Renovada, Coordenação Modular voltou para ficar

1 de março de 2011

Renovada, Coordenação Modular voltou para ficar

Renovada, Coordenação Modular voltou para ficar 150 150 Cimento Itambé

Sistema ganha revisão de normas e, incentivado pelo Minha Casa, Minha Vida, rompe o preconceito gerado pelos “pombais” do extinto BNH

Por: Altair Santos

Surgido no pós-guerra, a fim de viabilizar a reconstrução da Europa, o sistema de Coordenação Modular tornou-se agente importante para racionalizar e industrializar a construção civil. No Brasil, o modelo esteve em alta nos anos 1970 e 1980, por conta dos estímulos recebidos do extinto Banco Nacional de Habitação (BNH), mas depois quase caiu em desuso. Agora, começa a ser redescoberto pelo setor, sobretudo pela sua capacidade de reduzir custos, otimizar o uso de matéria-prima, aumentar a produtividade e diminuir desperdícios.

Genericamente, Coordenação Modular pode ser definida como um sistema que racionaliza a construção. Ele proporciona a aplicação eficiente de recursos para viabilizar uma obra, integrando toda a cadeia produtiva. Compreende desde a normalização, certificação e projeto dos componentes, passando pela seleção da matéria-prima utilizada para sua fabricação, pelos projetos arquitetônicos, estruturais e complementares, até a montagem e manutenção das edificações.

Os novos conceitos que norteiam a construção civil também geraram uma onda de pesquisas em torno do sistema de Coordenação Modular, além da revisão das normas que o regem, como a ABNT NBR 15873:2010, que entrou em vigor em outubro de 2010 e condensou cerca de 25 outras normas que tratavam do modelo. A partir dela, os processos de fabricação e de construção industrial passam a adotar medida única de 10 centímetros, eliminando a variação na fabricação de componentes.

É consenso no setor de que a padronização vai incentivar a construção civil a adotar a Coordenação Modular. Principalmente por que o governo federal, por causa do programa Minha Casa, Minha Vida, passou a estimular um marco regulatório dentro da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) para a construção civil. Neste marco, a Coordenação Modular é destaque, como revela Sérgio Scheer, professor do Departamento de Construção Civil da UFPR (Universidade Federal do Paraná).

Sérgio Scheer: Programa Minha Casa, Minha Vida fez ressurgir o sistema de Coordenação Modular na construção civil.

Segundo ele, o estímulo governamental fez surgir ações orquestradas em diversos níveis, reunindo poder público, universo acadêmico e setor produtivo, que resultara em uma sinergia interessante favorável à Coordenação Modular. “A maturidade do mercado levou à percepção de que estas tecnologias têm resultados palpáveis, desde que implantadas em condições adequadas. Isso leva à capacitação da mão de obra e à melhoria dos insumos usados na construção civil”, resume Scheer.

O professor da UFPR lembra que uma das virtudes da Coordenação Modular é permitir a conectividade entre diversos componentes de um sistema construtivo. “O transporte, o armazenamento e a redução de resíduos de diversos materiais típicos dos canteiros de obras ficam facilitados com o sistema, e a ideia de construção enxuta e de processos racionalizados podem ser bem aproveitados”, explica Scheer, ressaltando que componentes com medidas padronizadas tornam a cadeia produtiva mais eficiente.

Preconceito

Nos anos 1970 e 1980, a Coordenação Modular carregou a fama indevida de ter sido o sistema que estimulou o surgimento dos chamados “pombais” – construções habitacionais financiadas pelo Banco Nacional de Habitação, que seguiam uma única estética, sem levar em consideração questões como funcionalidade, racionalidade e sustentabilidade. Isso gerou um preconceito contra a Coordenação Modular, que o próprio governo federal trata, agora, de combater através de incentivos financeiros.

Recentemente, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) criou uma linha de crédito de R$ 1 bilhão para contemplar a construção industrializada. No entender de Scheer, o estímulo pode levar as empresas a adotarem a norma de Coordenação Modular não apenas para o setor habitacional, mas para outros empreendimentos. “Um projeto modular racional pode ser aplicado em qualquer obra. Óbvio que não é a solução para tudo, mas desde que o projeto tenha qualidade ele pode se encaixar em qualquer tipo de construção”, avalia, sinalizando que a Coordenação Modular voltou com força, e desta vez para ficar.

Entrevistado
Sérgio Scheer

Currículo
Sérgio Scheer é doutor em Informática (Computação Gráfica) pela PUC-RJ, mestre em Engenharia de Estruturas pela UFRGS e Engenheiro Civil pela UFPR. É também professor associado I do Departamento de Construção Civil (DCC) do Setor de Tecnologia da UFPR, diretor do CESEC / UFPR (Centro de Estudos de Engenharia Civil Professor Inaldo Ayres Vieira), Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Métodos Numéricos em Engenharia da UFPR e Bolsista Produtividade do CNPq nível 2, além de membro do Working Commission 6, Information Technology (WC6) da IABSE (International Association for Bridge and Structures Engineering).
Contato: scheer@ufpr.br

Créditos da foto:
Divulgação/Joka Madruga
Elza Fiuza/ABr

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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