Para o especialista em gerenciamento de recursos hídricos, Plínio Tomaz, a ABNT precisa começar a pensar em uma normalização para o reúso
Por: Altair Santos
Boa parte das soluções para economizar água durante a crise hídrica está nas normas técnicas relacionadas à construção civil – tanto as voltadas para a execução de obras quanto às relacionadas a equipamentos que consomem água dentro das habitações, como chuveiros, torneiras e bacias sanitárias. Quem afirma é o professor Plínio Tomaz, consultor em saneamento e diretor-presidente da agência reguladora dos serviços públicos de saneamento básico da prefeitura de Guarulhos, em São Paulo. “Acho excelente, por exemplo, as normas relacionadas à construção industrializada do concreto, assim como a Norma de Desempenho e as que normalizam a fabricação de peças”, diz.
Plínio Tomaz atuou em um fórum promovido pelo SindusCon-SP, dia 25 de fevereiro de 2015, na cidade de São Paulo, cujo tema era a crise hídrica. No debate, ele compartilhou da ideia de que o poder público precisa trabalhar na gestão da demanda de água, como já fizeram cidades como Nova York e Cidade do México. Nestas localidades, as prefeituras tomaram a iniciativa – entre outras ações práticas – de substituir vasos sanitários que consumiam mais de 6,8 litros de água por descarga. “No Brasil, desde 1995 estas peças vêm passando por um processo de normalização pela ABNT e economizam água, assim como torneiras de fecho automático e reguladores de vazões”, ressalta.
O especialista defende, no entanto, que é preciso ir um pouco mais além. Na opinião dele, é necessário pensar no reúso do esgoto para consumo humano. “A tecnologia nessa área avançou muito. Existem diversos sistemas de segurança que garantem a qualidade da água”, afirma, assegurando que em sua gestão Guarulhos já trata de 50% do seu esgoto e estuda atingir a meta de 100% em dois anos. Para tal, ele apoia a mobilização para que se crie uma norma para reúso de água em vários setores, incluindo o canteiro de obras. “Por faltar uma norma de reúso, hoje a utilização de água no canteiro de obras está limitada à produção de concreto não estrutural. Já com a obra pronta, restringe-se a limpeza de pisos, rega de canteiros e uso em bacias sanitárias”, explica.
Atualmente, para o aproveitamento da água de chuva para fins não potáveis é usada a ABNT NBR 15527: 2007 (Água de chuva – Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis).
Outras medidas
Na mesa redonda sobre crise hídrica, ocorrida no SindusCon-SP, além de propostas para uma norma técnica específica para o reúso da água, os debatedores também sugeriram que haja o incentivo ao IPTU Verde. A medida cria isenções tributárias para práticas de sustentabilidade.
Também se falou de estímulos às construções verdes, as quais podem gerar economia de até 40% no consumo de água. Na cidade de São Paulo, outros dois projetos em andamento na Câmara Municipal também tratam do tema. Um deles aborda o reúso de água da chuva para a cura de concreto não estrutural, para a limpeza de galerias e para a lavagem de caminhões de lixo. O mesmo tipo de água também poderia ser usado na limpeza de calçadas e para a lavagem de veículos em lava-car.
Entrevistado
Engenheiro civil Plínio Tomaz, diretor-presidente da agência reguladora dos serviços públicos de saneamento básico da prefeitura de Guarulho-SP
Contatos
pliniotomaz@uol.com.br
www.pliniotomaz.com.br
Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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