Trem de Alta Velocidade está cada vez mais devagar

13 de setembro de 2013

Trem de Alta Velocidade está cada vez mais devagar

Trem de Alta Velocidade está cada vez mais devagar 1024 768 Cimento Itambé

Com licitação adiada, TAV brasileiro só se viabiliza economicamente se houver ramais que o levem para o sul do país e para Minas Gerais

Por: Altair Santos

No dia 12 de agosto de 2013, o governo federal adiou por pelo menos mais um ano a nova rodada de leilões que viabilizaria o primeiro trem-bala brasileiro. O projeto do Trem de Alta Velocidade (TAV) já se arrasta há cinco anos e as previsões mais otimistas são de que, se nenhum imprevisto atrasá-lo novamente, os veículos só entrarão em funcionamento em 2023. O prazo de dez anos para que o sistema passe a operar é admitido pelo próprio coordenador de infraestrutura do TAV, Eloi Ângelo Palma Filho, vinculado à Empresa de Planejamento e Logística (EPL). “Trata-se de uma obra de que ainda precisamos encontrar a modelagem ideal. Acredito que se a construção começar em 2017 podemos finalizá-la até 2023”, diz o executivo, que recentemente palestrou no Concrete Show 2013.

Eloi Ângelo Palma Filho, da EPL: se tudo der certo, trens só irão operar em 2023

O projeto original prevê um trem-bala ligando as cidades de São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro. Mas a própria EPL admite que o sistema possa se tornar mais interessante aos futuros concessionários – e consequentemente ter maior viabilidade econômica – se forem pensados em ramais que estendam o TAV até Curitiba (partindo de São Paulo) e até Belo Horizonte e o Triângulo Mineiro (saindo do Rio de janeiro e de Campinas, respectivamente). “Não tenho dúvidas de que o trem-bala irá se viabilizar no Brasil, mas, como disse, precisamos encontrar o modelo que melhor se adapte à realidade do país. Por enquanto, o único consenso que existe é que será um TAV e não um trem de média velocidade. Até porque, o objetivo do projeto é concorrer com o transporte aéreo”, afirma Eloi Ângelo Palma Filho.

Até que a nova rodada de licitações seja marcada, a EPL espera ter definido uma gerenciadora de projetos, a qual fará a modelagem dos editais dividindo-os em lotes, já pensando em sistemas de manutenção, licenças ambientais, linhas de alta tensão e subestações de energia. Tudo isso ficará a cargo do governo. Cada lote terá um projeto de engenharia completo, que incluirá as obras de ferrovia, pontes, túneis e todos os demais equipamentos. Um exemplo é o trajeto entre São Paulo e Rio, passando por Campinas. Pelo projeto original, concebido em 2008, o trem-bala irá percorrer 511 quilômetros, dos quais 312 serão em superfície, 108 por pontes e viadutos e 91 através de túneis. “Dependendo da tecnologia que ganhar, isso pode ser mantido ou mudar”, revela o executivo da EPL.

Uma medida prática tomada pelo ministério dos Transportes, ao qual a Empresa de Planejamento e Logística está subordinada, foi adquirir um software chamado Quantum, o qual irá simular pelo menos 50 traçados para o projeto do trem-bala, já calculando o valor da obra de engenharia. “Esse software nos dará uma noção do custo atual da obra. Em 2008, ela foi orçada em R$ 27 bilhões. Hoje, não temos como estimar, porque há muitas complexidades”, comenta Eloi Ângelo Palma Filho. Entre os detalhes técnicos a serem definidos está o modelo de túnel a ser adotado: se com galerias paralelas (trens percorrendo o mesmo túnel) ou singelas (túneis separados para trens que vão e que vêm). Outra incerteza é quanto ao volume de concreto que a obra irá consumir. “Só para os túneis, parte-se do princípio de que será 1,6 milhão de m³. Mas pode chegar a 5 milhões, se incluir obras de superfície, pontes, viadutos e estações”, estima o executivo da EPL.

Mais dificuldades

Trem-bala chinês é modelo, mas país está proibido até 2016 de fornecer tecnologia

Recentemente, o acidente ferroviário ocorrido na Espanha criou mais incertezas sobre o trem-bala brasileiro. O motivo é que uma cláusula do edital não permite a participação de empresas envolvidas em acidentes fatais nos últimos cinco anos. A estatal Renfe é quem opera o TAV espanhol, que ao descarrilar em julho de 2013 matou 80 pessoas e feriu 178. A mesma regra já havia inviabilizado a participação da empresa China Communications Construction no processo licitatório, por causa de acidente ocorrido em 2011. Mesmo assim, a China é a maior referência para o Brasil, no que diz respeito a Trem de Alta Velocidade. Há pouco tempo, o país concluiu um trecho de 1.300 quilômetros de trem-bala, no tempo de 100 meses – cerca de oito anos.

 

Entrevistado
Eloi Ângelo Palma Filho, coordenador de infraestrutura do TAV da Empresa de Planejamento e Logística (EPL)
Currículo
– Eloi Ângelo Palma Filho é engenheiro civil graduado pela Unochapecó, de Chapecó-SC (2003)
– Possui mestrado em engenharia de minas, pela UFRGS (2006) e curso de extensão no POLITO –  Politécnico de Turim, Itália (2009/2010)
– É servidor público de carreira do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e atualmente trabalha junto à EPL  (Empresa de Planejamento e Logística S.A) no projeto do TAV brasileiro
Contato: eloi.palma@epl.gov.br

Créditos fotos: Divulgação/Sobretema

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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