Unisinos, no Rio Grande do Sul, desenvolve tipo de contrapiso leve em concreto para adequar habitações populares à norma de desempenho NBR 15575
Por: Altair Santos
O grande desafio de quem constrói habitações de interesse social no Brasil está em cumprir a Norma Técnica de Desempenho para edificações habitacionais de até cinco pavimentos (ABNT NBR 15575), no que diz respeito ao isolamento acústico da edificação. Atender aos padrões exigidos, sem onerar a obra, é um dilema para os engenheiros. Em busca de uma solução para o impasse, a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul, desenvolve pesquisa para criar um contrapiso leve em concreto que permita o isolamento acústico em edifícios residenciais vinculados ao Programa Minha Casa, Minha Vida.
O objetivo é desenvolver um contrapiso em pré-moldado e fácil de transportar. Segundo o coordenador do projeto, o engenheiro civil e professor Bernardo Fonseca Tutikian, da cadeira de tecnologias construtivas, materiais de construção e patologia da Unisinos, os primeiros resultados têm sido animadores. “O contrapiso leve desenvolvido permite ser colocado por cima da laje de concreto armado e pode servir tanto de acabamento final quanto de base para um outro piso”, explica.
Ainda de acordo com Tutikian, os testes com o contrapiso leve desenvolvido na Unisinos mostram que ele não sobrecarrega a estrutura da laje e atende o que a norma de desempenho preconiza. “Ele isola tanto o ruído aéreo (pessoas falando ou outros tipos de sons) quanto o ruído de impacto (pessoas caminhando ou móveis arrastando)”, diz, garantindo que a preocupação do custo x benefício do material também é relevante na pesquisa. “O objetivo é chegar num material de baixo custo e de fácil utilização no local da obra”, completa.
O contrapiso leve desenvolvido pela Unisinos tem as medidas de 60×60 cm e densidade que varia entre 900 a 1.300 kg m3. Ele utiliza como matéria-prima o concreto leve estrutural, além de receber agregados diferenciados para atingir o nível de isolamento acústico desejado. Segundo Tutikian, entre os agregados que trouxeram melhor resultado estão o E.V.A (emborrachado à base de Etil, Vinil e Acetato) e a pedra-pomes. “Mas estamos testando uma série de agregados leves”, diz.
Com a intenção de que ele seja usado como um piso de acabamento, os pesquisadores também estão trabalhando nele versões pigmentadas e antiderrapantes. “Há também a intenção de se aperfeiçoar o piso para a aplicação dele em áreas comerciais e industriais”, revela Bernardo Tutikian.
Desenvolvida no laboratório de material de construção da Unisinos e no laboratório de acústica da Universidade de Caxias do Sul, a pesquisa envolve cinco docentes da universidade Unisinos, um mestrando, dois laboratoristas e um aluno de graduação. O estudo é financiando pela FAPERGS (Fundação da Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul), em parceria com a Dosacon, uma empresa incubadora tecnológica ligada à Univates-RS (Unidade Integrada Vale do Taquari de Ensino Superior) e criada em 2010 para o desenvolvimento de materiais a base de concreto para a industrialização da construção civil.
Entrevistado
Bernardo Fonseca Tutikian, coordenador do curso de Engenharia Civil da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)
Currículo
– Engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2002
– Mestre e Doutor em engenharia, ambos os títulos obtidos na UFRGS, em 2004 e 2007
– Possui especialização em materiais de construção, especificamente em dosagem de concretos auto-adensáveis (CAA), sendo autor do livro ‘Concreto Auto-adensável’, publicado pela PINI em 2008
– Atualmente é coordenador do curso de Engenharia Civil da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e professor de tecnologias construtivas, materiais de construção e patologia
– Também coordena o curso de especialização em Construção Civil na Unisinos.
– Atua no projeto “Desenvolvimento de Contra Piso Leve em Concreto para Isolamento Acústico em Edificações Residenciais” e coordena o projeto de Infraestrutura Laboratorial, financiado pela FINEP, para a construção e equipagem de um Laboratório de Desempenho.
Contato: bftutikian@unisinos.br
Créditos das fotos: Divulgação/ Unisinos