Patologias ameaçam transposição do São Francisco

8 de março de 2016

Patologias ameaçam transposição do São Francisco

Patologias ameaçam transposição do São Francisco 960 720 Cimento Itambé

Antes mesmo de ficar pronta, obra apresenta trincas em suas paredes. Para especialista, empreendimento reúne uma série de equívocos

Por: Altair Santos

No começo de fevereiro de 2016, a estrutura de concreto do aqueduto do Mari – o terceiro do eixo norte da transposição do rio São Francisco -, entre os reservatórios do Tucutu e de Terra Nova, na região de Cabrobó-PE, não resistiu à força da água, rompeu e causou vazamento. O colapso lança dúvidas sobre a qualidade da obra, como questiona o engenheiro civil Marcio de Almeida Pernambuco, coordenador de valorização profissional do CREA-SP. “Como engenheiro, digo que é um projeto muito questionável, que não atendeu vários fatores técnicos”, diz.

Trecho com avarias: placa de concreto entrou em colapso

Trecho com avarias: placa de concreto entrou em colapso

Autor de um artigo que questiona a responsabilidade dos profissionais da engenharia que deixaram a obra entrar em execução, Marcio Pernambuco entende que o projeto da transposição do rio São Francisco “ofendeu a Lei 8.666 (Lei das Licitações)”. “Não houve aprofundamento técnico da obra. Faltaram estudos e consolidação de projetos básicos e executivos”, completa. Na condição de membro do CREA-SP, e de acordo com a função que ocupa no conselho, o engenheiro ainda faz uma advertência sobre os profissionais que atuaram na obra: “Acho que os engenheiros que foram contratados para elaborar o projeto deveriam responder judicialmente e em seus respectivos conselhos por falta de ética”.

O trecho que rompeu da transposição do São Francisco está a cargo do consórcio formado pelas empresas Carioca Engenharia, Serveng Civilsan e S.A. Paulista – terceirizadas da Mendes Júnior. Questionado desde o começo, em 2007, o empreendimento com 477 quilômetros de extensão já está entre as obras mais polêmicas do país. Com custo inicial de R$ 4,5 bilhões, o valor já ultrapassa os R$ 8 bilhões. A primeira previsão era de que a conclusão ocorresse em 2012. Agora, a previsão mais otimista é que a execução seja finalizada no segundo semestre de 2017. “Obras sem projetos encarecem sem limites”, ressalta Marcio Pernambuco.

Márcio Pernambuco: para ele, fator político atrapalhou o técnico

Marcio Pernambuco: para ele, fator político atrapalhou o técnico

Causas e efeitos

A ruptura do concreto que reveste os trechos da transposição pode ter três causas: excesso de fissuras por má qualidade do material, juntas de dilatação mal concebidas e questões geológicas. Segundo o ministério da integração nacional, que é quem faz o repasse de recursos para a obra, um estudo técnico vai avaliar a causa do rompimento do canal. Na primeira semana de março ainda não havia saído nenhum parecer. “Isso é que dá o fator político atrapalhar o técnico, que requer estudos e maturação para executar uma obra”, entende o coordenador do CREA-SP.

A transposição do rio São Francisco foi concebida para que a água percorra o canal por gravidade em boa parte do trecho. Com isso, atenderá 390 municípios dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Mas Marcio Pernambuco não está convicto disso. Para ele, em alguns trechos a evaporação da água pode ser mais intensa que o volume que irá se deslocar por gravidade. “O que eu entendo é que outras alternativas deveriam ter sido estudadas para tornar a obra realmente viável”, destaca.

Ruptura causou vazamento da água canalizada no trecho de Cabrobó, em Pernambuco

Ruptura causou vazamento da água canalizada no trecho de Cabrobó, em Pernambuco

Leia aqui o artigo do engenheiro Marcio de Almeida Pernambuco.

Entrevistado
Engenheiro civil Marcio de Almeida Pernambuco, coordenador de valorização profissional do CREA-SP
Contato: engpernambuco@gmail.com

Créditos Fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
Fissuras no concreto podem denunciar má qualidade do material

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