IPT aprimora concreto autoadensável usado em paredes

26 de novembro de 2014

IPT aprimora concreto autoadensável usado em paredes

IPT aprimora concreto autoadensável usado em paredes 1024 768 Cimento Itambé

Material tende a ganhar cada vez mais mercado no Brasil, principalmente se for produzido dentro das especificações recomendadas pela ABNT NBR 15823

Por: Altair Santos

Pesquisadores do Centro de Tecnologia de Obras de Infraestrutura do IPT desenvolveram traço de referência para o concreto autoadensável utilizado em paredes moldadas no local da obra. O material desenvolvido contempla integralmente aos requisitos da ABNT NBR 15823:2010 – Concreto autoadensável – Classificação, controle e aceitação no estado fresco. Para concreteiras e construtoras, é a chance de contar com um material dosado de acordo com suas especificações, e que apresenta ótima trabalhabilidade para aplicação no sistema construtivo de paredes moldadas no local. O projeto esteve a cargo de Alessandra Lorenzetti de Castro e Rafael Francisco Cardoso Santos, ambos do Laboratório de Materiais de Construção Civil do instituto. Na entrevista a seguir, o engenheiro civil Rafael Francisco explica os resultados da pesquisa e no que ela melhora a qualidade do concreto autoadensável aplicado na construção civil brasileira. Confira:

Comparação entre moldes de concreto autoadensável com traço fora da norma (esquerda) e dentro da norma

O que levou o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) a desenvolver um estudo que levasse ao aprimoramento do concreto autoadensável usado em obras residenciais no Brasil?
A indústria brasileira da construção civil experimentou um período de grande demanda por obras no setor habitacional. Esta situação exigiu que as construtoras buscassem formas mais rápidas e eficazes de construir. Tecnologias que permitem a racionalização das obras, com qualidade, durabilidade, segurança estrutural e bom gosto estético ganharam espaço, destacando-se o sistema de paredes de concreto moldadas no local da obra. No entanto, a pesquisa desenvolvida no Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMCC) do CT-Obras/IPT verificou discordância entre o que determina a norma brasileira de concreto autoadensável (ABNT NBR 15823:2010) e as características dos materiais utilizados no mercado da construção. Diante desta problemática, o LMCC vislumbrou a necessidade de desenvolver concretos com propriedades diferenciadas, destinados à execução de paredes de concreto, principalmente aquelas moldadas no local. Assim nasceu o projeto intitulado “Produção e avaliação de concreto autoadensável para aplicação em sistemas construtivos de paredes de concreto moldadas na obra”.

Por que a preocupação específica com o concreto autoadensável moldado no local da obra?
Na indústria de materiais pré-moldados (onde o autoadensável também é utilizado) existe um controle de qualidade significativo. Na obra, diversos fatores interferem nesse controle, o que gera dificuldades em realizar a caracterização prevista na norma do material autoadensável. A capacidade de autoadensabilidade é obtida com o equilíbrio entre a alta fluidez e a moderada viscosidade do material. A alta fluidez é alcançada com a utilização de aditivos superplastificantes, enquanto a moderada viscosidade e a coesão são conseguidas com o incremento de um percentual adequado de material com granulometria muito fina e/ou aditivos modificadores de viscosidade.

Materiais finos empregados na composição do concreto autoadensável desenvolvido no IPT deram características ideais ao material

Como a pesquisa desenvolvida no IPT fez para chegar a um concreto autoadensável com as características especificadas na NBR 15823:2010?
A funcionalidade do trabalho do IPT está em contar com um material que atende às propriedades fundamentais do concreto autoadensável: fluidez, habilidade passante e resistência à segregação. A capacidade de autoadensabilidade é obtida com o equilíbrio entre a alta fluidez e a moderada viscosidade do material. A alta fluidez é alcançada com a utilização de aditivos superplastificantes, enquanto a moderada viscosidade e a coesão são conseguidas com o incremento de um percentual adequado de material, através de granulometria muito fina ou aditivos modificadores de viscosidade. Para a composição do traço, foram utilizados aditivos encontrados no mercado. O grande diferencial é a quantidade e o tipo de materiais finos empregados. No caso do traço do IPT, esses materiais são, em boa parte, resíduos oriundos da britagem de rochas (finos de pedreira). Na pasta de cimento a proporção desses produtos chega a 40%.

A pesquisa do IPT tem reflexo sobre a aplicação do concreto autoadensável em outras estruturas, além da parede moldada no local?
A pesquisa realizada no IPT nos dá condição para desenvolver concretos para as diversas aplicações, além da aplicação em paredes moldadas no local. O concreto autoadensável tem a vantagem de ser facilmente aplicado nos mais diversos tipos de estruturas, visto que o atual prédio mais alto do mundo hoje, o Burj Khalifa, também ostenta o recorde de bombeamento de concreto, chegando a 605 metros de altura. Isso, graças às propriedades específicas do concreto autoadensável desenvolvido para aquela obra.

No Brasil, o uso do concreto autoadensável ainda está restrito a poucas obras ou ele já é bem popular?
O concreto autoadensável está relacionado com o aumento na produtividade, redução de mão de obra e melhoria da qualidade e da segurança do ambiente de trabalho, contribuindo com a tecnologia sustentável do concreto. Por essas e outras razões, esse concreto é cada vez mais empregado como material de construção, tanto nos setores de pré-moldados e pré-fabricados, quanto para aplicações de concreto moldado no local, caso das paredes de concreto. No entanto, no Brasil, a utilização do concreto autoadensável é incipiente, estando muito aquém do seu potencial devido. Principalmente, por causa do desconhecimento dos profissionais da construção brasileira a respeito do material. A grande parte do concreto autoadensável produzido no país é aplicada na indústria de elementos pré-moldados, mas já existem registros de sua aplicação em edifícios residenciais, principalmente em Goiânia e na região sul do país.

É possível construir edifícios com concreto autoadensável aplicado em paredes moldadas no local, até quantos andares?
O sistema pode ser empregado em diferentes tipos de edificações: casas térreas, casas assobradadas, edifícios de até cinco pavimentos-tipo, edifícios de oito pavimentos-tipo com limite para ter apenas esforços de compressão, edifício de até trinta pavimentos e, em casos especiais e específicos, edifícios com mais de trinta pavimentos.

Entrevistado
Engenheiro civil Rafael Francisco Cardoso dos Santos, engenheiro-pesquisador do Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMCC) do Centro de Tecnologia de Obras de Infraestrutura (CT-Obras) do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).
Contato: ctobras@ipt.br

Crédito Foto: Divulgação/IPT

Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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