Pesquisa brasileira avalia uso de resíduos de construção e demolição como materiais cimentícios suplementares
Estudo desenvolvido na Unila em parceria com a UFPR aponta potencial técnico e ambiental dos pós de RCD para substituir parcialmente o clínquer no cimento Portland

Crédito: Dayana Ruth Oliveira Pruner/Acervo pessoal
A indústria do cimento é responsável por aproximadamente 7% a 8% das emissões globais de CO₂, principalmente devido à produção de clínquer. Nesse contexto, a incorporação de Materiais Cimentícios Suplementares (MCS) representa uma das estratégias mais eficazes para reduzir a pegada de carbono do setor, sem comprometer o desempenho das matrizes cimentícias.
Um estudo conduzido na Universidade Federal do Paraná (UFPR) pela pesquisadora Dra. Dayana Ruth Oliveira Pruner, com orientação do professor Dr. José Marques (UFPR) e da professora Dra. Edna Possan (UNILA), analisou o uso de pós provenientes de resíduos de construção e demolição (RCD) como MCS. Trata-se da primeira pesquisa de doutorado no Brasil a avaliar sistematicamente o comportamento da fração fina dos RCDs em substituição parcial ao clínquer.
Potencial dos resíduos de construção e demolição
Os RCDs são formados por concreto, argamassas, tijolos, telhas e outros elementos, e sua composição pode variar conforme a origem. Estudos indicam que cerca de 80% da massa desses resíduos é composta por concreto e cerâmica, o que confere elevado potencial de reaproveitamento.
Segundo dados da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (ABREMA), o Brasil gerou 44 milhões de toneladas de RCD em 2024, o que corresponde a cerca de 208 kg por habitante/ano. Atualmente, a destinação ocorre majoritariamente em aterros ou descartes irregulares. Para a pesquisadora, isso representa um desafio, mas também uma oportunidade. “Estamos transformando um passivo ambiental em um insumo de valor técnico, com impacto direto na durabilidade e sustentabilidade das matrizes cimentícias”, afirma Dayana.

Crédito: Dayana Ruth Oliveira Pruner/Acervo pessoal
Reatividade e desempenho técnico
O pó de RCD contém fases parcialmente hidratadas e resíduos de cimento ainda ativos. Durante a moagem, obtém-se uma fração fina capaz de apresentar atividade pozolânica ou hidráulica. Quando adicionada ao cimento Portland, essa fração reage em meio alcalino, promovendo a formação adicional de C-S-H e aumentando resistência e durabilidade.
“O aproveitamento dos RCDs como materiais cimentícios suplementares contribui não apenas para a redução significativa das emissões de CO₂, mas também para a valorização de resíduos em uma lógica de economia circular. Além disso, promove ganhos técnicos importantes, como durabilidade e desempenho mecânico, resultando em matrizes cimentícias mais sustentáveis”, explica a pesquisadora. Por essa pesquisa, Dayana foi premiada em primeiro lugar como a Melhor Tese de Doutorado de Materiais no 65º Congresso Brasileiro do Concreto (IBRACON), ocorrido em 2024.
Assim como outros MCS já normatizados, a exemplo da sílica ativa, cinzas volantes e escórias granuladas de alto-forno, os pós de RCD podem ser aplicados em cimentos compostos, concretos convencionais, argamassas e pré-moldados. O uso amplia a economia circular do setor, além de reduzir custos associados ao transporte e destinação de resíduos.
O trabalho também se destacou pela resiliência na execução. Em 2021, com os laboratórios fechados devido à pandemia, a pesquisadora montou um espaço experimental improvisado em sua residência. “Transformei a cozinha da casa da minha mãe em laboratório. Com apoio da família, conseguimos realizar ensaios durante meses e avançar na etapa experimental do doutorado”, relembra.

Crédito: Dayana Ruth Oliveira Pruner/Acervo pessoal
Novas linhas de pesquisa
Atualmente, o grupo de pesquisa CO2 Construction da Unila avança em estudos complementares voltados ao aumento da eficiência dos RCDs como materiais cimentícios. A Doutora Kathellen Dall Bello de Souza Risson, investiga o tratamento dos pós de RCD com emprego da tecnologia de captura e estocagem de carbono, enquanto a pesquisadora Ma. Melissa Pastorini Proença estuda o uso de bioaditivos para ampliar o potencial de aplicação desses resíduos. Essas estratégias consolidam o papel dos RCDs como insumos de baixo carbono, alinhados à descarbonização e à sustentabilidade da indústria cimenteira.
O estudo comprova que a utilização dos resíduos de construção e demolição como materiais cimentícios suplementares é tecnicamente viável e ambientalmente estratégica. Além de reduzir as emissões de CO₂, a prática contribui para aumentar a vida útil das estruturas e para consolidar a economia circular na construção civil.
A pesquisa abre espaço para que a indústria nacional adote soluções inovadoras e de baixo impacto ambiental, alinhando desempenho técnico e sustentabilidade em escala global. “A utilização de resíduos como MCS é uma solução concreta para reduzir a pegada de carbono da cadeia do cimento e diminuir o consumo de matérias-primas não renováveis”, conclui.
Entrevistada
Dayana Ruth Oliveira Pruner é graduada em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestra e doutora em Engenharia Civil pela mesma faculdade e pós-doutora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). É Professora do Centro Universitário Dinâmica das Cataratas (UDC) em cursos de Graduação e Pós-graduação. É servidora pública na Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu exercendo o cargo de Engenheira Civil na Secretaria de Planejamento Urbano. Foi coordenadora do curso de graduação em Engenharia Civil da Faculdade Educacional de Medianeira (UDC Medianeira) por 5 anos. Atua na área de construção civil, construção enxuta, logística nos canteiros de obras, gestão e gerenciamento de obras, segurança do trabalho, patologia das construções, materiais de construção e meio ambiente. Tem experiência na área de Engenharia, com ênfase em durabilidade, empacotamento de partículas, emissões e captura de CO2, aproveitamento de resíduos sólidos, sustentabilidade da construção, economia circular e ecoeficiência.
E é acima de tudo, mamãe do Levi, com sete meses!
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Jornalista responsável
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