Londres 2012 não subiu ao pódio da sustentabilidade

22 de agosto de 2012

Londres 2012 não subiu ao pódio da sustentabilidade

Londres 2012 não subiu ao pódio da sustentabilidade 150 150 Cimento Itambé

Arquiteto da Unesp analisa equívocos cometidos pelos ingleses na promoção dos jogos olímpicos e aponta cuidados que o Rio deve tomar para 2016

Por: Altair Santos

Sob o ponto de vista arquitetônico, os jogos olímpicos de Londres não subiram ao pódio. Ficaram, no máximo, em quinto lugar, segundo avalia o arquiteto e urbanista Paulo Roberto Masseran, professor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp, campus de Bauru-SP). Para ele, algumas obras construídas para o evento, e que se propunham ser multifuncionais – por isso sustentáveis após o fim das Olimpíadas – não conseguirão ser reaproveitadas. “Não previu-se o alto custo de desmonte de megaestruturas, como o estádio olímpico. Aqui desabou o discurso da sustentabilidade, pois uma edificação sustentável é uma estrutura que deve ter seu uso potencializado ao máximo”, analisa.

Estádio Olímpico de Londres: construção só pensou nas modalidades de atletismo e não em outros esportes.

Ao ser projetado para receber 80 mil espectadores, o estádio olímpico de Londres foi construído para ter dois anéis – o inferior com 25 mil lugares e o superior com 55 mil, que seria desmontado após o evento. O problema, cita Paulo Roberto Masseran, é que por ter sido concebido exclusivamente para provas de atletismo, e tendo o menor diâmetro bastante alargado em relação à pista de corrida, a fim de ampliar sua capacidade e o campo de visão dos espectadores, o anel superior praticamente inviabilizou-se para ser utilizado em outras estruturas, como uma arena de futebol. “A distância entre as arquibancadas e o gramado se tornou excessiva. O grande porte da construção do anel superior implicou em peças metálicas e de concreto demasiadamente grandes para o seu desmonte ou reaproveitamento”, explica.

O professor da Unesp cita que o melhor exemplo de estádio sustentável no mundo está em Paris. Trata-se do Stade de France, construído para a Copa do Mundo de 1998. “Com um sistema de arquibancadas retráteis, ele é plenamente utilizado para eventos esportivos e culturais, desde competições de atletismo, futebol e rúgbi, como para provas de motocross e shows. Na arquitetura de megaedifícios, o sustentável é a sua utilização polivalente, e não seu desmonte. Assim, é possível afirmar que houve um erro conceitual na elaboração do projeto do parque olímpico de Londres. O mesmo problema acontece nas grandes arquibancadas construídas no conjunto aquático, da arquiteta Zaha Hadid, e na arena de basquetebol, todas em estrutura metálica e concreto pré-moldado. Desmontá-las sairá mais caro que montá-las”, afirma.

Rio 2016

Projeção do parque olímpico do Rio de Janeiro: desafio é fazer com que obras sejam assessoradas por um bom planejamento urbano.

Transportando sua análise para o Rio de Janeiro, Paulo Roberto Masseran avalia que o projeto olímpico para 2016 comete dois equívocos: o Maracanã e o estádio olímpico. “O Maracanã estará apto somente para abrigar jogos de futebol, além das cerimônias de abertura e encerramento. Essa característica pode trazer complicações simbólicas ao evento, pois a modalidade principal dos jogos olímpicos, que é o atletismo, ocorrerá no estádio olímpico, que foi construído para os jogos Pan-americanos de 2007 e é um edifício mal projetado e mal construído, o qual necessitará de uma grande reforma para sediar, satisfatoriamente, a modalidade-símbolo das olimpíadas. Infelizmente, a arquitetura das praças olímpicas cariocas, como tem se mostrado até o momento, são de uma pobreza evidente, e não acrescentam nada para a arquitetura e a engenharia no Brasil”, critica.

Estádios à parte, o parque olímpico do Rio de Janeiro está entregue ao mesmo escritório de arquitetura que projetou Londres 2012: o Aecom. Outra gigante inglesa do setor, a Arup, está encarregada de construir o complexo de 34 torres que vai compor a vila olímpica. A ideia é que, após os jogos, os edifícios – todos com certificação “verde” – abram espaço para um novo bairro na zona oeste da capital fluminense.  No entanto, Masseran destaca que o sucesso do projeto olímpico do Rio vai depender menos de grifes arquitetônicas e mais do planejamento urbano da cidade para receber os jogos. “Transportes de massa e projetos que permitam a fluidez do tráfego de veículos serão requisitos primordiais para o projeto olímpico do Rio”, completa.

Entrevistado
Paulo Roberto Masseran, professor da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Unesp
Currículo

– Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp, com pós-doutorado pela Universidade de Coimbra
– Também é mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo
– Tem doutorado em história pela Faculdade de Ciências e Letras de Assis (FCLAs-UNESP)
– Atualmente é professor da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Unesp e membro-fundador do Centro Internacional para a Conservação do Patrimônio, CICOP-Brasil
– Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Planejamento e Projetos da Edificação, atuando principalmente nos seguintes temas: planejamento urbano, projeto de arquitetura e urbanismo, história da arquitetura e do urbanismo, cenografia e teatro
Contato: masseran@faac.unesp.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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