Não-leitores chegam a 77 milhões no Brasil

29 de abril de 2009

Não-leitores chegam a 77 milhões no Brasil

Não-leitores chegam a 77 milhões no Brasil 150 150 Cimento Itambé

Fatores como baixa renda, escolarização e questões sociais são elementos que resultam no grande número de brasileiros sem interesse na leitura

Em Manaus, capital do Amazonas, a pequena Fernanda Maia dos Anjos interrompeu os estudos diversas vezes para ajudar na renda familiar. Aos 12 anos, engravidou e deixou os livros para assumir uma família. Hoje, aos 34 anos, com dois filhos, trabalha como doméstica e integra os números gerados pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, encomendada pelo Instituto Pró-Livro ao Ibope, em 2007.

A pesquisa revelou um contingente de 77 milhões de não-leitores. Nossa personagem encontra-se entre os 27 milhões que cursaram até a 4ª série do Ensino Fundamental, e que não leem. Voltar a estudar é uma realidade distante para Fernanda. Ela acredita que essa oportunidade não seja direito de todos. “Estudar é coisa para rico”, enfatiza. Na casa da patroa, folheia o jornal todos os dias, porém, as únicas notícias que despertam seu interesse são os resumos das novelas. “As notícias são muito complicadas de entender. Não gosto nem de ler revista, imagine um livro. Não entendo nada. Nem sei onde tem biblioteca aqui”, afirma.

Fatores como baixa renda, escolarização e questões sociais são elementos que resultam no grande número de brasileiros sem interesse na leitura, que, nem sempre, estão fora da escola. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos, o PISA, revelou, em 2008, que os 4,8 mil estudantes brasileiros avaliados, pouco compreendem o que estão lendo. Esse fator deixou o Brasil em último lugar no ranking dos 32 países, além de mostrar que o problema está na falta de habilidades que deveriam ser formadas no processo educacional.

Para superar estas dificuldades seria necessário que o poder público investisse na formação e aperfeiçoamento dos professores de Língua Portuguesa e mediadores de leitura para alcançar resultados junto aos alunos. A compreensão dos textos está diretamente relacionada ao nível de informação, conhecimento e vocabulário do leitor. Membro da Academia Amazonense de Letras e editor, Tenório Telles, 45 anos, diz que a compreensão de um texto é resultado de uma tessitura de elementos. “Não basta ter o domínio do código de comunicação. É fundamental ter uma prática continuada de contato criativo com textos, fator indispensável para a afirmação de uma vivência leitora, que ajuda no aprimoramento do pensamento, do olhar e do sentir do sujeito”. Diz ainda que, associada a essa experiência, somam-se as vivências sociais, afetivas e artísticas. Esse conjunto de conhecimentos existenciais contribui para o amadurecimento humano, que serve de fundamento para a compreensão do mundo e das realidades transfiguradas nos livros.

“Esse complexo de relações forja a competência leitora – que na verdade é um processo em constante avanço. A leitura é também um devir intelectual, existencial e criativo”, avalia. Apesar de existirem inúmeros fatores que podem exercer o poder de atração na leitura, como incentivo dos pais, da escola e de amigos, é necessário, antes de tudo, ter domínio na codificação do texto para que a leitura torne-se uma atividade prazerosa e não um sacrifício.

Diogo Lopes, 27 anos, cursando faculdade de Administração em Porto Velho, capital de Rondônia, não encontra prazer nos livros. “Dependendo do texto, ler pode tornar-se um pesadelo. Não gosto de livros.” Ele busca as informações que precisa na Internet. A falta de estímulo para leitura, segundo o estudante, vem da escola. “Não gosto de ler desde criança. No colégio, os professores mandavam ler livros para prova, mas sem se preocupar em saber se o livro interessava aos alunos. Não ajudavam na compreensão dos textos, que já eram difíceis para a maioria. Simplesmente empurravam os livros sem dar opções de escolha. Isso foi me deixando cada vez mais sem vontade de ler.”

O despreparo de seus professores no Ensino Fundamental contribuiu para que Diogo, mesmo lendo algo de seu interesse, fique sonolento e impaciente, efeitos provocados pela falta de ferramentas para compreensão dos textos. A prova aplicada pelo PISA mostra que não só Diogo que enfrenta estas dificuldades. Dos 4,8 mil alunos avaliados, 16% lêem muito devagar, 7% não compreendem o que lêem, 11% não têm paciência para ler e 7% sofrem com a falta de concentração.

Livro como presente
Para Taciana Pereira de 29 anos, de Manaus, Amazonas, assistente social recém-formada, o maior índice de não-leitores registrado pela pesquisa em sua região, deve-se à falta de incentivo à leitura, além de recursos que proporcionem acesso aos livros. “Na minha cidade existem várias bibliotecas, mas quando preciso usá-las estão fechadas ou, quando encontro uma em funcionamento, o acervo é pequeno e precário. Para quem já tem dificuldade em apreciar um bom livro, isso gera um enorme desinteresse. Gosto de ler porque tive estímulo desde criança. Comecei a ter contato com os livros porque minha mãe quando ia trabalhar, me deixava na casa de minha avó. Lá, meu tio que era professor, dava a tarefa de ler três matérias de revistas que ele escolhia e escrever uma redação para ele corrigir”, lembra. Ela diz que a família sempre teve o hábito da leitura e as crianças eram sempre presenteadas com livros. “Aos quatro anos, aprendi a ler e nunca mais parei, mas infelizmente essa não é a realidade da maioria aqui”. A história de Taciana é o inverso do que acontece com o restante do País, onde o hábito da leitura não é rotina na família. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil detectou que entre os não-leitores 85% nunca foram presenteados com livros na infância e 63% nunca viram os pais lendo.

Em Salvador, região nordeste do Brasil, 2° lugar no ranking de não-leitores, o educador Augusto Castro de Azerêdo, formado em Geografia pela Universidade Federal da Bahia, UFBA, e pós-graduado em Metodologia do Ensino e Pesquisa pela mesma universidade, acredita que a família contribui para estimular o hábito da leitura, porém a realidade sócio-econômica de muitos impede que esse exercício seja praticado em casa. Mas, a agravante está na educação. Durante as aulas, o professor propõe pesquisas escolares manuscritas e utiliza questões discursivas nas avaliações para exercitar a opinião dos alunos, mas os resultados nem sempre são positivos. “Tenho alunos na 8ª série com graves dificuldades, pois o processo de alfabetização foi deficiente, e aliado a este problema, eles apresentam falta quase absoluta da leitura”.

Ele acredita que a negligência governamental em todas as esferas contribui para que não só o nordeste, mas todo país tenha um grande número de não-leitores “Deveria existir investimentos como informatização das bibliotecas, mais acervos literários, redução dos impostos na produção gráfica e mais patrocínios em eventos literários. No âmbito escolar, o aumento das verbas poderia ser investido na compra de novos equipamentos visando a qualidade de ensino”.

Professor há mais de 10 anos, Augusto diz que o investimento na qualificação dos profissionais da Educação é praticamente inexistente, e esse fato gera muitas vezes profissionais despreparados e, como conseqüência, o número da evasão escolar torna-se freqüente já que não encontram prazer, estímulo e não conseguem aprender. Os que permanecem, tornam-se desprovidos de uma iniciativa para realizar conexão de idéias, contextualizar os diversos autores e criar o pensamento próprio. “Podemos ousar levantar diversas hipóteses em relação ao número de não leitores no país, mas a verdade é que o Brasil só vai mudar esse quadro quando houver uma revolução educacional. Quem não estuda, não lê e não compreende o mundo em que vive.”

Fonte: www.brasilquele.com.br

Jornalista responsável – Altair Santos MTB 2330 – Tempestade Comunicação

29 de abril de 2009

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