Borracha substitui areia, mas estrutura consegue preservar resistência com a adição de mais cimento na mistura
Por: Altair Santos
Pesquisa desenvolvida na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp conseguiu tornar realidade a incorporação de resíduos de borracha proveniente da recauchutagem de pneus, substituindo parcialmente a areia. O estudo permite que o agregado seja usado em estacas escavadas e moldadas in loco, para obras do tipo residência de pequeno e médio porte (até dois pavimentos). Para compensar a perda de resistência do concreto, por causa da substituição da areia por partículas de resíduos de pneus como agregado miúdo, é aumentada a adição de cimento à mistura.

Resíduos de pneus substituem 10% da areia na composição de agregados e, com mais cimento, mantêm as mesmas propriedades do concreto convencional
A pesquisa tornou-se realidade a partir da dissertação do engenheiro civil Valério Henrique França, com a orientação do professor Newton de Oliveira Pinto Júnior. O conceito inicial da pesquisa não tinha como objetivo produzir estacas escavadas, mas sim testar a aderência entre o aço e o concreto, preparado a partir da substituição parcial da areia por resíduo de borracha proveniente da recauchutagem de pneus. O rumo do estudo começou a mudar quando foram realizadas as pesquisas de campo. Foram moldadas três estacas em concreto convencional e outras três em concreto com resíduos de borracha. Os dois tipos de estacas revelaram comportamentos muito similares quanto à deformação e ao recalque.
Todas as estruturas moldadas tinham seis metros de profundidade e 30 centímetros de diâmetro. Elas foram submetidas a ensaios de carga sob pressão de até 25 toneladas. As estacas em que 10% da areia foram substituídas por resíduos de borracha se comportaram nos testes de resistência igual às estacas convencionais. Vale lembrar que a mistura também recebeu a mesma proporção a mais de cimento, ou seja, 10%. “Os testes comprovam que o aproveitamento de resíduos de borracha em estacas escavadas in loco é totalmente viável do ponto de vista técnico”, diz Valério Henrique França.
Trinta anos de pesquisa
A dissertação começou em 2003, na Faculdade de Engenharia do Campus de Ilha Solteira – unidade que integra a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Na Unicamp, junto com o professor Newton de Oliveira Pinto Junior, Valério Henrique França, que hoje também é professor na Universidade Paulista (UNIP), vem desenvolvendo sua pesquisa para chegar ao mercado. Embora o processo ainda dependa de um estudo de viabilidade econômica, o pesquisador considera que o maior lucro advém do ganho ambiental.
A Unicamp alerta que pesquisas sobre a incorporação de resíduos de borracha de pneus em concreto têm sido realizadas há mais de 30 anos. Porém, o uso efetivo em estacas, particularmente em estacas moldadas in loco, não possui registro na literatura técnica e científica. Outra motivação para o estudo é que o Brasil fabrica anualmente 68 milhões de pneus, além de ser o segundo país do mundo em recauchutagem de compostos de borracha. Tal processo libera grande volume de resíduos e que, em aterros sanitários, levam até 240 anos para completar o ciclo de degradação.
Entrevistado
– Newton de Oliveira Pinto Júnior, professor-doutor do departamento de estruturas da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp (via assessoria de imprensa da Unicamp)
– Engenheiro civil Valério Henrique França, doutorando pela Unicamp, professor da Universidade Paulista (UNIP- Campus Araçatuba-SP) e gerente da construtora Andrade Galvão Engenharia Ltda. (via assessoria de imprensa da Unicamp)
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