Estádio usa sistema contraforte para suportar a vibração das arquibancadas, as quais foram projetadas para receber quase 80 mil espectadores
Por: Altair Santos
Em vez de utilizar tecnologia convencional de amortecimento, que imita a aplicada nos veículos, os engenheiros responsáveis pelos cálculos estruturais do novo Maracanã executaram um sistema de contraforteusando resíduos de demolição do estádio antigo, além de material bota-fora e terra das escavações feitas no local da obra. A inovação consiste em uma enorme piscina de concreto preenchida com entulhos, que foi instalada na parte mais baixa das arquibancadas. O mecanismo compensa a carga vertical que virá a ser gerada quando o Maracanã estiver lotado, sejam em partidas de futebol, shows ou outros eventos.
Segundo o projetista João Luís Casagrande, da Casagrande Engenharia – responsável pelos cálculos estruturais da obra -, essa é a primeira vez no mundo que o sistema contraforte é usado na construção de um estádio. “A tecnologia que utiliza amortecedores semelhantes aos usados nos veículos, como o que foi aplicado no Mineirão, tem um problema que é o custo da manutenção. De tempos em tempos é preciso trocá-lo. Já com o contraforte, ele é definitivo. Além disso, permitiu assentar parte das arquibancadas pré-moldadas sobre estruturas de aço, ganhando prazo para que o Maracanã fique pronto para a Copa das Confederações (torneio que ocorre em junho de 2013)”, diz.
João Luís Casagrande explica que o contraforte instalado na base das arquibancadas do Maracanã funciona como a borda de uma piscina, ou seja, as vibrações que virem a ser geradas pelos 78.639 torcedores que caberão no estádio serão contidas pela grande estrutura de concreto, preenchida com entulhos, que circunda a obra. Assim, o novo Maracanã vai suportar até 6 Hz (hertz) de frequência – normalmente, o máximo exigido para estádios é 3 Hz. Outra vantagem desse sistema de amortecimento é que ele permitiu que as estruturas metálicas que sustentarão as arquibancadas do anel intermediário fossem concebidas com uma massa mais leve. “Consequentemente, o custo da obra reduziu”, avalia o engenheiro.
Previsto para ser inaugurado em março de 2013, o novo Maracanã apresenta números dignos de uma megaobra. A área construída envolve 203.462,60 m², enquanto o volume de concreto chega a 31.500 m³ – equivalente a 220.500 sacos de cimento. Já a estrutura de aço empregada para sustentar parte da arquibancada pesa 7.200 toneladas. “A grande vantagem deste novo estádio é que a manutenção dele será mais barata. Em qualquer arena, o custo da construção, em relação à vida útil da obra, representa 40%. O mais caro é a manutenção, e no Maracanã a economia, depois que ele ficar pronto, será significativa”, afirma João Luís Casagrande.
Entrevistado
João Luís Casagrande, projetista do novo Maracanã e sócio da Casagrande Engenharia
Currículo
– João Luís Casagrande é graduado em engenharia estrutural pela Universidade Santa Úrsula-RJ, em 1997
– Possui mais de 400 projetos desenvolvidos no Brasil. Além do Maracanã, atua nas obras de arte do Arco Metropolitano, também no Rio de Janeiro
– Também projetou construções fora do país, como a Universidade de Abuja, na Nigéria, e a Usina Hidrelétrica de Inga II, na Republica Democrática do Congo
Contato: jlcasagrande@cagen.com.br / www.cagen.com.br
Créditos foto: Divulgação/Casagrande Engenharia