Seminário no 58º Congresso Brasileiro do Concreto do Ibracon abrangeu construções que usam alta tecnologia em seus projetos estruturais
Por: Altair Santos
O 58º Congresso Brasileiro do Concreto do Ibracon, que neste ano aconteceu em Belo Horizonte-MG, de 11 a 14 de outubro, mostrou a importância do concreto para obras emblemáticas que estão em construção no Brasil. Engenheiros e projetistas que atuaram nos empreendimentos contaram os desafios para viabilizar construções como o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, o Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica da Marinha (LABGENE), em Iperó-SP, além do Museu do Amanhã, também no Rio; o Teatro Digital, em São Paulo, e um complexo de edifícios de alta performance, tanto na cidade do Rio de Janeiro quanto na cidade de São Paulo.
Em comum, boa parte das obras utilizou concreto autoadensável. No caso do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, o material foi usado para vencer um problema de taxa de armadura extremamente elevada, que chegava a 500 kg/m³, quando o usual é uma taxa de armadura de 100 kg/m³. Por ser um empreendimento com fachada em concreto aparente, e de frente para o mar, na Praia de Copacabana, era necessário também que o material tivesse resistência a patologias, o que fez com que se tornasse uma das primeiras obras no Brasil a conter elementos autocicatrizantes (que se auto regeneram) em sua estrutura. O prédio de sete pavimentos, no entanto, ainda não foi concluído. As obras iniciaram em 2011 e foram paralisadas por falta de recursos.
Para o centro tecnológico da Marinha, conhecido como LABGENE – ainda em construção -, o concreto autoadensável foi usado para pré-fabricar elementos estruturais de sacrifício (elementos utilizados para estudos). As peças envolverão o reator da turbina do primeiro submarino nuclear brasileiro. Neste tipo de material, a resistência à compressão se aproxima de 100 MPa e o risco de fissura deve ser zero. Por isso, foi usado gelo para diminuir a temperatura inicial de lançamento do concreto. Assim, foi possível reduzir as tensões de origem térmica da peça concretada, de modo a evitar sua elevação a uma intensidade que ultrapassasse o limite da capacidade de resistência e gerasse trincas, fissuras ou rachaduras que comprometessem a integridade estrutural.
Teatro Digital
Uma exceção ao uso do concreto autoadensável foi o material utilizado na construção do Museu do Amanhã. A edificação principal emprega estrutura de concreto armado e protendido para dar forma aos elementos curvos e inclinados da arquitetura, além de funcionar como suporte para a cobertura. Outra característica da obra é o uso de lajes nervuradas com 27 metros de vão e balanços de 15 metros. O projeto estrutural ficou a cargo da Engeti Consultoria e Engenharia. A obra demandou aproximadamente 55 mil toneladas de concreto, que dão sustentação a uma cobertura que pesa 3,8 mil toneladas.
Uma das obras emblemáticas mostradas no 58º Congresso Brasileiro do Concreto do Ibracon, o Teatro Digital teve uma das concretagens mais desafiadoras entre os cases apresentados. A cúpula em formato de concha foi construída com placas de cobre. Por cima desta estrutura esférica foi aplicada uma membrana em concreto de superfície corrugada. O objetivo era dar ao material uma textura semelhante ao das conchas. A solução foi lançar o concreto usando a técnica de jateamento sobre uma armadura de ferro que envolveu as placas de cobre. Em

Conseguir a textura para o concreto, que imitasse a de uma concha, foi o desafio para a concretagem do Teatro Digital
seguida, foi aplicada uma camada protetora para impermeabilizar o concreto, sem prejuízo da textura desejada. O Teatro Digital faz parte do complexo conhecido como Praça Pamplona, que inclui ainda uma torre comercial, um edifício destinado a um centro de pesquisa e a restauração do prédio construído em 1950, e que foi a primeira sede do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Nos edifícios de alta performance, o que os caracteriza como obras emblemáticas é a precisão das estruturas mistas projetadas em BIM, que se encaixam milimetricamente no concreto. No caso das torres do complexo Pátio da Marítima, construído na região do Porto Maravilha, no Rio, foram usados materiais com três tipos diferentes de resistência nas estruturas dos pilares e do núcleo das torres (35, 50 e 80 MPa). Os dois edifícios consumiram 31 mil m³ de concreto. As torres exploraram ao máximo a industrialização na construção civil. Os mesmos conceitos serão usados na Brookfield Towers, em São Paulo, e que ainda estão em fase de projeto.
Entrevistados
Conteúdo com base nas palestras do seminário sobre obras emblemáticas no 58º Congresso Brasileiro do Concreto
Contato
www.ibracon.org.br
- LABGENE, em Iperó-SP: elementos estruturais de sacrifício com a temperatura controlada a gelo
- Museu do Amanhã: 55 mil toneladas de concreto armado e protendido para suportar a cobertura
- Complexo Pátio da Marítima: estruturas mistas e industrialização de todas as etapas
Créditos Fotos: Clarice Castro/GERJ e Divulgação/Marinha do Brasil/ PERI Brasil/ Kruchin Arquitetura/ JKMF