Ferramentas como o Airbnb levaram a indústria hoteleira a se reinventar. Não apenas na forma de atrair o cliente, mas de projetar suas edificações. O importante, agora, é fazer o hóspede se sentir em casa. Para chegar a esse resultado, não se constrói apenas com arquitetos e engenheiros civis. É preciso entender aonde o hotel será construído e o que o entorno pode oferecer para ajudar na concepção do projeto.
Essa nova realidade foi apresentada pelo vice-presidente de design e construção da AccorHotels para a América do Sul, o engenheiro civil Paulo Mancio, durante o GreenBuilding Brasil 2018, que aconteceu de 5 a 7 de novembro em Curitiba-PR. A empresa onde Mancio atua é global e vale 14 bilhões de euros na bolsa de valores de Paris. Ela agrega uma gama de mais de 20 marcas, distribuídas em 4.600 hotéis pelo mundo, e que envolvem 290 mil colaboradores.
A rede viabiliza 160 obras por ano, seja construindo novos hotéis ou reformando. Mas antes de construir, são os antropólogos que dão o primeiro parecer. Eles são contratados para diagnosticar o entorno da edificação e como isso pode ser traduzido para encantar o cliente. “Em seguida, as informações são passadas a um roteirista, que transforma os dados em um filme. É esse filme que vai embasar o projeto arquitetônico, e que vai traduzir tudo o que a obra precisa para agradar o hóspede”, revela Mancio.
No Brasil, essa nova forma de construir hotéis será testada no projeto do Twenty Five Hours que será edificado no bairro de Pinheiros, em São Paulo-SP. “Será um hotel voltado para a geração millennials”, diz Paulo Mancio, que destaca ainda que o cliente que frequenta os hotéis do grupo para o qual ele trabalha têm também uma preocupação com a sustentabilidade. “Nós cuidamos desse serviço com 60 práticas sustentáveis, sem que o hóspede perceba”, completa.
Em média, os hotéis da rede AccorHotels espalhados pelo mundo tratam de 30% a 35% de seus efluentes, além de promover a reciclagem da água e usar fontes alternativas de energia, como a fotovoltaica. No Brasil, lembra Mancio, há um paradoxo. O país tem ao mesmo tempo o hotel mais sustentável do mundo, porém esbarra na burocracia pública, que impede que outras instalações possam usufruir da mesma tecnologia.
Ações a favor da sustentabilidade variam de município para município no Brasil
O Sofitel Jequitimar, localizado no Guarujá-SP, é o único do mundo que trata 100% seus efluentes líquidos. Para conseguir realizar essa operação, o hotel conta com três Estações de Tratamento de Água (ETAs). O mesmo foi tentado para um hotel Ibis em Macaé-RJ, mas o poder público municipal vetou e os efluentes são jogados diretamente no esgoto, mesmo com o hotel podendo tratá-los. “A legislação em alguns lugares é nociva, mas continuamos otimistas com o Brasil e convictos de que devemos investir mais”, diz Paulo Mancio.
Independentemente dos problemas nacionais, o vice-presidente de design e construção da AccorHotels para a América do Sul revela que sustentabilidade e inovação já estão inseridas no DNA do grupo. “Esse DNA é composto por design, sustentabilidade, inovação, tecnologia, food & beverage e originalidade. Tudo isso para atender o novo perfil de clientes de hotéis”, conclui.
Entrevistado
Reportagem com base no seminário “Sustentabilidade? Isso já fazemos. Agora a busca é por inovação”, ocorrido dentro do GreenBuilding Brasil 2018
Contato: contato@gbcbrasil.org.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330