Um raio x da engenharia brasileira

17 de setembro de 2009

Um raio x da engenharia brasileira

Um raio x da engenharia brasileira 150 150 Cimento Itambé

Em entrevista exclusiva, Joseph Young, diretor editorial da Revista O Empreiteiro, fala sobre o ranking que lista as maiores empresas do país no setor

O ranking da engenharia brasileira já é, há décadas, a bíblia do setor

O ranking da engenharia brasileira já é, há décadas, a bíblia do setor

O tradicional ranking da engenharia brasileira trouxe no mês de julho sua 38.ª edição. Elaborada pela revista O Empreiteiro, a lista revela as 500 maiores empresas do país nos segmentos de construção, projeto e consultoria, montagem mecânica e elétrica e serviços especiais de engenharia.

A versão 2009 do ranking foi elaborada de acordo com o faturamento das empresas em 2008. No ano passado, as construtoras expandiram sua receita bruta em 49%, em média. Trata-se do melhor resultado desde 1995.

Apesar de não estarem nas primeiras posições da lista, as empresas do Sul do país também apresentaram crescimento. Na avaliação do diretor editorial da revista O Empreiteiro, Joseph Young, além do bom momento econômico do Brasil, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) também foi responsável pela melhora significativa do nível de atividade das construtoras e das empresas de engenharia no geral. “Havia uma demanda reprimida desde os anos 80, que o programa ajudou a destravar, ainda que não completamente”, afirmou.

Joseph Young revela mais detalhes do ranking na entrevista a seguir.

Ao longo das 38 edições do ranking, se percebe muitas alterações entre as primeiras posições. Isso tem a ver com as empresas mais envolvidas com obras de infraestrutura?
A verdade é outra. No passado, a economia brasileira teve diversas crises econômicas, planos econômicos, novas moedas e inflação que chegou a 80% ao mês. Isso foi extremamente prejudicial para a capacidade de investimento dos governos e se refletiu em algumas construtoras tradicionais, que desapareceram por conta das crises. Boa parte delas trabalhava para o governo e não recebia. Ou, quando recebia, a inflação já tinha comido metade do valor da dívida. Um exemplo é a construtora Rabelo, que trabalhou na construção de Brasília, trabalhou na Argélia, construiu a universidade de Argel, e hoje não existe mais. Assim com a construtora CCDE, que também não existe mais. Estes são dois exemplos bastante eloquentes de como a crise dizimou grandes empresas e fez o ranking sofrer alterações ao longo destes anos. Hoje, se aparecem na lista algumas das mais antigas, é porque elas foram as sobreviventes. São aquelas que conseguiram driblar as crises sucessivas. São as grandes sobreviventes da engenharia brasileira.

Como nasceu a ideia do ranking da engenharia brasileira?
O ranking não é uma ideia nova. Uma das maneiras de mensurar a competência de uma empresa, as condições do mercado, principalmente quando essas condições mudam, é aferir o quanto ele continua faturando. Usamos o critério do faturamento bruto, pois achamos que é o que espelha melhor a capacidade de geração de caixa de uma empresa. É claro que poderia ter outros critérios como lucro, etc. A ideia é reunir numa única fonte uma avaliação das empresas de engenharia do Brasil divididas em quatro categorias. Então, o ranking abrange construtoras, projetistas, empresas de montagem industrial, também chamada de construção mecânica e elétrica, e os prestadores de serviços especializados em construção.

O que a presença de uma empresa no ranking da engenharia brasileira muda em relação ao seu perfil e aos negócios que ela passa a atrair?
O ranking da engenharia brasileira já é, há décadas, a bíblia do setor. As empresas que estão no ranking sempre se referem a este fato como uma credencial a mais. Naturalmente, existem outros, como a ISO de qualidade a respeito das ações da empresa, que também é outra credencial. Então, existem vários outros parâmetros de natureza internacional, que as empresas já têm. Mas, especificamente sobre o ranking, o fato de uma empresa estar dentro dele há muitos anos é uma credencial no setor.

Em relação à região Sul, observa-se no ranking que as empresas estão em posição intermediária. Algumas vezes, elas estão atrás de empresas do Norte/Nordeste. Há algum diagnóstico para que isso aconteça?
Nestas ultimas três décadas foram criadas algumas novas fronteiras, como no Pará e no Maranhão. O projeto Ferro-Carajás da Vale, que era uma empresa estatal há pouco mais de 20 anos, abriu uma nova fronteira econômica. Criou-se toda uma cadeia de prestadores de serviços de fabricantes, que hoje já está consolidada na região. Então, isso significa que as construtoras que estão na região Norte também foram beneficiadas pelo surgimento desta nova fronteira. No Nordeste, um exemplo recente é o complexo industrial portuário de Suape, em Pernambuco, que também representa uma nova fronteira econômica. Naturalmente, as construtoras do Nordeste, os projetistas e os prestadores de serviços de uma forma geral estão se beneficiando destes polos de atividades regionais.

Com os recentes programas de incentivo à construção, como PAC, Minha Casa, Minha Vida e Copa 2014, deu para sentir mudanças no ranking, no sentido de que algumas empresas já cresceram apoiadas nestes projetos governamentais?
Sem dúvida, o PAC, que já faz uns dois anos que o governo vem priorizando, a despeito de problemas de gerenciamento e lentidão de recursos financeiros, é o principal responsável pela melhora significativa do nível de atividade das construtoras e das empresas de engenharia no geral. Eu diria que os resultados de 2008 espelham este fato. O programa Minha Casa, Minha Vida só foi anunciado agora. Então os efeitos só vão se sentir ao longo de 2010 e 2011, assim como a Copa de 2014.

No ano passado a engenharia experimentou seu melhor momento após vários anos. Qual a perspectiva para este ano, que vai refletir no ranking de 2010?
Este ano é, de certa forma, uma continuação de 2008. Só que a crise global impediu ou atrasou a assinatura de novos contratos e serviços em empreendimentos de porte, que sofreram paralisações ou foram reduzidos ou suspensos. Então, as entidades do setor hoje estão mais preocupadas com o que vai acontecer em 2010 e 2011. Porque eles vão sentir os empreendimentos que foram suspensos ou reprogramados este ano. Portanto, os efeitos da crise global vão se refletir no faturamento de 2010 e 2011.

Hoje qual é a grande obra no país que deve influenciar no ranking dos próximos anos?
Não tem uma grande obra, mas diversas obras de porte. Por exemplo, na área de hidroelétrica têm duas usinas do complexo do rio Madeira que, com certeza, vão influenciar positivamente em toda a cadeia de produção do setor, que começa no projetista, passa pela construtora, a empresa de montagem industrial, empresas prestadoras de serviços e até os fabricantes de insumos e equipamentos. Em transporte de massa, acho que as obras do metrô de São Paulo e de outras capitais, como Salvador e Fortaleza, também vão refletir. As futuras etapas de concessões rodoviárias a nível federal e estadual também são perspectivas de melhores resultados nos próximos anos. Sem falar nas melhorias urbanas e nos complexos esportivos que a Copa do Mundo de 2014 vão implicar nas cidades sedes. A perspectiva que o setor de engenharia e construção tem é muito positiva para os próximos anos.

No que os entraves burocráticos atrapalham no desempenho da engenharia no Brasil?
Burocracia é aquilo que o Luiz Fernando Santos Reis, presidente do SINICON (Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada), resume no Tribunal de Contas da União (TCU) e nos órgãos ambientais do governo. Estas duas áreas são as que hoje mais interrompem obras e atrasam licenciamentos. Quer dizer, uma obra que poderia ser concluída em cinco anos acaba levando sete, oito anos.

Por que grandes multinacionais da engenharia não investem no mercado brasileiro?
Esta é uma história antiga, mas basicamente porque o mercado de engenharia brasileira é fechado. Ele tem uma série de barreiras oficiais e técnicas que desestimula, pelo menos em grande número, as empresas estrangeiras. Isso não impediu, entretanto, que empresas multinacionais que souberam se adaptar às condições brasileiras ingressassem aqui. Um exemplo é a Impregilo, uma construtora italiana que há muitos anos está instalada no país. Outro exemplo é a Skanska, empresa de montagem industrial que pertence a um grupo sueco, e que também está aqui há mais de uma década.

Por outro lado, há empresas brasileiras da engenharia que já são multinacionais. O ranking leva em consideração o desempenho destas empresas fora do país?
Não leva porque normalmente o faturamento no exterior destas empresas acaba consolidado numa subsidiária no exterior. Nos critérios que usamos, de certa forma os resultados das empresas brasileiras já embutem resultados e projetos no exterior.

Entrevistado: Joseph Young, diretor editorial da revista O Empreiteiro: josephyoung@terra.com.br

Texto complementar

Ranking do ranking

Confira as empresas do Sul do Brasil posicionadas entre as 500 melhores, de acordo com o segmento de atuação.

Construtoras
C.R. Almeida-PR (16.º)
Toniolo, Busnello-RS (37.º)
Cesbe-PR (45.º)
Grupo Thá-PR (54.º)
Plaenge-PR (55.º)
Goldsztein-RS (60.º)
Conpasul-RS (61.º)
Goldsztein Cyrela-RS (66.º)
J. Malucelli-PR (70.º)
Ivai-PR (74.º)
Gel Engenharia-PR (82.º)
A. Yoshi-PR (89.º)
Brasília Guaíba –RS (95.º)
Sultepa-RS (105.º)
Castilho-PR (108.º)
Pedrasul-RS (110.º)
Viero-RS (113.º)
FMM Engenharia-PR (114.º)
Stein-SC (124.º)
Lavitta-PR (131.º)
Premold-RS (134.º)
Zita-SC (135.º)
Vanguard Home (139.º)
Ernesto Woebcke-RS (143.º)
Pelotense-RS (144.º)
Sulcon-RS (151.º)
Andrade Ribeiro-PR (158.º)
Melnick-RS (160.º)
Bortoncello-RS (169.º)

Construção mecânica e elétrica
Intecnial-RS (9.º)
Elco-PR (34.º)
Emisa Plaenge-PR (44.º)

Projeto e Consultoria
Interterchne-PR (19.º)
Prosul-SC (24.º)
STE-RS (34.º)
Ecoplan-RS (35.º)
Magna-RS (36.º)
Veja Engenharia-PR (46.º)
JPPA-RS (70.º)
Dalcon-PR (79.º)
Beck de Souza-RS (84.º)
MPB Saneamento-SC (85.º)
Simon-RS (95.º)
Unidec-PR (102.º)
Andrade&Rezende-PR (103.º)

Serviços especiais de engenharia
Medabil-RS (3.º)
Brafer-PR (8.º)
Esteio-PR (37.º)
Manoel Marchetti-SC (38.º)
Engefoto-PR (46.º)
Aeroimagem-PR (62.º)
Ispersul-RS (77.º)
Aeromapa-PR (78.º)

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Vogg Branded Content

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