Negligenciar inspeções de obra é cultural no Brasil

10 de fevereiro de 2009

Negligenciar inspeções de obra é cultural no Brasil

Negligenciar inspeções de obra é cultural no Brasil 150 150 Cimento Itambé

Proprietários precisam aprender a conservar as obras. Caso contrário, não haverá lei e nem fiscalização que deem jeito

Flávio Figueiredo: “Aqui se cultua o pensamento do descartável”

Flávio Figueiredo

O engenheiro civil Flávio Figueiredo é integrante das comissões de peritos nomeadas pelos M. M Juízes das Varas da Fazenda Pública de São Paulo. Uma de suas funções é investigar as causas que fazem construções sofrerem danos, e que as levam à interdição. Com conhecimento de causa, Figueiredo defende a tese de que o brasileiro ainda não assimilou culturalmente a importância da inspeção periódica de obras.

Uma das razões, avalia Flávio Figueiredo, se deve ao fato de no Brasil a oferta de imóveis ser muito grande. “As pessoas não têm uma necessidade, como o europeu, por exemplo, de preservar o que é seu, já que não existe mais espaço para as cidades se expandirem. Aqui não, a pessoa deixa que o imóvel se deteriore, pois depois ela compra outro, vai morar em outro lugar, ou seja, não tem aquela cultura”, disse.

O engenheiro completa seu raciocínio com a tese de que não é nem uma questão econômica. “A pessoa dá outra prioridade aos seus recursos, em vez de manter a construção de forma adequada. Prefere comprar um carro novo, por exemplo, do que gastar para preservar seu imóvel.”

Para o engenheiro, esse hábito de não preservar também contaminou a qualidade das inspeções. “O mau hábito de não preservar afetou o hábito de se inspecionar”, teoriza. Ele revela que mesmo em cidades onde a legislação torna obrigatória a inspeção, a reparação do imóvel não é adequada. “As pessoas saem em busca de um reparo barato, apenas para cumprir a legislação. Então a inspeção acaba não cumprindo a sua finalidade, que seria fornecer uma orientação para aquilo que você precisa fazer”, afirma.

Flávio Figueiredo chama a atenção para o fato de a demanda por inspeções periódicas só se tornarem rotineiras quando acontece algum acidente, como o que ocorreu em janeiro em um dos templos da Igreja Renascer, em São Paulo. “Aí você tem uma movimentação no sentido de as pessoas procurarem examinar com um pouco mais de cuidado, pelo menos por um tempo”, disse. O recomendado, alerta o engenheiro, é que se obedeça o prazo entre uma inspeção e outra. “Mas dependendo da situação, da idade do imóvel, é conveniente se reduzir este intervalo”, comenta, fazendo uma analogia: “Se a pessoa espirra uma vez ou tosse uma vez, não é nada. Mas se fica tossindo uma semana, significa que alguma coisa está anormal. Pode ser que não seja nada, mas pode ser que tenha algo sério prestes a acontecer. E é aí que a inspeção é decisiva para se evitar um desastre.”

Sobre a função dos inspetores, Flávio Figueiredo afirma o risco maior é quando a mesma pessoa que faz a manutenção é também a que faz o laudo. “Vejo um conflito de interesses aí”, assegurando que na maioria das vezes a inspeção é ética e profissional. “Via de regra ela é feita de maneira autônoma, com a pessoa contratando uma empresa ou um profissional que esteja devidamente qualificado”, observa. A respeito do fato de algumas construções possuírem ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) e mesmo assim serem alvo de desastres, ele explica: “Ela pode ter uma ART para projeto ou uma ART para edificação. Agora, quem está usando o imóvel é que precisa estar atento às suas manifestações. A construção não é eterna e precisa de manutenção. Alguns pontos de manutenção são menos importantes e outros mais”, assegura.

Mandamentos da inspeção de obras

Toda obra tem de ser projetada pensando na manutenção.

Toda obra tem vida útil e a manutenção ou a ausência dela podem abreviar o tempo de vida da construção.

Fissuras, rachaduras, infiltrações, destacamento de revestimento, entre outras avarias, são sinais de que a obra tem alguma patologia.

Uma obra deve perseguir o conceito de sustentabilidade.

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação.

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