O Brasil perdeu dia 8 de junho um de seus principais engenheiros de estruturas. Reconhecido internacionalmente, Bruno Contarini deixa um legado relevante de obras para a engenharia civil. A principal delas, como ele mesmo reconheceu em podcast concedido em 2011 à Cia. de Cimento Itambé, é a Ponte Rio-Niterói. “A Rio-Niterói foi o meu projeto mais relevante. Na época, era a maior do mundo. Não é todo dia que se projeta a maior ponte do mundo”, diz.
Contarini cita a série de inovações implementadas na engenharia com a construção da Rio-Niterói. “Foi a primeira do mundo a utilizar a injeção de concreto submerso nas fundações. Essa tecnologia nunca havia sido usada em grandes obras de infraestrutura na época”, recorda. O volume de concreto submerso empregado na construção da ponte foi da ordem de 150 mil m³. “A obra também foi inovadora no uso de sistemas de perfuração de rocha para fazer as fundações”, completa.
O engenheiro cita ainda que os ensaios de concreto também deram um salto de qualidade por causa das obras da Rio-Niterói. O motivo é que a equipe de engenheiros de estruturas coordenada por Bruno Contarini precisa encontrar um concreto que resistisse à agressividade das águas da Baía de Guanabara. Optou-se pelo concreto protendido. “A água da Baía de Guanabara é altamente agressiva ao concreto, por causa do enxofre em sua composição”, revela no podcast.
Contarini destacava-se por defender a qualidade da engenharia brasileira
No total, o volume de concreto utilizado na ponte passa de 1 milhão de m³. Foram 950 mil m³ de concreto protendido e 150 mil m³ de concreto submerso. Perguntado se, em pleno século 21, ele teria projetado uma ponte diferente daquela inaugurada em 4 de março de 1974, Contarini disse que não. “Incluiria novas tecnologias, mas manteria o projeto intacto”, afirma. Em 2024, a Ponte Rio-Niterói completa 50 anos. Apesar de não ser mais a maior do mundo, segue reconhecida como um dos ícones da engenharia global.
Na opinião de Bruno Contarini, a Rio-Niterói, a hidrelétrica Itaipu e a construção de Brasília são as grandes contribuições do Brasil para a engenharia civil mundial. No podcast, o engenheiro de estruturas exalta a qualidade dos brasileiros que atuam projetando e tocando obras no país. “Confio muito no engenheiro civil brasileiro, no encarregado brasileiro e no peão brasileiro. Na Ponte Rio-Niterói, havia 10 mil operários e 130 engenheiros civis. Tudo funcionou perfeitamente”, ressalta.
Bruno Contarini morreu aos 88 anos. O engenheiro esteve presente também na equipe que projetou e construiu Brasília, além de assinar o projeto estrutural do Museu de Arte Contemporânea de Niterói – outra obra em que atuou em parceria com Oscar Niemeyer -, da Cidade da Música do Rio de Janeiro e do estádio olímpico Nilton Santos, conhecido como “Engenhão”. Contarini formou-se engenheiro civil em 1956, na Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil (atual Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Entrevistado
Reportagem com base em podcast e série de reportagens publicadas pelo Massa Cinzenta, da Cia. de Cimento Itambé, com o engenheiro civil Bruno Contarini.
Jornalista responsável:
Altair Santos MTB 2330