Niemeyer transformou concreto em obra de arte
O mais famoso arquiteto brasileiro morre aos 104 anos, deixando um legado de 500 obras espalhadas por todos os continentes.
O mais famoso arquiteto brasileiro morre aos 104 anos, deixando um legado de 500 obras espalhadas por todos os continentes
Por: Altair Santos
Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares, ou simplesmente Oscar Niemeyer, deixa como seu principal legado para a arquitetura e a engenharia o fato de ter conseguido transformar o concreto armado em arte. Em As Curvas do Tempo, seu livro de memórias lançado quando ainda era um jovem de 91 anos, ele descreve sua paixão. “De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein”, narra, pautando a partir desta frase toda a sua obra.
Com Niemeyer, a densidade do concreto tornou-se leve. É o que se pode constatar no conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte/MG, ou nos verdadeiros palácios que projetou em Brasília/DF. Do Alvorada ao Planalto, passando pelo Congresso Nacional, o prédio do Supremo Tribunal Federal ou pela catedral do Distrito Federal, é possível ver um Niemeyer comprometido com sua paixão pelas curvas e com a funcionalidade dos prédios que idealizou.
Essa característica própria do arquiteto o fez espalhar obras por todos os continentes. Nas cidades contempladas com seus projetos, as construções tornaram-se verdadeiros marcos para a arquitetura local. Calcula-se que cerca de 500 obras assinadas por Niemeyer estejam hoje em algum lugar do mundo. O número tende a crescer mesmo após sua morte, pois ele deixou projetos prontos, cujas construções ainda estão sendo viabilizadas. Não é à toa que o professor e sociólogo Darcy Ribeiro, um de seus melhores amigos, e também já falecido, o definiu com a seguinte frase: “Daqui a 300 anos o único brasileiro conhecido será Oscar Niemeyer”.
Entre as “esculturas” que Niemeyer deixou fora do Brasil, as mais relevantes são as seguintes:
1938 – Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York (Nova York – EUA) – desmontada
1947 – Sede da ONU (Nova York – EUA)
1947 – Residência de Burton Tremaine (Santa Bárbara – EUA) – projetada
1955 – Museu de Arte Moderna (Caracas – Venezuela) – projetada
1957 – Prédio para a exibição Interbau (Berlim – Alemanha)
1962 – Feira Internacional e Permanente do Líbano (Trípoli – Líbano)
1963 – Universidade de Haifa – pré-projeto (Haifa – Israel)
1966 – Pestana Casino Park (Funchal – Portugal)
1968 – Centro Cívico (Argel – Argélia) – interrompida
1968 – Mesquita de Argel sobre o mar (Argel – Argélia)(projetada)
1968 – Sede da Editora Mondadori (Milão – Itália)
1969 – Universidade Mentouri (1ª etapa) (Constantine – Argélia)
1971 – Sede do Partido Comunista Francês (Paris – França)
1972 – Centro Cultural Le Volcan (Le Havre – França)
1972 – Bolsa do Trabalho (Bobigny – França)
1975 – Sede da FATA Engenharia (Turim – Itália) – projetada
1975 – Escola Politécnica de Arquitetura e Urbanismo (Argel – Argélia)
1975 – Sala Poliesportiva “A Cúpula” (Argel – Argélia)
1980 – Mesquita estadual de Penang (George Town – Malásia)
1981 – Ilha de Lazer (Abu Dhabi – Emirados Árabes Unidos)
1989 – Sede do jornal L’Humanité (Seine-Saint-Denis – França)
2001 – Auditório (Ravello – Itália) – projetada
2001 – Acqua City Palace (Moscou – Rússia) (projetada)
2003 – Pavilhão da Galeria Serpentine (Londres – Reino Unido)
2006 – Centro Cultural Principado de Astúrias (Avilés – Espanha)
2007 – Centro Cultural (Valparaíso – Chile) – projetada
2007 – Universidade de Ciência e Informática (Havana – Cuba ) – inacabada
2008 – Puerto La Musica (Rosário – Argentina)
2010 – Auditório (Ravello – Itália) – projetada
Trajetória
Oscar Niemeyer não foi um gênio precoce. Formou-se engenheiro-arquiteto pela Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, com quase 27 anos. Trabalhou de graça até praticamente os 30 anos e somente aos 33 assinou sua primeira obra relevante: o conjunto arquitetônico da Pampulha, encomendada pelo então prefeito de Belo Horizonte/MG, Juscelino Kubitschek. Ainda pelas mãos de JK, projetou Brasília/DF. Daí em diante, não parou mais. “Tenho vontade de ajudar as pessoas, ser-lhes útil, dividir”, se autodefiniu.
Se não bastasse todo o seu legado, Oscar Niemeyer ainda ajudou na evolução da indústria do cimento e do concreto. Exigente com a qualidade do material empregado em suas obras, ele incentivou a criação de normas e especificações cada vez mais detalhadas. Sobre a predileção pelo concreto, a melhor definição que deu foi em uma de suas últimas entrevistas – publicada no começo de 2012 pela revista do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto). “O concreto corresponde a um material especialmente generoso, capaz de oferecer ilimitadas possibilidades ao arquiteto. Ainda mais quando esse se anima em explorar as linhas curvas ou o jogo entre retas e curvas, como é o meu caso”, disse.
Confira linha do tempo sobre a vida de Oscar Niemeyer: clique aqui
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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