Mobilidade urbana, o legado da Copa, está comprometido
Seriam 83 obras vinculadas ao evento, com o objetivo de melhorar o tráfego urbano, transporte público e qualidade de vida dos cidadãos. Porém, só 25 saíram o papel.
Seriam 83 obras vinculadas ao evento, com o objetivo de melhorar tráfego urbano, transporte público e qualidade de vida dos cidadãos. Porém, só 25 saíram do papel
Por: Altair Santos
No começo seriam 101. Daí, baixaram para 83. No final de 2012, com a revisão da Matriz de Responsabilidades para a Copa do Mundo, seis delas foram excluídas do cronograma. Em tese, o número oficial caiu para 77. Mas o fato é que, independentemente da quantidade, as obras de mobilidade urbana para o evento da Fifa que acontecerá em 2014 no Brasil representam hoje a maior ameaça para que o país possa sair do mundial com uma boa avaliação internacional. Pior: pelo atraso que vêm apresentando, é possível que a maioria não consiga ser concluída até junho do próximo ano. Significa que o principal legado que a Copa deixaria para os brasileiros está comprometido.
Na opinião de um dos principais críticos de como o Brasil vem se organizando para a Copa do Mundo, o diagnóstico é simples. Para o deputado federal Romário Faria – ex-jogador de futebol e tetracampeão mundial com a Seleção Brasileira -, os gestores públicos fizeram uso político do evento, em vez de planejá-lo. “O erro está na incapacidade de alguns gestores de planejar, pensar no futuro para além de sua gestão”, resume, quando perguntado onde o país errou ao não priorizar o legado da Copa. Sem rodeios, Romário vai além. Avalia que a falta de obras estratégicas para o bom funcionamento do evento fará o Brasil ter problemas em junho de 2014. “Não há dúvida de que vamos passar vergonha”, diz.
Segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgado no final de 2012, das 77 obras de mobilidade urbana que ainda estão programadas, somente 10 mantiveram-se fiéis ao projeto original e apenas 25 saíram do papel. “O atraso e as alterações nos projetos destas obras encareceram em R$ 3,5 bilhões o custo do mundial, segundo o mais recente levantamento do Tribunal de Contas da União. Este número ainda não está fechado e pode encarecer ainda mais até a Copa“, revela Romário. As obras a que se refere o deputado são corredores de ônibus, metrôs, linhas de trem, terminais rodoviários, ferroviários e aéreos, além de adequações em vias públicas.
Entre os projetos que já estão certos que não serão viabilizados estão os seguintes: VLT do Distrito Federal, ligando o aeroporto à Asa Sul; duplicação da DF-047, também em Brasília; corredor metropolitano de Curitiba, ligando o aeroporto Afonso Pena à rodoferroviária da capital paranaense; extensão do metrô de Fortaleza; monotrilho de Manaus; BRT de Manaus; reurbanização da avenida Engenheiro Roberto Freire, em Natal; monotrilho entre o aeroporto de Congonhas e o bairro do Morumbi, em São Paulo, e a ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. “Muitos políticos fizeram carnaval em cima da escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo. Eles demoraram para botar os pés no chão, pensar no país e iniciar as ações”, critica Romário.
Para a construção civil, atrasos e interrupções de projetos também causam prejuízos. No final de 2012, relatório da Rio Bravo Investimentos, que analisou dados do PAC da Copa apenas em São Paulo e Rio de Janeiro, estimou que construtoras contratadas para atuar nas obras de infraestrutura nestas cidades amargariam uma perda de R$ 800 milhões só com o adicional de turno extra a ser pago aos operários. Porém, apesar do aumento de custo das empresas, o impacto causado pelo corte de obras levou o governo federal a rever o número de empregos diretos que seriam gerados pelo legado da Copa. Estimavam-se 710 mil, mas atualmente não chegam a 330 mil.
Entrevistado
Deputado Federal Romário Faria
Currículo
– Romário de Souza Faria é ex-jogador de futebol e, como parlamentar, cumpre seu primeiro mandato, eleito pelo PSB do Rio de Janeiro.
Contato: dep.romario@camara.gov.br
Créditos fotos: Divulgação
Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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