Para facilitar o fluxo de embarcações na hidrovia Tietê-Paraná, estrutura em concreto armado da Ayrosa Galvão ganhou um vão metálico
Por: Altair Santos
A capacidade de planejamento da engenharia brasileira ficou comprovada na obra que permitiu ampliar um dos vãos da ponte ferroviária Ayrosa Galvão, que cruza o rio Tietê na região de Pederneiras-SP. O trecho faz parte da hidrovia Tietê-Paraná e recebe um volume cada vez maior de embarcações. Por isso, os vãos estreitos entre os pilares da ponte já estavam colocando em risco a convivência entre a navegação e o tráfego de trens. A construção possibilitou aumentar o vão central de 35 metros para 115 metros, substituindo uma estrutura aporticada de concreto armado por uma estrutura metálica.
A intervenção no trecho da ponte foi executada em quatro dias. O planejado era que ocorresse em 26 horas, mas os cuidados com a implosão da estrutura aporticada exigiram um tempo maior para a conclusão da obra. “Como a ponte ferroviária é antiga (foi inaugurada em 1941) não tivemos acesso ao projeto original. Isso obrigou que redobrássemos os cuidados. Então, o tráfego de trens, que era para ser paralisado por 26 horas, acabou interrompido por quatro dias”, revela o engenheiro civil Fares Eduardo Assali, responsável pela obra, e com 46 anos de experiência em engenharia de pontes.
Entre o planejamento, a instalação do canteiro e a construção de obras auxiliares foram necessários 30 meses. Apesar de a estrutura metálica de 897 toneladas ter sido a protagonista do projeto, não faltaram etapas que privilegiaram o concreto. “Dos 30 meses, 80% foram gastos em obras auxiliares, que envolveram o canteiro, o píer e o viaduto sobre a ferrovia, a fim de que equipamentos e materiais pudessem transpô-la sem atrapalhar o tráfego de trens. A premissa básica era realizar a ampliação do vão sem causar grande impacto no tráfego ferroviário, pois toda a economia da região depende do movimento da ferrovia”, disse Luciano Guadagnin, engenheiro de obras da TIISA, que compôs o consórcio da obra.
Valorização do concreto
Luciano Guadagnin lembrou que várias disciplinas da engenharia foram empregadas na Ayrosa Galvão. Ele destaca ainda a valorização da engenharia voltada ao concreto. “O trabalho com concreto foi premiado no viaduto, que usou material protendido; nas fundações dos quatro dolphins, que sustentam a estrutura metálica; nas camisas de reforço dos pilares remanescentes, assim como na construção dos pilares provisórios e do píer para a montagem da estrutura metálica”, afirmou. Ao todo, foi consumido um volume de 4.760 m³ de concreto no empreendimento. A obra foi finalizada em junho de 2016.

Encontros do viaduto com a rodovia e o canteiro de obras usaram estruturas de terra-armada, com paredes de elementos pré-fabricados de concreto
O sucesso do projeto, a um custo relativamente baixo (R$ 52 milhões) levou o Dnit e o governo de São Paulo a encomendarem obras semelhantes em outras pontes ferroviárias e rodoviárias que cruzam a hidrovia Tietê-Paraná. O objetivo é facilitar o tráfego das embarcações e permitir o transporte de um volume maior de cargas. A hidrovia Tietê-Paraná tem 2,4 mil quilômetros de extensão, dos quais 1,6 mil estão no rio Paraná, sob gestão da Administração da Hidrovia do Paraná (Ahrana) – ligada ao ministério dos Transportes. Outros 800 quilômetros ficam no rio Tietê, sob responsabilidade do Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo. A hidrovia conecta áreas de produção aos portos marítimos e serve os principais centros do Mercosul, além de integrar um sistema de transporte multimodal nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.
- Píer para o transbordo das peças metálicas também usou volume considerável de concreto
- Quatro dolphins foram construídos para sustentar a estrutura metálica instalada na ponte
- Estrutura metálica foi instalada em quatro dias, após longo planejamento e preparação do canteiro de obras
Veja vídeo que resume a obra na ponte Ayrosa Galvão:
Entrevistados
Engenheiros civis Fares Eduardo Assali, da Fares & Associados Engenharia Ltda., e Luciano Guadagnin, da TIISA (com base em palestra concedida para a TV Engenharia do Instituto de Engenharia)
Confira aqui a íntegra da entrevista.
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Crédito Fotos: Consórcio TIISA/ETC/DP BARROS