Construção civil será protagonista na Rio+20

17 de abril de 2012

Construção civil será protagonista na Rio+20

Construção civil será protagonista na Rio+20 150 150 Cimento Itambé

Conferência da ONU, que acontece em junho, servirá para que setor mostre avanços ecoeficientes, principalmente em sua indústria cimenteira

Por: Altair Santos

Em junho, na cidade do Rio de Janeiro, acontece a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – a Rio+20. A construção civil estará no centro dos debates. No caso do Brasil, o setor terá bons exemplos a mostrar. A indústria cimenteira nacional, considerada a mais ecoeficiente do planeta, levará à Rio+20, junto com outros organismos como a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), o projeto Construção Sustentável. Ele engloba um conjunto de ações do setor para racionalizar a construção e diminuir perdas.

Mario Willian Esper: da Eco92 à Rio+20, indústria cimenteira nacional tornou sua produção sustentável.

O processo de elaboração do projeto já dura 3 anos e tem o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Internacional do Trabalho (OIT) e de bancos multilaterais.  A Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) também integra a elaboração do plano, como revela o gerente de relações institucionais da ABCP, Mario William Esper, na entrevista a seguir:

Em junho, ocorre a Rio+20. O que a indústria cimenteira nacional irá apresentar no evento, haja vista que ela é considerada a mais ecoeficiente do planeta, em comparação a outros países?
Será destacado, entre os avanços tecnológicos que se refletem na preservação ambiental, o papel fundamental da indústria de cimento na destinação final de resíduos industriais, que, até pouco tempo, iam para os aterros industriais e são hoje coprocessados em fornos de cimento. O parque industrial nacional de produção de cimento se caracteriza pelo avanço tecnológico, merecendo destaque, inclusive, se comparado aos melhores do mundo. O impulso para esses avanços veio da automação do processo e da busca constante pela redução do consumo de energia térmica e elétrica. Hoje, incluímos nos processos produtivos vários tipos de resíduos como matéria-prima ou combustível alternativo, eliminando, assim, o contraditório ambiental gerado por uma produção industrial em franca e bem vinda ascensão.

Como estão hoje os indicadores de sustentabilidade de produção de cimento no Brasil?
É preciso dividir essa resposta em quatro partes:

Energia
No Brasil, a indústria do cimento possui um parque industrial moderno e eficiente, com instalações que operam com baixo consumo energético. Praticamente todo o cimento no país é produzido por via seca, processo industrial que garante a diminuição do uso de combustíveis em até 50% em relação a outros processos. Os fornos via seca, no Brasil, são responsáveis por 99% da produção de cimento, enquanto, em escala mundial, esses fornos, de acordo com dados do CSI, representaram somente 81% em 2009. Como resultado dessa modernização tecnológica, estudo elaborado pela IEA (International Energy Agency) analisando o potencial de redução de consumo energético dos principais países produtores de cimento, identificou o Brasil como tendo um dos menores potenciais de redução, considerando as melhores tecnologias existentes.

Água
Na produção de cimento, a água é utilizada nas torres de arrefecimento e injeção nos moinhos para resfriamento do material, representando um consumo de 100 litros por tonelada de cimento. A água empregada para resfriamento dos gases é absorvida no processo e liberada na forma de vapor, sem nenhum contaminante. Já aquela utilizada para resfriar equipamentos, passa por separadores de óleo e é reaproveitada. A água consumida na maioria das fábricas é praticamente 100% recirculada, não havendo, portanto, a geração de efluentes líquidos industriais.

Coprocessamento
Em fornos devidamente licenciados para essa finalidade, são utilizados resíduos sólidos industriais e urbanos como substitutos de materiais combustíveis ou matérias-primas, no processo de produção. Atualmente, existem no país 37 plantas licenciadas para realizar o coprocessamento. A indústria de cimento coprocessa cerca de 1 milhão de toneladas por ano. No período de 1991 a 2010, foram coprocessados 7 milhões de toneladas de resíduos. A expectativa é de que esse volume caia, em breve, para 2,5 milhões de tonelada por ano. Somente em 2010, estima-se, foram coprocessadas 183 mil toneladas de pneus usados, o equivalente a 36 milhões de pneus que, enfileirados, iriam do Rio de Janeiro a Tóquio. No período de 2003 a 2008, foram coprocessados aproximadamente 1 milhão toneladas de pneus, equivalente a 210 milhões de pneus usados.

Emissão de CO²
A indústria do cimento no Brasil possui um parque industrial moderno e eficiente, com unidades que operam com baixo consumo de combustíveis e, consequentemente, uma menor emissão de CO², quando comparada a outros países. A crescente utilização, desde longa data, de adições ao cimento, no Brasil, tem representado uma das mais eficazes medidas de controle e redução das emissões de CO² da indústria. Levantamento da CSI (Cement Sustainability Initiative) coloca o Brasil como referência internacional na busca por cimentos com menor emissão. O Brasil também é o país que mais utiliza biomassa (considerada carbono neutra) na produção de cimento, também conforme levantamento do CSI, com cerca de 9% de participação na sua matriz energética.

Para a Rio+20, organismos ligados à construção civil elaboram o projeto Construção Sustentável, que engloba um conjunto de ações do setor para racionalizar a construção e diminuir perdas. A ABCP participa deste projeto?
Sim, a ABCP participa do projeto como representante da indústria cimenteira brasileira.

Quais propostas a ABCP pretende acrescentar no projeto Construção Sustentável a ser apresentado na Rio+20?
A ABCP apresentará ações desenvolvidas pela indústria cimenteira e os desafios de tornar o setor cada vez mais sustentável.

Antes da Rio+20, deverá ocorrer um pré-evento denominado “Setor Industrial e a Rio+20″. Já se sabe quais linhas serão abordadas no encontro?
Serão abordados cases do setor que podem ser tomados como exemplo de ecoeficiência, seja na diminuição do consumo de energia e da emissão de CO², seja na destinação correta dos resíduos industriais por meio do coprocessamento. Serão abordadas as iniciativas da indústria como um todo, que têm o objetivo de contribuir com o crescimento do país de forma sustentável.

A tendência é que a construção civil esteja no centro dos debates da Rio+20?
Sim, pois o aumento da demanda deste setor, devido à realização dos megaeventos esportivos mais importantes do mundo e ao avanço dos programas do governo federal – Minha Casa, Minha Vida e obras do PAC, além do advento do bicentenário da independência do Brasil, que será comemorado em 2022 -, gera a necessidade de uma produção que atenda esse crescimento e os investimentos necessários em infraestrutura. Portanto, a construção civil deve ser uma pauta bastante discutida durante o evento.

É possível que a partir da Rio+20 se fortaleça a ideia de que é preciso industrializar a construção civil, principalmente no Brasil?
A tendência de se pensar em sistemas construtivos industrializados já vem se desenvolvendo há algum tempo. Exemplo disso são as obras do PAC, que impulsionaram o Brasil a desenvolver e a criar a consciência da necessidade de se pensar processos produtivos que deem conta da escassez de mão de obra e da necessidade de rapidez na execução das obras.

Há gargalos no país que impedem processos mais sustentáveis na construção civil? Caso sim, quais são eles?
Sim, exemplo disso é que o governo federal lançou em 3 de abril a segunda etapa do programa Brasil Maior. Trata-se de um conjunto de medidas de incentivo à indústria nacional. No caso da construção civil, o objetivo do programa é tornar o setor mais competitivo, visando minimizar os gargalos do setor, como: capacitação da mão de obra, burocracia cartorária, inovação tecnológica, gestão da tecnologia da informação, normalização e padronização de materiais e adoção de sistemas construtivos industrializados entre outros.

Da Eco92 à Rio+20, quais evoluções são as mais evidentes, em termos de sustentabilidade, na construção civil brasileira?
Há 20 anos, as ações da indústria cimenteira brasileira, visando a ecoeficiência, estavam no estágio inicial. Hoje, as iniciativas estão consolidadas e garantem uma produção sustentável. No que diz respeito à indústria de cimento, houve uma evolução muito grande tanto na diminuição das emissões de CO² quanto na utilização do coprocessamento para eliminar resíduos industriais e passivos ambientais. Já no que diz respeito à construção civil a ao desenvolvimento de sistemas construtivos e produtos sustentáveis, a ABCP busca competitividade, sem tirar o foco da construção sustentável. Exemplo disso é que a ABCP tem desenvolvido soluções como os pavimentos permeáveis, que permitem a infiltração de água na sua estrutura e funcionam como um sistema de drenagem sustentável. Desta forma, a ABCP contribui para a sustentabilidade da construção civil ajudando a desenvolver sistemas construtivos que sejam mais competitivos, gerem menos entulho e causem menos danos ao meio ambiente.

A correta destinação de resíduos sólidos da construção deverá ter uma atenção especial na Rio+20?
Sim, a iniciativa impacta na sustentabilidade da construção civil e de diversos outros setores da economia. A gestão de resíduos sólidos terá grande destaque durante o evento, seja no campo da inovação e da gestão, seja no desenvolvimento da consciência da sociedade em relação ao tema.

Entrevistado
Mario William Esper, gerente de relações institucionais da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)
Currículo

– Possui graduação e mestrado em engenharia civil pela Poli-USP
– Construiu carreira sólida ao longo de 38 anos de atividade no setor
– Atua na Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) desde 1974
– Atualmente é responsável pela área de relações institucionais da ABCP e integrante de diversas entidades ligadas à indústria da construção, como: Departamento da Indústria da Construção e Departamento de Competividade e Tecnologia, ambos da Fiesp
– Além disso, integra o Comitê Brasileiro de Normalização (CBN) e é membro do Conselho Curador do FGTS
Contato: mario.william@abcp.org.br

Créditos foto: Divulgação

Jornalista responsável: Altair Santos – MTB 2330
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