Antes mesmo de ficar pronta, obra apresenta trincas em suas paredes. Para especialista, empreendimento reúne uma série de equívocos
Por: Altair Santos
No começo de fevereiro de 2016, a estrutura de concreto do aqueduto do Mari – o terceiro do eixo norte da transposição do rio São Francisco -, entre os reservatórios do Tucutu e de Terra Nova, na região de Cabrobó-PE, não resistiu à força da água, rompeu e causou vazamento. O colapso lança dúvidas sobre a qualidade da obra, como questiona o engenheiro civil Marcio de Almeida Pernambuco, coordenador de valorização profissional do CREA-SP. “Como engenheiro, digo que é um projeto muito questionável, que não atendeu vários fatores técnicos”, diz.
Autor de um artigo que questiona a responsabilidade dos profissionais da engenharia que deixaram a obra entrar em execução, Marcio Pernambuco entende que o projeto da transposição do rio São Francisco “ofendeu a Lei 8.666 (Lei das Licitações)”. “Não houve aprofundamento técnico da obra. Faltaram estudos e consolidação de projetos básicos e executivos”, completa. Na condição de membro do CREA-SP, e de acordo com a função que ocupa no conselho, o engenheiro ainda faz uma advertência sobre os profissionais que atuaram na obra: “Acho que os engenheiros que foram contratados para elaborar o projeto deveriam responder judicialmente e em seus respectivos conselhos por falta de ética”.
O trecho que rompeu da transposição do São Francisco está a cargo do consórcio formado pelas empresas Carioca Engenharia, Serveng Civilsan e S.A. Paulista – terceirizadas da Mendes Júnior. Questionado desde o começo, em 2007, o empreendimento com 477 quilômetros de extensão já está entre as obras mais polêmicas do país. Com custo inicial de R$ 4,5 bilhões, o valor já ultrapassa os R$ 8 bilhões. A primeira previsão era de que a conclusão ocorresse em 2012. Agora, a previsão mais otimista é que a execução seja finalizada no segundo semestre de 2017. “Obras sem projetos encarecem sem limites”, ressalta Marcio Pernambuco.
Causas e efeitos
A ruptura do concreto que reveste os trechos da transposição pode ter três causas: excesso de fissuras por má qualidade do material, juntas de dilatação mal concebidas e questões geológicas. Segundo o ministério da integração nacional, que é quem faz o repasse de recursos para a obra, um estudo técnico vai avaliar a causa do rompimento do canal. Na primeira semana de março ainda não havia saído nenhum parecer. “Isso é que dá o fator político atrapalhar o técnico, que requer estudos e maturação para executar uma obra”, entende o coordenador do CREA-SP.
A transposição do rio São Francisco foi concebida para que a água percorra o canal por gravidade em boa parte do trecho. Com isso, atenderá 390 municípios dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Mas Marcio Pernambuco não está convicto disso. Para ele, em alguns trechos a evaporação da água pode ser mais intensa que o volume que irá se deslocar por gravidade. “O que eu entendo é que outras alternativas deveriam ter sido estudadas para tornar a obra realmente viável”, destaca.
Leia aqui o artigo do engenheiro Marcio de Almeida Pernambuco.
Entrevistado
Engenheiro civil Marcio de Almeida Pernambuco, coordenador de valorização profissional do CREA-SP
Contato: engpernambuco@gmail.com
Créditos Fotos: Divulgação