Laudo sobre desabamento de sacadas em prédio de Belém ainda não foi concluído

Polícia Civil aguarda resultado da perícia; engenheiro Paulo Helene explica possíveis causas
22 de junho de 2023

Laudo sobre desabamento de sacadas em prédio de Belém ainda não foi concluído

Laudo sobre desabamento de sacadas em prédio de Belém ainda não foi concluído 1024 683 Cimento Itambé
Sacadas de 13 andares desabaram em prédio de Belém.
Crédito: Polícia Científica do Pará/Reprodução

No dia 13 de maio, foi registrado o desabamento de 13 sacadas do edifício residencial Cristo Rei, no bairro da Cremação, em Belém. Não houve feridos. O trabalho pericial foi realizado por peritos criminais no Núcleo de Engenharia Aplicada (NEA), da Polícia Científica do Pará (Pcepa), mas o laudo ainda não foi concluído. 

A Polícia Civil do Pará informou “que o caso segue em investigação por meio da Seccional da Cremação” e que “a planta do imóvel foi recebida e encaminhada para a Polícia Científica”. A nota termina dizendo que a Polícia aguarda o resultado da perícia para complementar as averiguações.

Na ocasião do desabamento, equipes dos Bombeiros e da Polícia Científica disseram que a suspeita inicial era de que uma infiltração possa ter contribuído para a queda – e também de que o prédio, construído na década de 1980, não tenha passado por manutenção com regularidade.

Conversamos com o engenheiro civil Paulo Helene, diretor-presidente do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto), para entender mais sobre o assunto. Ele falou sobre esse “efeito dominó” provocado pela queda das sacadas, sobre as possíveis causas desse tipo de acidente e como evitá-los.

Pela sua experiência, quais podem ter sido as causas para que as 13 sacadas do prédio tenham desabado ao mesmo tempo?

Como ocorreu décadas depois de construído, a principal hipótese é corrosão de armadura na sacada mais alta (cobertura). Caindo uma sobre as outras, todas as demais, abaixo dela, colapsam, pois o peso de uma sacada é muito superior à capacidade dela, que é dimensionada apenas para o peso de pessoas, cerca de 200 a 250 kg por m². O material pesa na ordem de 500 kg por m².

Como agravante, pode ter sido mal construída com armaduras superiores mal posicionadas, mas isto é agravante. O determinante é corrosão localizada das armaduras junto ao apoio, na face superior da laje de engastamento, que se inicia com uma fissura pouco visível que só um especialista descobre e conhece.

Em uma reportagem anterior, falamos sobre como os acidentes antigos são determinantes para que se evite tragédias futuras. Nesse caso, pode-se dizer que foi um acontecimento totalmente evitável?

Polícia aguarda o resultado da perícia.
Crédito: Polícia Científica do Pará/Reprodução

Sim, é um caso clássico e super COMUM. Seria evitado com inspeções prévias de manutenção, como recomendam as normas, a cada 2 a 5 anos.

Quais são os principais aspectos que devem ser levados em conta na construção de sacadas seguras?

Tenho um artigo técnico publicado sobre o tema: projeto adequado e principalmente execução (posicionamento da armadura) correta. Hoje, além de armadura na face superior para resistir aos esforços de momento e cisalhamento [ação de uma força na direção transversal ao seu eixo], recomenda-se armar a face inferior da laje ou viga com armadura suficiente para suportar o peso total da sacada. Assim, caso venha a falhar nas armaduras superiores por corrosão (grande risco usual), as armaduras da face inferior impedem o desabamento da sacada sobre outras sacadas e sobre pessoas. A falha fica isolada

Há muitos casos de queda ou problema com sacadas? É algo que acontece mais do que deveria? 

Há muitos e muitos casos. Recife, Porto Alegre, Salvador, Nova York e Buenos Aires, só para lembrar de cabeça, têm exigências severas das prefeituras locais. Regras duras e inspeções com ART a cada 2 anos! O Síndico e a Administradora podem ser responsabilizados criminalmente caso não cumpram a ABNT NBR 16747 de Inspeção Predial. 

Fontes
Polícia Civil do Pará

Paulo Helene, diretor-presidente do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto)

Jornalista responsável
Fabiana Seragusa 
Vogg Experience

22 de junho de 2023

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