Sem fiscalização, obras irregulares crescem no Brasil

Razões estão ligadas à ausência do poder público e a programas de combate efetivo ao déficit habitacional
16 de maio de 2019

Sem fiscalização, obras irregulares crescem no Brasil

Sem fiscalização, obras irregulares crescem no Brasil 520 310 Cimento Itambé
Prédios construídos irregularmente

Prédios construídos irregularmente na região de Muzema, no Rio: desabamentos causaram 24 mortes. Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil

A cidade do Rio de Janeiro-RJ ainda se recupera da tragédia ocorrida em abril de 2019, por conta de construções irregulares que desabaram e causaram a morte de 24 pessoas. No Brasil, o município é campeão de obras que burlam a lei e são erguidas sem nenhuma fiscalização e regras de boa engenharia. Nem a prefeitura tem dados precisos, mas estima-se que as construções irregulares em território carioca passem de 1,2 milhão. Em São Paulo-SP, a prefeitura calcula 830 mil. A região nordeste do Brasil também tem número elevado de obras sem habite-se legal.

Mas o que leva o país a ter tantas habitações nessa situação? A principal razão é a falta de fiscalização, principalmente em áreas conflagradas das cidades, onde o tráfico e as milícias impedem a atuação do poder público, assim como a falta de programas que efetivamente combatam o déficit habitacional. Outro motivo é que as construções irregulares erguidas nas regiões metropolitanas das grandes cidades brasileiras têm o propósito de abrigar a família do dono original do imóvel. Como os terrenos não possuem espaço suficiente para receber mais de uma casa, a solução é empilhar lajes.

O método de construir prédios sem conformidade também se tornou uma forma de investimento. Hoje é comum encontrar edifícios de até cinco pavimentos frutos de autoconstruções, como os que desabaram no condomínio Figueiras do Itanhangá, na Muzema, no Rio de Janeiro-RJ. A prática prolifera pelo país, como mostra pesquisa de 2015, encomendada pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-BR). Os dados revelam que 85% dos brasileiros constroem sem a supervisão de um engenheiro civil ou de um arquiteto. O resultado são os inúmeros problemas relacionados à segurança nas edificações e aos acidentes de trabalho na construção civil.

Informalidade é um dos principais obstáculos ao crescimento sustentável da construção civil

Estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também confirma que a informalidade é um dos principais obstáculos para o crescimento sustentável da cadeia produtiva da construção civil. A média nacional do setor é de 1 trabalhador formal para 1,7 informal. Isso reflete na qualidade e na legalidade da obra, assim como na indústria de materiais de construção. As chances de uma autoconstrução adquirir produtos de baixa qualidade são bem maiores que uma construção com projeto e atenta aos aspectos técnicos da obra.

Mesmo assim, iniciativas para combater a informalidade ainda são tímidas no país. O Paraná é que tem uma política mais consolidada de fiscalização, através do Comitê de Incentivo à Formalização na Construção Civil, criado em 2002. Ação conjunta entre CREA-PR, SindusCon-PR e organismos ligados aos trabalhadores da construção civil permite que o comitê tenha capilaridade em todo o estado. O resultado é que, em 17 anos de atuação, a informalidade nos canteiros de obras instalados no Paraná caiu abaixo de 30%, enquanto a média nacional supera os 50%.

Leia guia de incentivo à formalidade na construção civil

Entrevistado
Comitê de Incentivo à Formalização na Construção Civil e SindusCon-PR

Contato: imprensa@sindusconpr.com.br

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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