Fundação Iberê Camargo expõe desafios do concreto branco

21 de janeiro de 2016

Fundação Iberê Camargo expõe desafios do concreto branco

Fundação Iberê Camargo expõe desafios do concreto branco 640 480 Cimento Itambé

Material foi usado nas estruturas do prédio construído em Porto Alegre-RS e teve apoio tecnológico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Por: Altair Santos

Maior obra em concreto branco estrutural do Brasil, a Fundação Iberê Camargo, mesmo tendo sido inaugurada em 2008, em Porto Alegre, não para de ser premiada. O prédio com mais de 9 mil m² de área construída, consumiu 7.500 m³ de concreto branco. Projetado pelo arquiteto português Álvaro Siza Vieira – conhecido por suas obras em concreto branco -, a edificação impôs vários desafios ao longo de sua construção. Entre eles, atingir a resistência de 60 MPa e o controle da trabalhabilidade do material. Para isso, foi preciso contar com o apoio tecnológico do Laboratório de Ensaios e Modelos Estruturais (LEME) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Prédio que abriga acervo de artista plástico consumiu 7.500 m³ de concreto branco

Prédio que abriga acervo de artista plástico consumiu 7.500 m³ de concreto branco

Um dos aspectos críticos dizia respeito à mistura dos agregados, que poderia provocar manchas no concreto. Por isso, os pesquisadores da UFRGS optaram por utilizar apenas rochas calcárias como agregados graúdos e miúdos. Testes prévios à concretagem detectaram, no entanto, que a escolha implicaria uma massa de difícil trabalhabilidade inicial, sobretudo sob temperaturas acima de 35 °C. A solução foi utilizar um aditivo retardador de pega, associado a um plano de vibração do concreto branco para evitar a ascensão de nata, que causaria manchas na superfície aparente. Para viabilizar a produção de um material tão especial, e com controle tecnológico extremamente rigoroso, a solução foi produzir o concreto na obra.

Formas e cura

Outro desafio foi projetar formas que recebessem o concreto branco sem gerar manchas. Na época da construção do prédio, o atual diretor da escola de engenharia da UFRGS, Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, escreveu um documento sobre a solução encontrada. “Em primeiro lugar, testou-se o compensado plastificado, com e sem desmoldante. Em ambos os casos, verificou-se a ocorrência de instâncias de manchamento superficial. Decidiu-se, então, utilizar um sistema com emprego de fórmica, sem desmoldante. Foram testadas fórmicas lisas e foscas. A textura mais adequada foi a proporcionada pela fórmica fosca. Para fixar a fórmica, foram descartados parafusos e tarugos de madeira e utilizada fórmica branca com fixação por colagem, o que gerou bons resultados”, relatou.

Para que o concreto branco não ficasse manchado foram usadas formas com fórmica e fixação sem parafusos ou tarugos

Para que o concreto branco não ficasse manchado foram usadas formas com fórmica e fixação sem parafusos ou tarugos

No documento descritivo da obra, o arquiteto Álvaro Siza Vieira lembra que outro desafio esteve relacionado com a cura do concreto. “Um detalhe importante, que não pode ser esquecido, é a questão da cura úmida, pois o concreto branco tem, entre suas características, a alta pega inicial, o que gera temperaturas altíssimas. Esse fato demandou que aplicássemos sistema de irrigação durante dez dias ininterruptos. Tal solução foi fundamental para eliminar fissuras geradas pela perda de água na cura

do concreto com alto desempenho e resistência (500 kgf/cm2), três vezes superior ao convencional”, detalhou, resumindo o projeto: “A obra demandou doze meses de profundo empenho, mas aquilo que parecia muito difícil, a princípio, foi erguido com resultado superior às expectativas iniciais.”

Saiba mais sobre a construção do Museu Iberê Camargo
http://www.copex.com.br/site/arquivo/leme_30anos_luizcarlos.pdf
http://upcommons.upc.edu/bitstream/handle/2099/13191/Palimpsesto%2003%203%20Jose%CC%81%20Luiz%20Canal.pdf

 

Parte interna do Museu Iberê Camargo: cura do concreto exigiu irrigação durante 10 dias ninterruptamente

Parte interna do Museu Iberê Camargo: cura do concreto exigiu irrigação durante 10 dias ninterruptamente

Entrevistados
Engenheiro civil Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, diretor da escola de engenharia da UFRGS (a partir do documento O uso do concreto branco estrutural no Museu Iberê Camargo)
Arquiteto Álvaro Siza Vieira (a partir do documento descritivo da obra)
Contatos:
lcarlos@ppgec.ufrgs.br
geral@sizavieira.pt
www.sizavieira.pt

Créditos fotos: Fundação Iberê Camargo/Grazielle Bruscato

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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