Pavimento urbano de concreto rompe barreiras

Trabalho junto a organismos de governo começa a disseminar e abrir espaço para soluções mais econômicas e duradouras
18 de março de 2020

Pavimento urbano de concreto rompe barreiras

Pavimento urbano de concreto rompe barreiras 640 428 Cimento Itambé
Alex Maschio (centro) visita rua urbanizada com blocos de concreto na cidade de Piraquara-PR, junto com comitiva da Paranacidade. Crédito: Sedu/Paranacidade

Alex Maschio (centro) visita rua urbanizada com blocos de concreto na cidade de Piraquara-PR, junto com comitiva da Paranacidade.
Crédito: Sedu/Paranacidade

A ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) tem realizado um trabalho importante para disseminar o uso de pavimento urbano de concreto nos municípios brasileiros. O principal desafio é quebrar barreiras culturais, enraizadas principalmente no poder público, que ainda vê o asfalto como a solução para urbanizar as cidades. Com seminários e treinamento, esses obstáculos começam a ser superados. 

Para reforçar esse trabalho, a ABCP e suas associadas criaram uma comissão que busca difundir nacionalmente o pavimento urbano de concreto. A coordenação está a cargo do engenheiro civil Valter Frigieri, diretor de planejamento e mercado da associação, que explica quais objetivos serão buscados com o grupo de trabalho. Veja na entrevista a seguir:

Quais serão as atribuições da comissão criada na ABCP para difundir o pavimento de concreto urbano?
Apesar de termos muitos exemplos no Brasil do uso do pavimento de concreto urbano em vias de menor tráfego, a cultura predominante é o asfalto. Na prática, isso significa que grande parte dos projetistas, empreiteiros e técnicos de prefeitura ainda não vivenciaram o uso do concreto nessa aplicação. Para iniciarem especificação e atividade nessa tecnologia, eles irão precisar de um certo nível de orientação. Nesse quadro, entendemos que seja necessário gerar uma série de especificações e recomendações para que as experiências tenham êxito e tornem a solução tão comum quanto é hoje o asfalto. A comissão tem essa função principal: criar condições para que o pavimento de concreto urbano seja projetado e executado com boa qualidade.

Como se dará o trabalho junto ao poder público e quais os objetivos a serem alcançados?
Temos várias frentes de ação, mas vou destacar as duas principais para 2020: treinar técnicos municipais e gerar vitrines de boa utilização do nosso pavimento. São duas ações que têm vida longa e são independentes do calendário eleitoral. Claro que com o tempo outras ações de promoção, comunicação e normalização serão desenvolvidas.

A comissão também vai buscar soluções técnicas para tornar o pavimento de concreto urbano ainda mais competitivo?
Entendemos a competitividade como um composto de variáveis. Facilitar a realização de projetos a partir de ferramentas de fácil uso, envolver e capacitar cadeias produtivas locais e demonstrar a viabilidade de custo no curto e longo prazo em relação ao asfalto são temas que estão no centro de nosso planejamento. Além disso, estamos avaliando exemplos internacionais que usaram pavimentos de menor espessura.

 “Na Argentina, por exemplo, existe uma tradição de muitas décadas de uso do pavimento de concreto urbano. Lá, especificar concreto é usual.”  

Por que países como Argentina, Chile e México têm o pavimento de concreto urbano como referência, e o Brasil não?

Na Argentina, o conceito de ruas do futuro, sem meio-fio, e que facilita a mobilidade dos pedestres, já é realidade. Crédito: ABCP

Na Argentina, o conceito de ruas do futuro, sem meio-fio, e que facilita a mobilidade dos pedestres, já é realidade.
Crédito: ABCP

Nesse caso, cada país tem sua história e suas variáveis específicas. Na Argentina, por exemplo, existe uma tradição de muitas décadas de uso do pavimento de concreto urbano. Lá, especificar concreto é usual. No México, por outro lado, a história é bem mais recente e o concreto tem sido especificado em muitas obras de requalificação do espaço urbano. No Chile, o uso de soluções mais delgadas parece ser uma arma para que o concreto ganhe mercado. Enfim, aspectos como cultura, presença de uma empresa petrolífera, condição do solo e tecnologia adotada vão caracterizando de forma particular a situação em cada país.

 A comissão passa a ter caráter permanente?
Aqui na ABCP acreditamos muito em parcerias. Há mais de 16 anos adotamos a metodologia de trabalhar plataformas que unem diversos agentes da cadeia produtiva, e que pactuam objetivos comuns. Foi assim na Comunidade da Construção, no trabalho com fabricantes de artefatos e no Grupo Parede de Concreto. O Grupo Parede de Concreto, por exemplo, está junto desde 2007 e é o grande responsável pelo maior salto de ganho de market share da história recente da construção. Hoje já são mais de 140 participantes no Grupo Parede de Concreto. Entre eles, e compartilhando a coordenação conosco, estão a ABESC e o IBTS, ambas entidades que também estão somando forças nessa nova frente. Esse entrosamento e experiência que adquirimos previamente certamente serão facilitadores para a realização dos objetivos do Pavimento Urbano de Concreto. 

Regionais da ABCP também atuam para ajudar a propagar o pavimento rígido

Além do trabalho nacional da ABCP, as regionais da associação também têm papel preponderante na tarefa de propagar o uso do pavimento rígido. No Paraná, o gerente da regional sul da ABCP, o engenheiro civil Alex Maschio, está à frente desse trabalho. Existem também bons resultados no Espírito Santo e no Rio de Janeiro. Na entrevista a seguir, Maschio conta como se dá o convencimento sobre as vantagens do pavimento urbano de concreto. Confira:

O pavimento urbano de concreto, salvo todas as vantagens conhecidas, ainda enfrenta resistência das prefeituras brasileiras por “questões culturais”. Como superar essa barreira?
Apesar de todas as vantagens ambientais e sociais e, principalmente, econômicas, o pavimento de concreto ainda enfrenta certa resistência no ambiente urbano. Não é simples superar uma cultura tão enraizada e construída ao longo de várias gerações. A única forma de vencer essa barreira é por meio da disseminação de conhecimento, através de seminários e treinamentos, mostrando as vantagens do pavimento rígido e, mais importante: desmistificar os paradigmas do custo elevado e da dificuldade de manutenção. Esse é o caminho. Evidentemente, esse trabalho deve vir junto com um forte trabalho institucional junto aos governos municipais, estaduais e federal, exigindo políticas públicas adequadas e que contemplem outras soluções, além do tradicional asfalto. 

Sob o ponto de vista técnico, o pavimento urbano de concreto já está pronto para competir de igual para igual com o asfalto ou ainda faltam avanços?
Está pronto. A solução tem plenas condições técnicas e de competitividade, o que possibilita que seja utilizada com muitos ganhos em qualquer município brasileiro. O ponto é fazer uma comparação justa e séria entre soluções e técnica, e que preze pelo bom uso do recurso público. Óbvio que uma solução não elimina outra. Não existe uma solução única. Há espaço para todas as boas soluções técnicas e devemos prezar pela engenharia do processo. De qualquer forma, avanços e evolução tecnológica sempre são necessários e bem-vindos. Essa é uma busca constante por parte da indústria do cimento.

No Paraná, parece haver cases bem consolidados e boa parte dos municípios já está ciente das vantagens do pavimento urbano de concreto. Como se deu esse trabalho de conscientização?
O trabalho está avançando. Por conta de uma parceria com o Governo do Estado (através de Termo de Cooperação Técnica com o Paranacidade) a ABCP está promovendo treinamentos específicos para os técnicos (engenheiros, arquitetos e gestores) de todos os municípios do Estado. Esses treinamentos ocorrem via associações de municípios e têm o propósito de desmistificar o pavimento de concreto como solução para vias urbanas. Para se ter ideia, em 2019 foram realizados 7 treinamentos, dos quais participaram 304 profissionais de 129 prefeituras diferentes. A meta para 2020 é atingir todos os 399 municípios do Paraná. Esses treinamentos começam a gerar resultados e já há cases definidos em Guaíra, Ponta Grossa, Araucária e Fazenda Rio Grande, que devem ser executados ainda no primeiro semestre. 

“Não é mais aceitável investir em soluções mais caras e que tenham menor durabilidade, como o asfalto.”

Nos outros estados, como está esse trabalho?

Em Cachoeiro do Itapemirim-ES, a prefeitura rompeu paradigmas e decidiu urbanizar as ruas de bairros com pavimento de concreto. Crédito: PMCI

Em Cachoeiro do Itapemirim-ES, a prefeitura rompeu paradigmas e decidiu urbanizar as ruas de bairros com pavimento de concreto.
Crédito: PMCI

Para cada estado há uma estratégia diferente em função das possibilidades existentes. No Paraná, existe o fato de o organismo responsável por grande parte dos financiamentos de infraestrutura aos municípios (Paranacidade) interessar-se pela tecnologia, o que facilitou muito a evolução. Mas essa realidade não se repete na maioria dos Estados, necessitando a existência de outras estratégias. De qualquer maneira, cases começam a surgir. Entre os quais, podemos destacar os de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, e Rio de Janeiro.

Ao que parece, o foco da ABCP para disseminar o pavimento urbano de concreto está concentrado primeiramente nos municípios pequenos e médios. Há alguma razão para isso?
Estamos trabalhando todas as possibilidades, inclusive as grandes cidades. Ocorre que, invariavelmente, os grandes municípios estão aparelhados para o asfalto (possuem usinas, equipamentos, estrutura de manutenção, etc) dificultando ainda mais a geração de cases para o pavimento de concreto urbano. Além disso, agrega dificuldade também o suposto entendimento de que dentro das grandes prefeituras há especialistas com conhecimento suficiente de todas as soluções e técnicas disponíveis no mercado, o que nem sempre se confirma. Já nas cidades pequenas e médias, por sua vez, além de uma incidência menor desse aparelhamento para o asfalto, normalmente há uma melhor receptividade, facilitando o acesso.

O ano de 2020 envolve as eleições municipais. O pavimento urbano de concreto vai entrar na pauta das discussões para a melhoria das cidades?
Precisa entrar na pauta. Não é mais aceitável que continuemos a investir em soluções mais caras e que tenham menor durabilidade, sem que nada seja feito. A própria Constituição Federal de 1988 – Lei Maior que rege nosso país – traduz isso em dois princípios: 1) Princípio da Eficiência: “O serviço público deve ser prestado de forma rápida e eficiente, sem onerar os cofres públicos ao ponto de causar desperdícios”; 2) Princípio da Economicidade: “Obtenção do melhor resultado estratégico possível de uma determinada alocação de recursos financeiros”. Olhando de forma direta para a questão da pavimentação, com a atual condição de preço do asfalto e sua altíssima manutenção, podemos dizer que os municípios que não olharem atentamente para pavimentos mais duradouros e de baixo custo inicial, como o de concreto, podem estar descumprindo a lei, o que é gravíssimo do ponto de vista administrativo. Isso pode gerar sérias sanções por parte dos organismos competentes.

Entrevistados
Engenheiros civis Valter Frigieri, diretor de planejamento e mercado da ABCP, e Alex Maschio, gerente da regional sul da ABCP

Contatos
valter.frigieri@abcp.org.br
alexsander.maschio@abcp.org.br
www.abcp.org.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330

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