PIB deve crescer 2,9% em 2023
Para 2024, a previsão é de uma desaceleração da atividade geral da economia
Quais as perspectivas da economia para 2024? E quais os impactos na construção civil? Este foi o tema da palestra de Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos FGV-IBRE e sócio-gerente da Ecconit, no 8º Congresso Brasileiro do Cimento. Com o tema “Mercado Imobiliário Habitacional: Desempenho Recente e Tendências”, ela fez um balanço dos últimos anos e trouxe algumas perspectivas para o setor.
Em 2021, a taxa de juros do crédito habitacional atingiu patamares historicamente baixos, impulsionando vendas e mitigando o menor volume de contratações de programas habitacionais.
“Quando falamos no setor da construção, não podemos perder de vista que é um setor com ciclos longos. A decisão de investir e a sua concretização numa obra envolvem um processo longo. A taxa de juros é fundamental para tomar decisões. Atualmente, estamos num contexto em que os projetos em andamento foram iniciados com taxas de juros muito baixas, levando a um boom imobiliário. Este é um aspecto crucial por trás de muitos números”, afirma Ana Maria.
Entretanto, em 2022, a situação começou a mudar devido à elevação das taxas e a uma oferta mais restrita. “Do mesmo modo que tivemos taxas historicamente muito baixas, a elevação foi historicamente muito alta em um curto período. Isso impactou decisões que já haviam sido tomadas”, aponta a coordenadora de projetos FGV-IBRE.
Em 2023, Ana Maria destaca que as pesquisas apontam queda no número de lançamentos, mas as vendas resistem em algumas capitais, como São Paulo. “As empresas se reorganizaram devido a um contexto mais adverso. Em cidades como São Paulo, vimos o crescimento dos lançamentos no modelo studio e 1 dormitório, atraindo principalmente investidores. Este é um público de maior renda, onde o impacto é menor diante das dificuldades de um cenário mais adverso“, comenta.
Perspectivas para 2023 e 2024:
Toda essa situação impactou negativamente no PIB, cuja previsão de crescimento para 2023 é de 2,9%, segundo Ana. “Consolidando os números de 2023, podemos dizer que vemos uma frustração de resultados. A atividade registrou uma desaceleração, mas um aspecto positivo é o ciclo imobiliário resiliente com a participação muito grande do mercado de habitação popular. Os investimentos em infraestrutura também têm representado ao longo de 2023 uma força importante para mitigar a queda da demanda das famílias por obras de reformas e pequenas construções, que foram fortes durante a pandemia, além da queda dos preços de materiais de construção. Finalmente, os programas governamentais trazendo um novo alento, principalmente olhando para a frente”, pondera Ana.
Para 2024, Ana pontua que já está prevista uma desaceleração da atividade geral da economia. “Justamente essa taxa muito alta que permaneceu ao longo de todo o ano de 2023 tem um efeito defasado. Já começamos a observar o efeito sobre a atividade. Comércio e serviços começaram a desacelerar refletindo justamente o impacto. Serviços, principalmente, puderam ao longo de 2023 ainda registrar resultados que contribuíram para este crescimento de 2,9%, muito em função do efeito pós pandemia. Eram atividades que estavam se recuperando”, comenta Ana Maria.
De acordo com o boletim Focus de 27 de outubro de 2023, as expectativas são estas:
2023 | 2024 | |
PIB | 2,89% | 1,5% |
IPCA | 4,63% | 3,9% |
SELIC | 11,75% | 9,25% |
TAXA DE CÂMBIO (R$/US$) | 5,00 | 5,05 |
FOCUS 27/10/2023
Tendências e Desafios:
Ana Maria destaca que há algumas tendências, desafios e incertezas presentes que devem influenciar resultados futuros (a curto, médio e longo prazos):
– Geopolítica mundial: Atualmente, o estresse e a tensão não afetaram enormemente os preços da energia, do barril de petróleo e das commodities metálicas. No entanto, isso não significa que uma piora no cenário não possa ocorrer, reverberando nos preços das commodities;
– Baixo crescimento da economia mundial: Países desenvolvidos estão com taxas de juros muito altas. A desaceleração do crescimento mundial é uma questão importante, pois influencia a taxa de câmbio e, consequentemente, a nossa própria taxa de juros;
– Política fiscal: É uma questão que pode estabelecer um piso mais alto para a taxa de juros, afetando toda a perspectiva;
– Novo ciclo imobiliário puxado pela habitação popular;
– Projetos de infraestrutura que já estão em andamento e já estão contratados: Isso também deve representar uma força para o mercado imobiliário, para o setor da construção e para a própria economia, pois são investimentos que têm impacto multiplicador na geração de renda e emprego;
– Crescimento populacional: O Censo mostra que a população cresce a taxas cada vez menores. Isso influenciará nossa demanda futura, uma vez que temos menos jovens e uma população que está se tornando mais madura e mais feminina. A mudança na faixa etária altera a demanda por moradia;
– Baixa produtividade: É um setor com índices muito baixos de utilização de sistemas pré-fabricados. Essa é uma lição que precisamos aprender para avançar e atender às necessidades dos próximos 10 a 20 anos;
– Reforma tributária: Tem a promessa de acabar com o viés antiprodutividade da tributação e responde por uma boa parte dos números de produtividade. “Não é apenas a questão da industrialização. A reforma tributária tem a promessa de acabar com o conflito do ICMS e ISS, facilitando a industrialização. A incidência será sobre o consumidor final. A transição, mesmo com a aprovação da PEC, será longa, e discutir as alíquotas será um ponto fundamental que definirá o percurso futuro. Se for pagar mais caro pela infraestrutura e pela construção, não teremos nenhum avanço nesse sentido.
Fonte:
Ana Maria Castelo é coordenadora de projetos FGV-IBRE e sócia-gerente da Ecconit. Mestre em economia pela Universidade de São Paulo (USP). Desde 2010 coordena e desenvolve trabalhos e levantamentos, principalmente na área de economia da construção, incluindo estudos de caracterização e análise de cadeias produtivas, com amplo uso de bases de dados setoriais, estimação/atualização de Matrizes Insumo-Produto, inclusive em nível regional; estimativa de indicadores para a construção civil, incluindo déficit e demanda habitacionais; elaboração de análises sobre conjuntura macroeconômica e setorial.
Contato
ana.castelo@fgv.br
Jornalista responsável
Marina Pastore
DRT 48378/SP
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