Uma lição para o futuro

6 de janeiro de 2009

Uma lição para o futuro

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Ações preventivas de engenharia poderiam ter minimizado catástrofe que ocorreu em Santa Catarina

Engº. Luiz Antoniutti Neto

Engº. Luiz Antoniutti Neto

As fortes chuvas que atingiram Santa Catarina em novembro do ano passado deixaram um saldo negativo de 135 mortes, mas levaram à reflexão sobre o que poderia ter sido feito para prevenir e minimizar a tragédia causada pela catástrofe natural. Isso levou o governo federal a convocar a Associação Brasileira de Mecânica de Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS) para avaliar os estragos e propor soluções a fim de amenizar novos desastres.

O Núcleo Regional Paraná – Santa Catarina (NRPS) da ABMS foi quem fez o estudo, liderado pelos engenheiros Luiz Antoniutti Neto e Ney Augusto Nascimento. Uma das conclusões do grupo é de que já é hora do Brasil pensar em um órgão voltado para catástrofes naturais, a fim de aglutinar os vários estudos realizados no país. “Acho que o governo deveria pensar em criar um departamento, talvez ligado ao ministério das cidades, para concentrar todo este pensamento. Você tem gente nas universidades pensando em catástrofes, outras pessoas pensando nos problemas dos municípios, mas elas estão espraiadas. Precisaria concentrar isso”, define Luiz Antoniutti Neto.

Outra lição tirada da tragédia em Santa Catarina é que o país não pode mais deixar de pensar no planejamento da ocupação urbana e rural das cidades brasileiras. Isso passa pela vontade política e pela contratação de profissionais como engenheiros geotécnicos, geólogos, geomorfólogos e especialistas em meteorologia. “É preciso criar um corpo técnico que mapeie o risco geotécnico das regiões suscetíveis e aponte soluções”, diz Antoniutti.

O engenheiro cita o exemplo do Rio de Janeiro, que criou GEO-RIO – órgão ligado à prefeitura do Rio para monitorar as encostas e as chuvas, e que dispõe de verba própria para obras de engenharia de contenção. “Desde a criação do GEO-RIO, o Estado reduziu o efeito das chuvas sobre a perda de vidas humanas e maiores prejuízos materiais”, revela Francis Bogosian, presidente da Associação de empresas de Engenharia do Estado do Rio de Janeiro, que em recente artigo publicado nos jornais criticou a redução do orçamento do GEO-RIO.

Traçando um paralelo com o que ocorreu no Vale do Itajaí, Luiz Antoniutti Neto avalia que a engenharia poderia ter agido de forma preventiva, principalmente para preservar a atividade econômica da região. “Havia indústrias que poderiam ter se protegido das avalanches construindo taludes artificiais. Outro caso é o Porto de Itajaí. Ali terá de se pensar em soluções de engenharia, em soluções geotécnicas. Nas áreas que ruíram será necessária a intervenção do concreto, através de injeção de alta pressão para melhorar o solo com cimento”, analisa.

Outro alerta feito pelo engenheiro se refere à necessidade de proteger melhor a malha rodoviária do Brasil. “Hoje, com o advento das concessões rodoviárias, as rodovias carecem de obras geotécnicas, de obras de concreto associadas às obras de drenagem e contenção, muros de gravidade, ou seja, um mix de soluções de engenharia para trazer segurança, conforto ao usuário e garantia de continuidade do fluxo de veículos”, afirma Antoniutti, garantindo que a prevenção custa 10% do que é gasto após o desastre. “As tragédias naturais continuarão ocorrendo, mas o planejamento e a prevenção podem reduzir o potencial destrutivo delas”, conclui.

Onde a mão do homem conteve a natureza

Estados Unidos: a intervenção da engenharia controlou as enchentes no Vale do Rio Tennesse, que por décadas assolaram a região.

Brasil: Curitiba alterou as regras de construção e hoje os empreendimentos têm que se preocupar com a taxa de infiltração e criar bacias de retenção.

Holanda: o país faz a gestão das águas há mais de um século. Primeiro foram os diques, que se aperfeiçoaram e hoje funcionam com comportas inteligentes.

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