Construção industrializada chega às paredes-diafragma

20 de maio de 2015

Construção industrializada chega às paredes-diafragma

Construção industrializada chega às paredes-diafragma 599 335 Cimento Itambé

Estruturas pré-moldadas têm melhor controle de qualidade e estanqueidade mais eficiente do que as produzidas in loco, tradicionalmente usadas no Brasil

Por: Altair Santos

A escassez de terrenos, combinada com projetos de edifícios cada vez mais altos, tem aumentado a presença de paredes-diafragma em canteiros de obras. Elas são fundamentais para permitir escavações profundas e para conter deslizamentos que possam vir a prejudicar não só o empreendimento em construção, como prédios no entorno – em se tratando de obra em áreas urbanas.

O avanço tecnológico da construção industrializada trouxe mais agilidade ao processo de instalação das paredes-diafragma. Também agregou maior qualidade ao sistema, melhorando a segurança, o controle e reduzindo o emprego de mão de obra. Essa evolução, e outros benefícios acrescentados pelas paredes-diafragma pré-fabricadas, são analisadas pelo engenheiro civil, e especialista no tema, Luiz Antônio Naresi Júnior. Confira a entrevista a seguir:

Peças pré-fabricadas para paredes-diafragma: entre as vantagens, imprimem ritmo mais rápido ao cronograma da obra.

Peças pré-fabricadas para paredes-diafragma: entre as vantagens, imprimem ritmo mais rápido ao cronograma da obra.

Quais as vantagens de se usar paredes-diafragma pré-fabricadas em vez de paredes-diafragma construídas no local da obra?
A técnica de paredes-diafragma tem passado por constantes inovações. A mais importante atualmente refere-se à utilização de painéis pré-moldados de concreto armado ou protendido. O painel pré-moldado pode ter um recobrimento menor – normalmente 3 centímetros – e concreto com fck (resistência) superior a 25 MPa. A parede pré-moldada tem um controle de qualidade mais fácil de ser executado, pois é feita antes da introdução na escavação. Desta forma, a resistência estrutural é substancialmente superior a da moldada no local, que, por outro lado, tem um controle de qualidade e tecnológico mais difícil de ser acompanhado e demanda uma equipe maior para esta finalidade, principalmente junto à fiscalização. Além disso, a parede pré-moldada gera baixa perda de concreto, enquanto a moldada in loco tem muita perda, principalmente nas escavações onde existe solo de baixa resistência ou solo mole.

Fora do país, esta tecnologia parece ser bastante utilizada. E no Brasil?
A tecnologia de execução de parede-diafragma pré-moldada é utilizada em todo o mundo, porém no Brasil, apesar de termos uma defasagem de poucos anos em relação aos países desenvolvidos, onde esta técnica surgiu, estamos bem atualizados. Há, inclusive, empresas que possuem equipamentos modernos de fundação para esta finalidade. Porém, a complexidade para a execução de obras deste tipo é muito grande. Não são obras usuais e têm alto custo executivo. A geologia do terreno, o estudo de riscos e os custos com elaboração de cronogramas de obra é que influenciam na escolha desta técnica de execução. Escavações profundas, cortes verticais e aterros de grandes dimensões são cada vez mais importantes para a implantação de empreendimentos, especialmente em áreas urbanas, onde há escassez de terrenos para construir. Isso torna a etapa de execução de paredes-diafragma pré-moldadas uma das mais críticas durante a execução da obra. Vale lembrar que, em função dos riscos que a movimentação de terra envolve, erros de dimensionamento, de projeto e de execução podem ser fatais, em função da grandeza de equipamentos e guindastes envolvidos na obra.

Luiz Antonio Naresi Junior: projetos para paredes-diafragma exigem profissionais especialistas, como engenheiros de fundações e contenções.

Luiz Antonio Naresi Junior: projetos para paredes-diafragma exigem profissionais especialistas, como engenheiros de fundações e contenções.

Ao se optar pela construção de paredes-diafragma deve se levar em conta quais fatores?
É necessário fazer as seguintes análises: 1) Local e acesso à obra; 2) Resultados de ensaios de laboratórios de solos e rochas e interpretação do perfil geológico e geotécnico do terreno por meio de sondagens rotativas; 3) Tipo e tamanho dos terrenos e espaço físico da obra; 4) Estudo do fator de segurança e da estabilidade global da escavação subterrânea; 5) Fator de risco da segurança contra o colapso ou deslizamento sobre outras estruturas, com risco ao usuário final, seja em edificações, rodovias ou ferrovias; 6) Fator técnico-financeiro, estudo de viabilidade da parede diafragma pré-moldada, e 7) Impactos ambientais e de segurança do trabalho.

Com relação à evolução dos equipamentos e produtos, construir paredes-diafragma ficou menos perigoso?
Nos anos recentes, em resposta ao surgimento de projetos mais complexos e cronogramas mais enxutos, o segmento de execução de paredes diafragmas pré-moldadas evoluiu. Essa metodologia deu um salto com o avanço de maquinários como as hidrofresas, aposentando gradativamente o clam shell mecânico – convencionalmente utilizado no Brasil desde os anos 1960-1990. Assim, sem comprometer a segurança e a velocidade, e com relativa redução de ruído, aumentou- se a capacidade e a profundidade das escavações, incluindo a adoção de paredes mais espessas. A substituição da lama bentonítica por polímeros biodegradáveis, como fluídos estabilizantes, tem se firmado como tendência. Diferentemente da lama (coulis), os polímeros, por serem biodegradáveis, podem ser descartados em qualquer bota-fora ou até em galerias de águas pluviais, desde que não contenham sólidos em suspensão. As empresas também vêm investindo em tecnologias para diminuição do volume de bentonita e de resíduos gerados nas obras. A própria bentonita já pode ser tratada com uso de centrifugação, de sistema filtro prensa ou ainda tratamento químico.

Paredes-diafragma pré-fabricadas são usadas também para canalizar rios e córregos que cortam trechos urbanos.

Paredes-diafragma pré-fabricadas são usadas também para canalizar rios e córregos que cortam trechos urbanos.

A logística para o transporte das peças pré-fabricadas é um empecilho para seu uso ou normalmente as peças são moldadas no local da obra?
Geralmente as peças são montadas em locais de grande extensão e não nas obras. O grande inconveniente é o transporte em carretas, o que exige horários alternativos, normalmente os noturnos, e com apoio da polícia de trânsito. No canteiro de obras, elas devem ser movimentadas por meio de grandes guindastes. Recomenda-se sempre fazer um check-list para receber as paredes pré-moldadas:

• Avalie a experiência da empresa prestadora de serviços, a qualidade dos equipamentos e a especialização da equipe de transportes e da empresa especializada na aplicação das paredes pré-moldadas.
• Ofereça informações completas à contratada, quanto aos problemas que podem existir no terreno, como fundações antigas que podem atrapalhar o bom andamento da perfuração da lamela para aplicação da parede pré-moldada.
• Verifique se existe alguma restrição ao tráfego de caminhões ao programar a chegada e saída dos equipamentos e de caminhões de terra, que retiram o material proveniente das escavações da lamela.
• Prepare o canteiro de obras para receber as máquinas de grande porte e as carretas com as estacas pré-moldadas. Verifique se o terreno suporta equipamentos pesados, impedindo que os mesmos atolem ou afundem. Garanta o suporte de trabalho com cascalho ou bica corrida.
• Controle o andamento da obra verificando os boletins dos painéis diariamente.

Em comparação com o método tradicional de construir paredes-diafragmas, a pré-fabricada é mais rápida, mas também mais cara?
Sem dúvida, as paredes-diafragma pré-fabricadas agilizam o processo e evitam a existência de problemas comuns de ocorrer na concretagem submersa de paredes moldadas in loco, como falta de concreto, quebra de guindaste, falta de lama bentonita, quebra da tremonha, desarenação (remoção de areia e de outros detritos sólidos minerais), dificuldades com vazamento da lama, entre outros. Mas nem por isso ela é mais barata, pois depende de um controle de qualidade e logística mais apurado, o que a torna mais cara que a parede convencional.

Em termos de envolvimento de mão de obra, a parede-diafragma requer número menor de operários no canteiro?
Em função do processo ser basicamente mecanizado, a mão de obra é bem reduzida se comparada à execução da forma tradicional. No caso das paredes-diafragma pré-moldadas, a equipe mínima exigida é a seguinte: um engenheiro, um encarregado, um operador de diafragmadora, um operador de guindaste auxiliar e sete ajudantes. As atribuições de cada um são as seguintes:

Engenheiro
– Responder, junto com o encarregado, pelo planejamento e implantação da obra
– Analisar, junto com o encarregado, as condições de vizinhança
– Analisar, junto com o encarregado, o perfil de sondagens
– Discutir com o encarregado as condições contratuais e as responsabilidades de ambas as partes
– Analisar, junto com o cliente e outros empreiteiros, as interfaces dos serviços
– Estabelecer, junto com o encarregado, a sequência executiva e o cronograma da obra
– Supervisionar o andamento dos serviços
– Analisar os boletins de execução da parede-diafragma
– Manter contato com os projetistas, clientes e gerenciadores
– Verificar o limite do terreno para execução da mureta guia
– Conferir a armação dos painéis
– Conferir as medições dos empreiteiros
– Calcular o volume do concreto para os painéis
– Verificar os resultados tecnológicos do aço e concreto

Encarregado
– Responder, junto com o engenheiro, pelo planejamento e implantação da obra
– Estabelecer, junto com o engenheiro, o layout do canteiro, compreendendo disposição dos equipamentos, montagem da central de lama, pátio de armação, escritório da obra, sequência executiva dos painéis e verificar as condições e manutenções operacionais do canteiro
– Verificar a qualidade da mureta guia
– Receber e conferir os equipamentos, ferramentas e acessórios
– Acompanhar, orientar e supervisionar a execução de todos os procedimentos para a execução de paredes-diafragma
– Transmitir instruções aos subordinados quanto à segurança durante a execução dos serviços, os locais que a equipe pode ou não ter acesso
– Verificar se está livre o caminho do caminhão betoneira até o painel que vai ser concretado
– Participar da amostragem do concreto e da determinação do slump test
– Verificar a cota de arrasamento do concreto
– Preencher os boletins de execução e controle
– Registrar e relatar ao engenheiro qualquer anomalia

Operador de diafragmadora
– Operar a diafragmadora
– Responder pela sua conservação
– Manter a diafragmadora limpa e lubrificada
– Informar a manutenção dos serviços necessários e programar com o encarregado quando fazê-la
– Responder pelo livro do equipamento e sua atualização

Operador de guindaste auxiliar
– Operar o guindaste auxiliar
– Responder pela sua conservação
– Manter a diafragmadora limpa e lubrificada
– Informar a manutenção dos serviços necessários e programar com o encarregado quando fazê-la
– Responder pelo livro do equipamento e sua atualização

Ajudantes
– Escavação
– Acompanhar a escavação dos painéis
– Verificar o prumo da ferramenta da escavação
– Orientar o operador da diafragmadora
– Comandar o fluxo de lama bentonítica para o interior da escavação mantendo o nível da mesma sempre nos limites da mureta guia
– Medir a profundidade do painel sempre que necessário
– Retirar amostra da lama bentonítica sempre que necessário
– Instalação das armaduras, juntas e chapas-espelho
– Orientar o operador do guindaste auxiliar, durante o içamento e colocação das armaduras, juntas e chapas espelho
– Participar das operações de fixação das armaduras à mureta guia e orientar os ajudantes
– Responder pelo untamento com graxa das juntas e chapas espelho
– Preparo da lama bentonítica e tratamento da lama bentonítica antes da concretagem
– Orientar e participar do preparo da lama bentonítica (dosagem e tempo de mistura)
– Retirar amostra para ensaio
– Realizar os ensaios da lama bentonítica
– Participar e orientar a operação de desarenação, como conexão das bombas da lama, conexão dos desarenadores e operação dos registros dos tanques de lama
– Concretagem
– Participar e orientar a montagem e desmontagem do tubo tremonha
– Comandar o fluxo de concreto para o interior do painel
– Medir a profundidade da superfície de concreto durante a concretagem
– Responder pela limpeza do funil e tubos tremonha após a concretagem
– Retirada das juntas e chapas espelho
– Orientar o operador do guindaste auxiliar na retirada das juntas e chapas espelhos
– Responder pela limpeza das juntas e chapas espelho

Qual a importância, para a estrutura da obra e o bom desenvolvimento de todo o projeto, que uma parede-diafragma seja bem construída?
A importância é vital para o sucesso do empreendimento. Observe. Vazamentos são problemas recorrentes em parede-diafragma. Se houver defeito nas juntas entre os painéis, pode acontecer de vazar água e outros materiais do terreno para dentro do subsolo escavado, o que pode criar um vazio no solo do edifício vizinho e até comprometer suas fundações. Outro problema acontece quando o painel desvia para dentro da obra, causando perda de área. Quando os painéis ficam com armadura exposta também é preciso consertar. Enfim, paredes-diafragma bem construídas estão diretamente ligadas ao sucesso da obra.

Existem engenheiros e projetistas especializados em construir paredes-diafragma? Como é essa especialização?
São os engenheiros de fundações e contenções. Este profissional é especializado em solos e baseia suas atividades em rigoroso trabalho de investigação de subsolos, através da realização de sondagens geológico-geotécnicas. Ele tem que saber trabalhar com as diversas condições impostas pela natureza, incluindo-as em cálculos estruturais e comportamento de estabilidade de taludes, entre outras especializações da engenharia geotécnica. Esse setor de engenheiros e projetistas especializados só expande quando o país cresce. Ela é desenvolvida através da especialização na área da engenharia geotécnica, através de mestrados e pós-graduações. O profissional que atua em obras de contenções e fundações agrega conhecimentos das áreas de mecânica dos solos, civil, estrutura e geotecnia. Apesar de as faculdades de engenharia abordarem de forma bastante eficiente os temas teóricos, no meio acadêmico o aluno tem acesso apenas a uma parte do que é necessário à formação de um bom engenheiro de fundações. Quando se fala em geotecnia, a vivência, prática em campo e o currículo em obras contam muito. O engenheiro de fundações e contenções interage em seu dia a dia com várias disciplinas, tais como estrutura, arquitetura, planejamento, geologia aplicada a engenharia, orçamento e custos e, até mesmo, com a área de instalações enterradas. O trabalho normalmente é realizado em meio período no escritório e a outra metade em campo. Por isso, a jornada de trabalho que, em princípio, é de até nove horas, pode se transformar em 12 horas. Em alguns casos, é necessário residir no local da construção atuando inclusive como fiscal, principalmente nos períodos de pico e no começo das obras, quando existe a necessidade de passar o projeto à equipe de execução contratada da obra.

Entrevistado
Engenheiro civil Luiz Antônio Naresi Júnior, especialista em engenharia geotécnica, fundação pesada, contenção de encostas, obras de artes especiais, infraestrutura ferroviária e rodoviária. Com 25 anos de experiência, atua na empresa PROGEO Engenharia Ltda. É um dos autores do livro Parede Diafragma Moldada “In Loco” com auxílio de Lama bentonítica

Contato
naresi@naresi.com
www.naresi.com

Créditos fotos: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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