Consumo excessivo de gorduras e açúcares, junto com automação de tarefas, que diminuem gastos energéticos dos operários, contribui com sobrepeso
Por: Altair Santos
Há pouco mais de uma década, a realidade nos canteiros de obras era bem diferente da atual. Operários apresentavam quadros de subnutrição e anemia ao invés de sobrepeso e obesidade, como ocorre agora. “A qualidade de vida melhorou, sobretudo no que diz respeito ao acesso à alimentação. Também houve avanços dos empresários da construção civil no respeito aos direitos dos trabalhadores, e a alimentação acompanhou essa evolução”, cita Paula Simões Garcia, nutricionista do Seconci-SP (Serviço Social da Construção Civil do Estado de São Paulo) que coordenou uma recente pesquisa sobre a saúde alimentar de operários que atuam no setor.
O trabalho trouxe dados alarmantes. Mostra que 23,9% dos trabalhadores entre 18 e 29 anos apresentam sobrepeso, enquanto na faixa de 50 anos a 59 anos esse índice sobe para 47,1%. No grupo considerado obeso, a maior proporção está entre os trabalhadores no estrato de 30 e 39 anos, com 30%. No apanhado geral – considerando todas as faixas etárias -, 37,6% dos operários que atuam nos canteiros de obras apresentam sobrepeso e 20,2% estão obesos. Além disso, 61,2% apresentaram percentual de gordura corporal acima dos valores de normalidade e 51,7% apresentaram massa muscular desenvolvida.
A pesquisa abrangeu 263 trabalhadores em um canteiro de obras localizado na cidade de Ribeirão Preto-SP, mas Paula Simões Garcia avalia que o quadro reflete o que está ocorrendo nos campos de trabalho da construção civil pelo país afora. “Especificamente, em relação à construção civil, o que observamos em consultório é que, embora os trabalhadores do setor exerçam uma atividade por si só fisicamente mais ativa, por outro o consumo excessivo de gorduras e açúcares os coloca na mesma condição do perfil de sobrepeso e obesidade, que resulta em comorbidades como as doenças cardiovasculares”, diz.
Acidentes de trabalho
A especialista avalia que a automação dos canteiros de obras contribui para que haja uma diminuição de gastos energéticos, sem que ocorra a contrapartida da mudança de hábitos e opção por alimentos mais saudáveis por parte dos operários. Por isso, ela recomenda que as empresas passem a fazer o acompanhamento nutricional dos trabalhadores, e que se invista na educação alimentar. “Temos experimentado muito sucesso com nossas palestras em canteiros de obras. Mas a avaliação nutricional da alimentação oferecida a esses trabalhadores é importante e complementar a essas palestras”, afirma.
Paula Simões Garcia alerta que a obesidade e o sobrepeso acarretam prejuízos à saúde, como distúrbios do aparelho locomotor (coluna e joelhos). “As atividades exercidas na construção civil exigem que o funcionário esteja apto e saudável, a fim de que diminuam os riscos de acidentes de trabalho. O sobrepeso e a obesidade são fatores de risco para o desenvolvimento de doenças como o diabetes, hipertensão arterial, entre outras, e significam um enorme perigo nas obras”, destaca. “O momento em que estamos agora é o de, justamente, regular essa alimentação que, hoje, se encontra rica em gorduras saturadas e trans, açúcar, sódio e corantes”, completa.
Dicas para uma nutrição balanceada
• Consuma diariamente frutas, verduras e legumes nas refeições.
• Inclua cereais integrais, grãos e sementes na alimentação.
• Dê preferência às carnes magras, frango sem pele, peixe e ovos cozidos.
• Evite frituras e controle a quantidade de óleo no preparo dos alimentos.
• Evite os embutidos (mortadela, salsicha e linguiça) leite de coco e óleo de dendê.
• Dê preferência ao leite e iogurtes desnatados, queijo branco, ricota ou cottage.
• Evite produtos industrializados, como biscoito recheado, sorvete de massa e doces concentrados.
• Mantenha seu peso dentro dos limites da normalidade.
• Pratique atividade física regularmente.
Entrevistada
Paula Simões Garcia, nutricionista-clínica do Seconci-SP
Contato: comunicacao@seconci-sp.org.br
Créditos Fotos: Divulgação/Seconci-SP