de segurança dos elementos estruturais do edifício era mínima

Foto de acervo do edifício Wilton Paes de Almeida no auge de sua estrutura arquitetônica: marco da engenharia paulistana
. Crédito: acervo João José Basso

Foto de acervo do edifício Wilton Paes de Almeida no auge de sua estrutura arquitetônica: marco da engenharia paulistana
. Crédito: acervo João José Basso

Outros fatores contribuíram para a queda do edifício incendiado. Tratava-se de uma obra abandonada e ocupada irregularmente. Não havia manutenção e, consequentemente, a margem de segurança dos elementos estruturais era mínima. “Além disso, pelo que foi lido na imprensa, o prédio não tinha elevadores e o fosso estava totalmente livre. Isso funcionou como uma chaminé e ajudou a acelerar a propagação do fogo por toda a edificação”, destacou Dalledone, lembrando que atualmente os edifícios, mesmo os em estrutura mista, seguem padrões de segurança muito mais rigorosos em seus projetos, que englobam argamassas com cimento de amianto, revestimento com gesso e pintura intumescente, que protegem os materiais metálicos.

O edifício Wilton Paes de Almeida foi projetado pelo arquiteto Roger Zmekhol (in memorian). Inaugurado em 1968, primeiramente foi sede da Companhia Comercial de Vidros. A empresa faliu e o prédio foi encampado pela União como parte de pagamento de dívidas com o INSS. Por um tempo, abrigou a burocracia da Seguridade Social e depois se transformou em sede da Receita Federal na cidade de São Paulo. Em seguida, se tornou sede da Polícia Federal na capital paulista. Estava abandonado desde 2003.

Entrevistado
Reportagem com base na palestra do engenheiro civil e professor-doutor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Roberto Dalledone Machado, dentro do 3º Simpósio Paranaense de Patologias das Construções, promovido pela UFPR

Contato: prc.ufpr.contato@gmail.com

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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